Capítulo 13 - Maria Vitória (Mavi)

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O quarto parecia mais quente do que o normal, como se o calor daquela noite abafada tivesse ficado preso entre as paredes. O ventilador girava preguiçosamente no canto, mas não parecia fazer efeito. Eu me mexia entre os lençóis, inquieta, o corpo tenso como se tentasse lutar contra um incômodo que eu não conseguia entender.

Eu estava no meu quarto, mas havia algo diferente no ar. Tudo parecia mais silencioso, mais denso. O ar parecia carregado. Então, a porta se abriu. Lenta, quase sem som. Falcão entrou, a expressão séria, os olhos escuros presos em mim de um jeito que fez minha respiração falhar.

Ele se aproximou, o cheiro amadeirado familiar invadindo meus sentidos. Madeira, fumaça e um toque quente, masculino, que parecia grudar no ar. Meu corpo inteiro reagiu à presença dele, uma onda de calor subindo pelo peito enquanto ele parava ao lado da cama.

Eu deveria ter dito algo. Perguntado o que ele estava fazendo ali. Mas o olhar dele segurava o meu como se dissesse tudo. Como se pedisse permissão.

Ele se inclinou devagar, os lábios roçando de leve o canto da minha boca. Um toque suave, mas que fez o estômago se revirar, o peito apertar em uma confusão de sensações.

— Falcão... — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro.

Ele não respondeu. Só deslizou a mão pelo meu rosto, os dedos ásperos traçando um caminho que fez a pele arrepiar. Então, os lábios dele pressionaram os meus de verdade. Quentes, intensos. O beijo era lento, como se quisesse explorar, testar meus limites.

O calor se espalhou, uma sensação desconcertante e incontrolável. Meu corpo reagia sozinho, o coração acelerando, o sangue pulsando forte nos ouvidos. Havia algo tão errado e, ao mesmo tempo, tão impossível de resistir.

Mas, de repente, a cena começou a se desfazer. As mãos dele pareciam desaparecer, o toque sumindo, e o calor foi substituído por um vazio desconfortável. O quarto escureceu.

Eu acordei de repente, ofegante, o coração martelando contra o peito. Levei um segundo para perceber onde estava, a realidade voltando de forma abrupta. O ventilador continuava zumbindo, o quarto ainda quente, mas a sensação do sonho parecia grudada em mim, como se fosse mais do que uma ilusão.

Minha pele estava úmida de suor, o peito subindo e descendo de forma irregular. Fechei os olhos por um segundo, tentando controlar a respiração, mas o incômodo não passava.

Foi quando percebi.

Uma umidade desconfortável no tecido da camiseta, colada contra a pele. Franzi o cenho, confusa, e levei as mãos ao peito.

Meu coração afundou.

O tecido estava molhado. E não de suor.

Levei as mãos até a barra da camiseta, puxando-a para longe do corpo e vendo as manchas claras se espalhando no algodão. Meu peito estava vazando leite.

— Não... de novo, não — murmurei para mim mesma, a voz um sussurro tenso.

O desconforto no peito só parecia piorar, uma sensação de pressão acumulada que eu já conhecia, mas que não acontecia há muito tempo. Anos, na verdade. Eu achava que o problema tinha passado.

Mas lá estava ele.

Levantei da cama rapidamente, sentindo as pernas trêmulas, o corpo ainda quente do sonho misturado à vergonha que crescia. A confusão.

Por que isso estava acontecendo agora?

O peito doía de leve, o desconforto se intensificando. Eu precisava fazer algo.

Fui até o banheiro em silêncio, evitando qualquer barulho que pudesse acordar minha mãe ou, pior ainda, o Falcão. Fechei a porta devagar e acendi a luz, piscando ao encarar o reflexo no espelho.

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