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Boa leitura ;)

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J E N N I E

O Conselho interrogou a arqueira no Grande Templo, sem dúvida pelo simbolismo embutido: o governo de Busanjin não tolera hereges. Ao entrar no templo ao lado de Kook, eu meio que esperava pegar fogo. Meu dom continuava recuperando sua força desde a morte do assassino, e o ar à minha volta mais uma vez me dava a sensação de que poderia entrar em combustão espontânea a qualquer momento. 

O domo acima do transepto deixava entrar luz e ar, e os sininhos pendurados em finas cordas tilintavam com a brisa. Mal dava para ouvir do lado de dentro os sons mais graves dos sinos maiores que ficavam no jardim do templo, suaves e dissonantes, sob conversas sussurradas por todo lado enquanto o Conselho se acomodava para sua tarefa.

— Onde está Pranpriya? Ela não deveria estar aqui? - sussurrei para Kook. Fazia dias que eu não a via. Com o castelo isolado desde a captura da arqueira, as aulas de equitação tinham sido suspensas.

— Ryka queria que ela viesse, mas ela se recusou. Disse que não tinha nada a acrescentar à sua declaração, que você seria testemunha suficiente e que tinha “coisas melhores a fazer”.

Não tê-la presente me magoava. Ela quase não aparecera desde o ataque, e a paranoia do rei com relação à minha segurança significava que todos os meus dias tinham sido cheios de compromissos. Mas apesar dos vassalos me acompanhando para todo lado, eu me sentira mais segurança agachada ao lado dela naquele campo, com sua mão na minha.

Eu sentia falta dela. Obviamente, ela não sentia a minha.

O Conselho estava voltado para as fileiras de bancos vazios do templo, posicionado no meio do transepto, com suas cadeiras dispostas em um semicírculo. Kook e eu assumimos nossos lugares no estrado atrás deles. Assim que o rei tomou seu assento entre nós, fez-se silêncio no recinto.

— Tragam a herege - disse o rei.

Ryka fez um sinal para o vassalo, e um grupo de quatro guardas arrastou a arqueira até o corredor e a forçou a se ajoelhar diante de nós. Ela mantinha a cabeça erguida numa postura desafiadora, com o ombro envolto em faixas e o braço direito preso junto ao peito.

O Conselheiro Eadric tocou sua sineta e se levantou sem esperar o convite formal para falar. Ele cambaleou para a frente até ficar a poucos passos da arqueira, e então a encarou apertando os olhos, como se sentisse um cheiro forte de cebola.

— Refletiu sobre seguir os infinitos caminhos de purificação e arrependimento? Sobre voltar para a verdade da vida, para os Seis Deuses que zelam por todos nós, benevolentes, cheios de graça, conduzindo nossas almas aos reinos da virtude…?

Ela respondeu cuspindo nos pés dele. Eadric inclinou a cabeça para ela e então se voltou para o resto do Conselho.

— Deveríamos realizar um ritual de purificação - ele disse, e então deu a volta no transepto balançando seus sininhos em miniatura e entoando algo para o pedaço de céu visível através do domo de vidro no teto.

Eu não compreendia o que fazia alguém achar que um ritual de purificação era uma boa maneira de empregar o tempo que deveria estar sendo gasto com um interrogatório urgente. Antes que o Conselheiro Eadric tivesse terminado de colocar seu velho traseiro de volta no assento, Kook tocou sua sineta.

Fogo E Estrelas (G!p) - JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora