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Boa leitura ;)

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L A L I S A

Sair do castelo era a parte mais difícil. Descobrir locais e horários de encontro na taverna Cão Surdo era a parte cara. Mas entrar no local de reuniões dos Dissidentes parece que seria mais fácil que o esperado. Por volta do horário em que o Conselho provavelmente iniciaria aquele interrogatório sem sentido da arqueira que tentara matar Jennie, Bambam e eu estávamos parados do lado de fora do Santuário abandonado onde os Dissidentes supostamente se encontrariam. 

A vizinhança cheirava a estábulo precisando ser limpo, e as poucas pessoas que vimos se afastaram depressa de nós, correndo para as sombras feito insetos. Dilapidados sininhos de madeira pendurados perto da porta se chocaram uns contra os outros ao sopro de algo suave demais para se chamar de brisa.

Dava para entender por que os Dissidentes haviam escolhido o edifício como local de encontro. Uma larga faixa de terreno coberto por matagal separava a construção dos demais prédios. Todo aquele espaço entre os edifícios significava que, à luz do dia, não havia onde se esconder e espiar. A entrada principal parecia fechada com tábuas.

— Bem, teremos que entrar à força - falei.

— Sutileza sempre foi seu ponto forte - Bambam riu. Dei de ombros e comecei a avançar na direção da construção, mas Bambam agarrou meu braço.

— E se tiver gente lá dentro?

— Diremos que estamos procurando um lugar para nos casarmos e que ficamos encantados com a grandiosidade antiquada deste belo edifício. - o provoquei, acompanhando-o nas risadas baixas que trocamos.

— Você é maluca.

— Vamos tentar pelos fundos - Sugeri, dirigindo-me para o local.

Pisoteamos as ervas daninhas no que parecia ter sido o jardim do templo e fomos para os fundos pela lateral do edifício. As janelas altas estavam fechadas com tábuas cobertas por cocô de aves, com ninhos abandonados enfiados em suas frestas. Do outro lado da rua, vinha o barulho de um martelo de ferreiro, o único som que quebrava o silêncio daquele início de tarde.

Nos fundos, achamos uma segunda entrada, também fechada com tábuas. Um círculo branco do tamanho da palma da minha mão estava desenhado na tábua mais perto do batente superior. Mexi na maçaneta, não muito certa de que a coisa toda não desabaria quando eu tentasse entrar, mas a porta se abriu sem rangido de dobradiças. O exterior com tábuas pregadas era um truque.

Os Dissidentes haviam deixado grande parte do interior intacta, restaurado algumas partes do templo até. Embora as absides parecessem nunca terem sido desenhadas com imagens de deuses, o piso exibia uma estrela brilhante pintada, cada ponta correspondente a uma das cores dos deuses. Mas estavam na ordem errada. Franzi o cenho, perplexa.

— Não há onde se esconder aqui dentro - Bambam disse, examinando a parte central do Santuário.

— Claro que há - apontei para as vigas em formato de cruz no teto.

O Santuário era de um estilo antigo, e suas vigas tinham ranhuras que permitiam que os clérigos subissem por elas e abrissem as janelas altas no verão. As janelas, obviamente, não existiam mais, mas as vigas ainda estavam lá.

Bambam pareceu um pouco enjoado.

— Está sugerindo que a gente se pendure nas vigas feito dois morcegos?

— Se assim cumprirmos a tarefa… - falei.

— Você primeiro - ele disse temeroso.

— Por mim, tudo bem - apontei para a viga mais próxima. Ele me levantou e eu subi até a capela mais funda, a do deus do vento, e me escondi no amplo vão da janela, entre as tábuas que haviam sido pregadas de forma desordenada por fora e por dentro da esquadria — Consegue me ver?

Fogo E Estrelas (G!p) - JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora