{Cleópatra Nunes}
Eu ainda estava indignada, como Margareth poderia dizer que eu estou com medo de um carro? Eu não estava. Mentira eu tava sim, mas isso é só um detalhe.
Eu estava pronta para ignorar a pergunta da mais velha, mas foi ai que eu dei um pulo do banco almofadado e super confortável do automóvel, me lembrando de que a mulher ao meu lado, era formada em moda, e eu indo para uma sorveteria de pijama.
- para o carro! - grito, enquanto recebia um olhar de relance confuso da tatuada.
- o que aconteceu? - estaciona o carro de luxo em qualquer lugar, voltando o seu olhar completamente a mim, sua voz cheia de preocupação, o que me arrancou um sorriso de canto.
- não posso ir a sorveteria. - digo.
- porque? Já estamos no meio do caminho. - arqueia as sobrancelhas.
Fico em silêncio por alguns minutos, que pareceram longos anos para meu coração acelerado. A gente já tava no meio do caminho, seria injusto eu pedir para ela voltar, eu devia ter visto isso antes, talvez se eu falasse, ela ficaria brava e eu não quero isso, el...
- rainha? - um arrepio percorreu pelo meu corpo ao ouvir aquela palavra, aquele apelido... Em sua voz soava tão bem, ela diz esse apelido com tanto gosto, que me faz acreditar que eu realmente sou uma rainha.
- ah, nada, pode continuar. - olho pela janela.
Sinto seus dedos em minha pele, acariciando minha bochecha, com delicadeza a espanhola segura meu queixo virando meu rosto para que eu possa a olhar, em seus lábios um sorriso que transmitia paz, que me trazia conforto.
- se não quer ir a sorveteria, podemos ir a outro lugar, ou se quiser, posso te levar para sua casa meu bem. - sua voz era suave. - mas você tem que falar, se não falar não vou conseguir saber o que você quer.
Meu coração foi se acalmando aos poucos com a voz de Sullivan, que não tirou os olhos de mim a nenhum momento, sempre atenta, como se pudesse ler meus pensamentos.
Será que ela é capaz de ler meus pensamentos?
- é que... Estou de pijama, não queria ir assim pra uma sorveteria, ainda mais do seu lado. - engulo em seco, tentando desviar meu olhar, mas aqueles olhos azuis me prendiam.
Sem dizer nenhuma palavra Margareth Sullivan tirou seus dedos de meu queixo, se ajeitou em seu banco, deu partida na SSC Tuatara, e estranho ela dar meia volta.
- o que tá fazendo? - pisco diversas sem entender.
- você tem duas opções. - diminui a velocidade. - vamos para sua casa e você troca de roupa. - balança a cabeça em negação, como se falasse para mim não escolher aquela opção. - ou vamos para a minha casa, eu coloco um pijama também, e vamos juntas tomar sorvete de pijama. - dessa vez, ela balança a cabeça, indicando para que eu aceite essa opção.
Abro a boca várias vezes, mas nenhuma dessas vezes, saiu som, eu estava chocada com as opções dela.
- quem cala consente, então creio que você escolheu a última opção. - diz virando em uma rua.
Estava tentando a imaginar de pijama, no meio de uma sorveteria, ou então dirigindo um carro de luxo, de pijama. Não consegui, porém, isso não demorou muito, em pouco tempo eu estava procurando Rajar na casa da empresária, enquanto ela se trocava.
- oii Rajar. - sorrio ao ver o gato jogado no meio da escadaria da casa. - como você tá rapaz? - o pego no colo. - hoje não lhe trouxe um laço, mas dá próxima vez que eu vier eu vou trazer tá? - o felino ronrona. O balaço, assim como balançamos bebês. - você está pesado hein? Anda comendo bastante né?
- se eu deixar ele come até o reboco da casa. - a voz vindo de trás de mim me causa um calafrio na espinha.
Me viro para trás, me deparando com algo que jamais imaginei ver, Margareth Sullivan, com um pijama de unicórnio, não pisquei, isso poderia não ser real, ou poderia durar pouco tempo, não queria correr o risco de perder de ver isso.
- eu sei que o meu pijama é mais bonito que o seu. - se gaba passando por mim e Rajar, não pude deixar de sorrir.
- é mesmo, queria um igual. - concordo me levantando.
- se quiser, tenho mais dois do closet. - some de minha visão.
- você tem? - vou atrás com o gato no colo, a acho na cozinha, ela apenas concorda com a cabeça. - e porque você tem pijamas de unicórnio?
É surpreendente, o porque uma empresária com fama de cruel tem pijamas de unicórnio? Queria e comprou? Não vai me surpreender se tiver sido isso, ricos tem manias estranhas.
- fiz uma aposta com Elizabeth, e eu perdi. - bebe um gole de água. - bom, se quiser usar um também, tá no closet, última porta, canto esquerdo.
Eu não vou perder outra oportunidade dessas né, não perdi de ver a empresária que achei que ia me matar de pijama de unicórnio, vou perder de me vistir igual e sair combinando? Não mesmo.
Fui até o quarto da mulher, entrei no closet e me deparei com tantas roupas que mais parecia uma loja, e meu nome lá no Brasil enfiado no serasa, enquanto eu tô aqui.
Mentira que meu nome não tá no serasa, tava quase indo, mas não foi não.
Segui as cordenadas que me foi dada, abri a última porta, e me deparei com diversos pijamas, camisolas, roupões. Fiquei um bom tempo olhando tudo, e procurando o pijama, achei os dois, iguais a da espanhola.
Me troquei, e desci, parecendo uma criança enfiada em um pijama felpudo, arco-íris.
- e então? Como eu estou? - paro no começo das escadas, vendo Ma lá embaixo, dou uma pequena rodadinha, para que ela veja meu look chique.
- linda como sempre. - sorri.
Quando chego nos últimos degraus Margareth me da a mão para me ajudar a descer os últimos, olho para Rajar que estava nos seguindo.
- não podemos levar ele? - olho para a mais velha.
- não meu amor, mas ele ficará bem aqui. - responde abrindo a porta.
Me despeço do felino, que algum dia vou levar pra casa junto, e assim, nosso novo destino é a sorveteria, enquanto usamos pinamas confortáveis e quentinhos, considerando que a noite logo chegaria, e o vento frio já aparecia, era uma ótima opção.
- precisamos tirar uma foto depois. - comento escolhendo uma música.
Agora sim, amo ter liberdade pra isso.

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Girassóis à Beira-Mar
RomanceMargareth Sullivan, uma empresária espanhola tão fria quanto o mar que tanto ama, vê sua vida meticulosamente organizada virar de cabeça para baixo quando conhece Cleópatra Nunes, e está disposta a fazer o que for preciso para ter a senhorita Nunes...