{Margareth Sullivan}
Separamos o beijo pela falta de ar que tomou conta de nós duas. Apesar de eu ter me afastado dela, ainda estávamos com pouca distância entre nós. Minhas mãos permaneciam em sua cintura, apenas paradas, enquanto minha mente tentava processar o que havia ocorrido ali e o porquê de Cleópatra estar aqui.
- não vai apresentar a moça, Sullivan? - me assusto com a voz de Iván, que estava plantado ao meu lado.
Se eu vou apresentar a moça pra ele? Não.
- ah, lo siento. - essas desculpas não foram de coração. Gesticulo com as mãos. - Cleo, esse é Iván, um colega meu... – infelizmente. - e delegado daqui. - respiro fundo, olhando rapidamente para o ruivo. - Iván, essa é Cleópatra... - penso por um instante. - mi novia.
A negra arregalou os olhos, mas tentou não demonstrar a surpresa com minha fala. Já o homem sorriu e deu leves batidinhas em minhas costas. Logo em seguida, olhou minha futura namorada de cima a baixo.
Alguém avisa ele que, embora tenha porte de arma, eu também tenho.
- não sabia que você namorava - diz o delegado. – Pensei que fosse casada, tivesse filhos... Mas não que namorava. Se achando nova? Nossa idade já não é mais pra isso.
Paro por um momento de encarar minha futura mulher, olho para Eliza antes de olhar o ruivo de cima a baixo. Ajeitando minha postura, respiro fundo, fazendo contato visual com o outro.
- se você já não está mais em forma, seu pau não sobe, e sua esposa também desleixada, que não cuida da aparência, fica irritada e te xinga todos os dias por isso, ou se é necessário você pagar garotas mais novas para transar com você, porque por livre e espontânea vontade elas não aceitariam... - pauso. - a culpa não é minha. Só porque eu cuido da minha aparência, da minha saúde, do meu físico e da minha mentalidade, né? Porque já vi que a sua... não existe.
- se é tão em forma, bonitona assim, conservada... cadê as tantas mulheres, hein? - diz com tom de deboche.
Reviro os olhos. Olhando rapidamente para minha irmã, vejo ela com a cara de tipo "você não vai brigar por isso, né?", mas eu vou.
Ele falou da minha idade, da minha aparência.
- não sei. Não quero as tantas mulheres. Só quero uma, e ela está ao meu lado: saudável, bem, feliz. E é isso que me importa – digo com voz firme. Não pode bater nele, né? - se você não se importa com a sua esposa, o que eu posso fazer?
- ah, a Margareth não pode fazer nada - a voz da Sullivan mais nova soou. - eu sei muito bem como cuidar de uma mulher. Se você não cuidar, Iván, pode deixar que eu cuido. - se aproxima, passando a língua pelos lábios, fazendo com que o homem entenda seu recado.
Eliza não tem jeito nenhum... Quando essa garota vai tomar juízo?
Iván demora pra entender, pois sua cara de surpresa só aparece depois. Homens e seus raciocínios lentos.
Resolvi tirar a cacheada de toda aquela situação, a levando comigo para fora, sendo seguidas pela Elizabeth. Mas, antes mesmo de sairmos do local, a voz do delegado soou:
- não esqueça, Margareth, que ainda precisa de mim pra sair dessa.
Me viro para trás com as sobrancelhas levemente levantadas e um sorriso traiçoeiro nos lábios.
- você não passa de uma peça no meu jogo de tabuleiro, Iván, que eu posso descartar a qualquer momento - digo calmamente, pousando uma das mãos na lombar de Nunes, guiando-a para fora.
Eu tenho dinheiro, e dinheiro traz poder. Estou totalmente ciente disso há muito tempo, e acho que todos sabem isso. Ricos fazem coisas estupidamente estúpidas, porque sabem que o poder do dinheiro pode resolver qualquer merda possível...
E eu até poderia já estar livre disso. Já poderia ter pago delegado, juiz, ameaçado, feito tudo que tenho ao meu alcance que, diga-se de passagem, não são poucas coisas. Apesar de saber que minha irmã e minha mãe sofrem por isso mais uma vez, não acho justo alguém que não tem condições de pagar ter que responder, sofrer em triplo até às vezes responder por um ato que nem cometeu, e nós, pessoas que temos dinheiro, apenas pagamos, fazemos ligações e estamos livres.
- Margareth?! - um empurrão no ombro, vindo de Cleo, me fez retornar à vida real. - estou te chamando há um tempo.
- perdão, minha rainha. Me perdi em meus pensamentos. - olho para os lados, percebendo que minha irmã já havia ido embora.
- não sabia que uma Sullivan andava a pé - brincou.
- quem disse que vim a pé? - encarei a mulher, esperando uma resposta.
- não tô vendo seu carro - diz com inocência.
- não vim com a Bugatti. - continuei andando, sendo acompanhada pela morena. - vim com aquele ali. - destranco a SSC Tuatara vermelha, enquanto aponto para ela com a chave.
- uau... - balbucia, surpresa, parando em frente ao carro.
- gostou? - coloco as mãos no bolso da calça, vendo a outra concordar com a cabeça. - dirige aí. - entrego a chave a ela, que me olha com uma expressão de desespero e alegria.
- eu... Dirigir isso? - sua voz soa como se nem ela acreditasse.
- sim. - abro a porta do motorista para ela entrar e, logo em seguida, entro no banco do carona.
Cleópatra dá partida no carro. Consigo escutar o ronco forte do motor mesmo com o toque leve no acelerador.
Com todo o cuidado, ela saiu com o carro, logo perguntando onde iríamos. Lhe dei o endereço de uma sorveteria. A SSC Tuatara arrancou com força nas ruas quando a de pele negra pisou no acelerador com um pouquinho mais de força. Seu rosto assustado me tirou uma gargalhada alta e sincera.
- não quero mais dirigir isso - conclui. - eu vou matar nós duas!
- e, pelo visto, vai morrer antes de infarto - destravo o cinto de segurança enquanto o automóvel é estacionado. - do jeito que tá com medo de um carro...
A garota faz um bico adorável, deixa a chave no painel e sai do carro sem esperar que eu abra a porta para ela... Que ofensa! Como assim ela não vai deixar eu abrir e fechar a porta do carro pra ela?
Tá tudo bem. É só uma mini birra da sua mulher. Você consegue lidar com isso. No mais puro silêncio, me sento no meu lugar de costume: o de motorista. O caminho todo foi assim, com um silêncio intrigante, a mulher dos cachos totalmente com a atenção voltada à paisagem. Não deve nem ter percebido que a sequei mais que sol secando roupa.
Ela tá de pijama?
- saiu de casa de pijama? - definitivamente, isso ofende todas as regras e leis da moda que existem nesse mundo todo.
Mas eu também super faria isso.
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Primeiramente, para quem não sabe "novia" não é noiva, no espanhol "novia" é namorada.
Parei de julgar as escritoras que demoravam pra postar porque eu virei uma e descobri que realmente não é tão fácil assim juntar livro, com vida pessoal e afins, fiquei presa nesse capítulo por semanas, até finalmente eu conseguir uma inspiração, uma energia.
Espero que gostem do capítulo.

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Girassóis à Beira-Mar
RomanceMargareth Sullivan, uma empresária espanhola tão fria quanto o mar que tanto ama, vê sua vida meticulosamente organizada virar de cabeça para baixo quando conhece Cleópatra Nunes, e está disposta a fazer o que for preciso para ter a senhorita Nunes...