Capítulo 16 - Maria Vitória (Mavi)

1.6K 236 117
                                        

Os dias que se seguiram ao beijo foram um caos silencioso dentro de mim. Cada pensamento parecia girar em torno dele, como se o toque ainda estivesse marcado na minha pele.

Eu evitava pensar demais, mas era inútil. A lembrança continuava viva: o toque quente das mãos dele segurando minha nuca, o sabor misturado ao whisky, o calor sufocante do corpo colado ao meu. E o pior? Eu queria sentir aquilo de novo.

Mas eu não podia.

Cada vez que minha mãe sorria, quando me perguntava se estava tudo bem, a culpa apertava o peito de um jeito quase insuportável. Ela confiava nele. Confiava em mim. Eu não podia ter cruzado essa linha. Eu tinha que esquecer.

Só que ele não facilitava isso.

Porque, desde aquele beijo, Falcão parecia ter despertado alguma coisa. E agora ele estava testando meus limites.

A primeira vez que eu percebi, foi no café da manhã.

Eu descia as escadas, ainda de short e camiseta, quando ele apareceu na cozinha. A camiseta branca marcava os ombros largos, e o cheiro familiar do café fresco preenchia o ar.

— Bom dia — murmurei, tentando ignorar o fato de que o coração disparou só de vê-lo ali.

Ele não respondeu de imediato. Só virou o rosto devagar, os olhos escuros escaneando meu corpo de cima a baixo. O olhar prendeu um pouco mais do que o necessário nas minhas pernas antes de encontrar os meus.

— Dormiu bem? — perguntou, a voz baixa e rouca, carregando aquela provocação silenciosa.

Assenti, pegando uma caneca e tentando ignorá-lo. Mas eu sentia o olhar.

Ele não precisava dizer nada.

O olhar falava por ele.

Depois, vieram os toques. Pequenos. Quase acidentais.

A mão que roçava a minha ao me passar um prato durante o almoço. O toque sutil nas minhas costas quando passava por mim no corredor. Até mesmo o jeito como a voz dele parecia baixar propositalmente quando falava comigo, como se fosse só nós dois.

E eu sentia tudo.

O pior era que eu sabia o que ele estava fazendo. Falcão estava me testando. Me provocando. E, mesmo assim, eu não conseguia recuar.

Porque, no fundo, uma parte de mim queria aquilo. Queria ele.

E isso estava me matando.

Naquela noite, eu estava no terraço, tentando estudar. O ventilador girava devagar, trazendo pouco alívio para o calor. A luz amarelada iluminava as páginas do livro de psicologia, mas eu não conseguia me concentrar.

Ele estava lá embaixo. Eu ouvia os passos, o som abafado da porta se abrindo e fechando. E, mesmo sem vê-lo, eu sentia.

Como se a presença dele tivesse se tornado parte daquele lugar. Parte de mim.

O som das botas ecoou nas escadas. Meu peito apertou.

Falcão.

Fingi continuar lendo, mas a respiração parecia presa, o corpo todo atento. Ele surgiu à porta do terraço, encostando-se no batente. O olhar fixo, analisando.

— Tá estudando? — perguntou, a voz arrastada.

Assenti, sem encará-lo.

— Tô tentando...

O silêncio entre nós era tão pesado que eu podia ouvir a batida do meu próprio coração.

— Difícil se concentrar, né? — Ele continuou, e o tom parecia... diferente.

TODOS OS DEFEITOS DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora