⊹°.★ Capítulo 03: Baseball ★.°⊹

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SCHROEDER SCHULZ•

O sol de fim de tarde queimava minha nuca enquanto eu corria pela extensão do campo. O cheiro de grama recém-cortada misturava-se ao suor dos jogadores, criando aquele ambiente típico de treino.

Não era um jogo oficial, apenas um treino entre os caras do time da West High. Um costume antes do início das aulas, para recuperar o ritmo depois das férias. Eu gostava de jogar, gostava da rotina, da precisão dos movimentos, da adrenalina contida em cada jogada bem executada e correr pelas bases, mas não suportava a forma como algumas pessoas tratavam aquilo como um espetáculo.

As arquibancadas não estavam cheias, mas algumas garotas haviam parado ali para assistir. As mesmas de sempre. Elas gritavam e aplaudiam cada jogada, seja minha ou de Charlie, como se estivessem assistindo a um campeonato profissional. Irritante.

Eu peguei a bola no ar depois de um lançamento malfeito do Charlie e joguei para a primeira base, eliminando o corredor adversário com facilidade. Assim que a jogada foi concluída, ouvi o burburinho das vozes femininas na arquibancada.

— Boa Schroeder, continue assim querido! — Uma delas gritou.

— E ele faz tudo parecer tão fácil…

— E aqueles braços?! Olha as veias!

Fiz o possível para ignorar, ajustando a luva na mão esquerda e dando um passo para trás para me preparar para a próxima jogada.

Linus estava ali também, foi Charlie quem o chamou, para relembrar os velhos tempos, ele estava jogando como receptor. Não era o melhor jogador, mas estava longe de ser o pior, ele se esforçava. Linus se abaixou para pegar a bola e, antes de arremessar de volta para o arremessador, olhou de canto para mim e sorriu de lado.

— Me parece que você é bem popular entre elas, hein?

Revirei os olhos.

— Cala a boca e joga.

Ele riu e se posicionou.

Eu estava prestes a me concentrar novamente quando uma movimentação ao longe chamou minha atenção.

Lucy.

Ela tinha acabado de chegar ao campo, as mãos nos bolsos da jaqueta azul desbotada e um olhar curioso percorrendo o jogo. O cabelo solto balançava ao vento, e a forma despreocupada como caminhava deixava claro que ela não fazia ideia de quantos olhares estavam pousados sobre ela.

Algumas garotas notaram sua presença e começaram a cochichar. Lucy havia acabado de voltar para a cidade e já estava chamando atenção. Nada surpreendente, não vindo dela, ela sempre foi do tipo que dava muito o que falar.

Era fácil perceber que ela estava observando, mas sem o deslumbramento das outras. Apenas assistia, sem qualquer reação exagerada.

Não sei bem por que reparei. Talvez porque ela não estava aqui há anos.

Mas não era algo que me interessava particularmente.

°˖ ☾. Schroeder ⋆ 𖤓 。

O treino terminou uma hora depois. O sol já estava mais baixo no céu, pintando tudo com um tom alaranjado. Os caras começaram a se dispersar, alguns indo beber água, outros se jogando no banco para descansar.

Eu tirei minha luva e passei a mão pelos cabelos, afastando os cachos suados da testa.

— Mandou bem hoje. — Charlie comentou, esticando os braços.

— Como sempre, imagino. — Linus completou, jogando a bola para cima e pegando de volta. — ainda não acredito que aquele pianista sedentário se tornou uma lenda do baseball.

Ignorei os comentários e fui pegar minha garrafa d’água. Antes que pudesse sair do campo, ouvi uma voz familiar vinda da direção das arquibancadas.

— Até que não foi tão ruim assim.

Me virei e encontrei Lucy apoiada na grade da arquibancada, me olhando com aquele mesmo ar provocativo de sempre.

— Eu não jogo para entreter ninguém.

Ela riu, inclinando a cabeça de lado.

— Eu sei. Isso que é engraçado. Você é tão bom que, mesmo sem querer, faz as pessoas prestarem atenção.

Fingi não me importar e tomei um gole d’água.

— Então, gostou do show?

— Ah, por favor. — Ela cruzou os braços, fingindo desinteresse. — Já vi jogadas melhores na televisão.

— Então talvez você devesse assistir um em casa da próxima vez.

Ela sorriu, e aquele brilho travesso nos olhos dela me fez sentir como se nós tivéssemos 9 e 10 anos de novo.

— Talvez. Mas tem algo engraçado nisso tudo.

Suspirei.

— O quê?

— Você realmente não gosta da atenção, né?

— E só percebeu isso agora?

— Não, mas estou achando mais divertido agora que posso ver de perto o quanto isso te incomoda.

Respirei fundo, segurando a vontade de revirar os olhos novamente.

— As pessoas falam demais.

— Sim, falam. Especialmente sobre você.

— Eu não me importo.

— Ah, Schroeder… — Ela inclinou-se ligeiramente para frente, abaixando um pouco a voz. — Eu sei que você se importa.

Fiquei em silêncio por um momento, apenas observando-a. Ela sempre teve esse jeito provocador, mas agora parecia ainda mais afiada. Irritante pra caralho.

— Você gosta de irritar as pessoas, não é?

— Só você.

Ela sorriu e se afastou antes que eu pudesse responder.

E, por algum motivo, fiquei parado ali por alguns segundos, observando enquanto ela se juntava a Marcie e Patty, rindo de algo que alguém havia dito.

Talvez fosse cansaço do treino.

Ou talvez fosse o fato de que, depois de tantos anos, Lucy Van Pelt ainda conseguia me deixar sem palavras.

Peanuts 2006: Notas de Beethoven | SchrucyOnde histórias criam vida. Descubra agora