⊹°.★ Capítulo 2: Reunidos novamente ★.°⊹

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𐙚Lucy Van Pelt

O clima dentro da sala ficou um pouco estranho assim que Schroeder, Charlie e Sally entraram. Não era aquela estranheza ruim, desconfortável. Era mais um tipo de sensação esquisita de reencontro, como se estivéssemos todos prestes a medir o quanto havíamos mudado nesses anos separados.

Patty foi a primeira a quebrar o silêncio.

— Olha só quem resolveu dar as caras! — Ela cruzou os braços, lançando um olhar divertido para Charlie.

— Tive que abrir um espaço na minha agenda para receber meu velho amigo Linus. — Charlie sorriu de canto, ajeitando a gola da camisa.

— Pelo menos com ele você fala. Você sumiu, cara.

Ele coçou a nuca, sem jeito. Marcie, que estava sentada ao lado de Linus, ajustou os óculos e lançou um olhar compreensivo.

— Acho que todos nós nos afastamos um pouco. Não foi algo proposital, só… aconteceu.

Eu franzi a testa. Era estranho pensar nisso. Na minha cabeça, eles ainda eram aquele grupo inseparável, que fazia tudo junto.

— Mas por quê? Vocês eram tão grudados… — Minha voz saiu confusa, como se estivesse tentando entender um quebra-cabeça que já vinha desmontado.

Charlie deu um suspiro e se jogou no sofá ao lado de Patty.

— Ah, você sabe como é. Crescemos, os interesses mudaram… Cada um foi para um lado. A escola também ficou meio caótica depois que vocês foram embora.

— Caótica como? — Linus arqueou a sobrancelha.

— Ah, você vai ver. — Patty riu, apoiando o cotovelo no joelho. — Mas vou te dar um spoiler: o Charlie aqui virou um galã conquistador da escola.

— O quê?! — Eu quase engasguei.

— Não exagera, Patty. — Charlie revirou os olhos.

— Não exagero nada! Você foi de um garotinho azarado para um cara popular do nada. As garotas falam de você pelos corredores o tempo todo.

Eu olhei para ele de cima a baixo, tentando entender como aquele Charlie Brown que eu conhecia poderia ter virado um galã. Tá, ele realmente estava mais bonito, tinha um jeito mais confiante, mas ainda era o Charlie. Um loiro azarado, desastrado e que nunca conquista a garota ruiva. Falando nisso, sera que ela ainda mora por aqui?

— Você tá me zoando, né? — Cruzei os braços.

— Não mesmo. — Patty riu. — Mas se acha isso chocante, espera até ouvir sobre o Schroeder.

Meu olhar foi direto para ele.

Schroeder, que estava casualmente recostado na parede, com as mãos nos bolsos da calça cargo, ergueu a sobrancelha, sem demonstrar nenhum interesse na conversa. Como sempre.

— O que tem ele? — Perguntei, tentando soar desinteressada.

— Ele é o cara mais desejado da escola. As garotas são loucas por ele.

Meu estômago deu um leve aperto.

— Jura?

— Ah, sim. Mas, ao contrário do Charlie, ele nunca dá bola para ninguém. — Patty lançou um olhar provocativo para Schroeder. — Sempre naquele ar misterioso, calado, no canto dele… Isso só faz elas ficarem mais obcecadas.

Schroeder revirou os olhos e se jogou na poltrona mais próxima.

— Vocês falam como se isso fosse interessante.

— E não é? — Sally riu, mexendo nos cabelos loiros.

— Não. — Ele cruzou os braços, encerrando o assunto.

Típico dele.

Mas eu não podia negar que a informação me incomodava um pouco. Eu sempre soube que Schroeder era bonito. Quando éramos crianças, eu insistia que um dia seríamos um casal – e ele sempre me ignorava. Agora, vendo ele ali, muito mais maduro, bonito e com aquele ar misterioso que aparentemente conquistava metade da escola, eu percebia que, no fundo, nunca tinha superado meu fascínio por ele.

Conversei mais sobre Londres, contando sobre meus amigos, as diferenças culturais e até algumas histórias engraçadas. Linus também se empolgou ao falar da nossa rotina por lá, e a conversa fluiu bem. Passamos um bom tempo ali, rindo, lembrando de velhas histórias e compartilhando novidades.

Mas, eventualmente, o tempo passou rápido demais.

⋆° . 𐙚Lucy ˚. ☆

A tarde já estava se despedindo quando decidimos encerrar o encontro.

— Foi bom ver todo mundo de novo. — Marcie ajeitou os óculos e sorriu. — É muito bom ter você de volta também, Lucy.

— Sim! Agora que a Lucy e o Linus voltaram, temos que sair mais. — Sally disse animada.

— Com certeza. — Respondi, sorrindo.

Nos despedimos um a um. Charlie saiu primeiro, depois Patty e Marcie. Schroeder foi depois, e, como sempre, sem muitas palavras. Apenas me lançou um olhar, assentiu levemente com a cabeça e saiu. E por último, Sally.

Eu fechei a porta e encostei as costas nela, soltando um suspiro.

— Esse olhar significa alguma coisa? — Linus perguntou, surgindo do nada ao meu lado.

— Que olhar? — Disfarcei.

— Sei lá, você que sabe.

— Falando em olhar… é impressão minha ou você estava olhando para Sally de relance?

— O que?! Eu não!

— Tá bom.

— É sério!

— Eu acredito. Mas sabe, ela sempre foi afim de você quando criança, e agora ela tá uma gata e ta te ignorando, então eu imagino que você… sei lá, se sentiu meio atiçado.

— Não pira Lucy, esquece isso. — ele diz e vai para a cozinha.

Revirei os olhos e fui para o meu quarto, tinha que terminar de arrumar minhas roupas e decorar as paredes.

⋆° . 𐙚Lucy ˚. ☆

A primeira noite de volta para casa teve um gosto agridoce. Minha cama era confortável, meu quarto ainda tinha aquele cheiro de lavanda da infância, mas minha mente estava inquieta.

As aulas só começariam na próxima semana, e eu já estava ansiosa. Não só para rever como tudo tinha mudado, mas… para ver Schroeder na escola.

Era ridículo. Eu sabia disso. Eu não era mais a garotinha boba de nove anos que vivia correndo atrás dele, tentando chamar sua atenção.

Mas, de alguma forma, ele ainda tinha esse efeito sobre mim.

E agora, sabendo que várias garotas estavam de olho nele, era impossível não pensar nisso.

Fechei os olhos e tentei afastar esses pensamentos, mas eles continuaram pairando na minha cabeça como uma música que se recusa a sair da mente.

Eu não sabia exatamente o que esperava desse ano letivo.

Mas de uma coisa eu tinha certeza: eu estava pronta para o último ano.

Peanuts 2006: Notas de Beethoven | SchrucyOnde histórias criam vida. Descubra agora