8 - BORBOLETAS NO ESTÔMAGO

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Mia

Não dava para acreditar na minha sorte. Primeiro encontro e, de brinde, vem uma garota que claramente me odiava. O sentimento era mais que recíproco. Nem mesmo Park parecia contente com a situação.

Pelas vitrines do shopping, o reflexo denunciava o cenário: Ravi e eu à frente, Baek e Luna logo atrás. Enquanto Ravi falava sobre como as aulas de matemática tinham ficado mais fáceis depois das nossas revisões, o tom tranquilo e gentil da sua voz criava um contraste gritante com a tagarelice incessante de Luna. Do lado dela, Park apenas soltava um monótono "hmm" de vez em quando.

Bem-feito, tonto. Pediu para sofrer — ou pelo menos tentei me convencer disso.

Luna vestia um modelo justo, na altura das coxas, que destacava ainda mais o corpo. Os olhos azuis reluziam contra o cabelo liso e escuro, um conjunto que fazia jus ao título de "a garota mais bonita do colégio". Enquetes nos corredores sempre colocavam o nome dela no topo. Quando se declarou para Park, todos acharam que o universo finalmente tinha se alinhado. O casal perfeito. A pressão foi tanta que ele acabou ficando com ela — pelo menos foi o que confessou após o trágico término.

Enquanto isso, minha realidade era outra. Não chamava atenção, nunca senti as famosas borboletas no estômago, pelo menos não do jeito que Lara descrevia. Os meninos pareciam fugir de qualquer contato, especialmente os do time de basquete. Então, quando Ravi me chamou para sair, parecia que o universo tinha cometido um erro. Até agora, ainda não fazia sentido.

Se Park não existisse, Ravi seria o número um no colégio. Bonito, educado, engraçado e ótimo jogador. Um príncipe moderno. Mas, no fundo, tinha quase certeza de que aquele convite era apenas uma forma de retribuir pela ajuda nas aulas. Alguém como ele não se interessaria por alguém como eu.

Na fila do cinema, enquanto pegávamos as comidas, o contraste continuava.

— Duas pipocas médias e dois refrigerantes zero — Park pediu, com a naturalidade de quem sabia exatamente o que estava fazendo.

— Uma pipoca grande com manteiga e dois refrigerantes normais — Ravi completou logo em seguida.

Com as bandejas nas mãos, seguimos para a sala. Ravi continuava próximo, gentil, mas a escolha dos assentos entregava o jogo: eu ficaria entre ele e Park, com Luna estrategicamente do outro lado. Pelo menos ela estava longe o suficiente para não incomodar diretamente.

— Quer pipoca? — Ravi perguntou com um sorriso, estendendo o pacote.

— Ela não come com manteiga. — Park respondeu antes mesmo de eu abrir a boca. Sem hesitar, trocou a pipoca e o refrigerante que Ravi havia deixado ao meu lado. — Toma, Noona. Esse é o seu.

O cenho franzido de Ravi mostrava o desconforto evidente.

— Não toma refrigerante normal? — perguntou, meio culpado.

— Toma, mas prefere zero. — Park enfiou mais pipoca na boca, encerrando o assunto.

A tentativa de suavizar o clima com um "vou perguntar antes na próxima vez" foi o suficiente para fazer meu rosto esquentar. Por que Ravi precisava ser tão fofo? E por que Park fazia questão de arruinar tudo?

Na metade do filme, Ravi tirou o copo vazio da poltrona e levantou o apoio de braço, aproximando nossos braços. Os dedos roçaram levemente meu pescoço ao colocar sua jaqueta sobre meus ombros. Entrelaçou nossas mãos logo em seguida. O toque era bom, reconfortante, quase perfeito. Só que Park não podia deixar nada seguir o curso natural.

— Ih, foi mal! Tomei muito refri, não dá pra segurar. — Ele tropeçou "sem querer" e caiu no colo de Ravi ao passar por nós, desfazendo nosso contato. Ravi tentou empurrá-lo, mas Park parecia afundar ainda mais. Encostei na poltrona, perplexa com o nível de interferência.

Não sabia como ele fazia isso, mas Park sempre estava lá para atrapalhar.

✶✶✶

O filme terminou, e Luna praticamente se jogou no braço de Park.

— Eu adorei! — declarou, os olhos brilhando de forma exagerada.

Park ignorou, enquanto Ravi se limitou a um "Eu também gostei", mas com o olhar sincero voltado para mim.

O silêncio só foi quebrado na saída.

— Posso te levar de Uber, Mia? — Ravi segurou minha mão, o toque leve como antes.

— Isso não faz sentido. — Park se intrometeu, pegando minha outra mão e me puxando. — Sempre rachamos o Uber. Vamos para o mesmo lugar.

No meio daquela disputa, Luna se aproximou com a voz manhosa:

— Pensei que você fosse esticar comigo, oppa.

O olhar firme que Park lançou foi suficiente para ela entender o erro. Não havia espaço para discussão. Ravi acabou cedendo, indo embora com uma emburrada Luna, enquanto Park vencia mais uma.

O trajeto no Uber foi silencioso. Cada um focado na própria janela, ignorando a tensão que pairava no ar. Já no condomínio, Park quebrou o gelo.

— O Ravi é mulherengo.

— E você tem fama de santo, né? — retruquei sem pensar duas vezes.

— Pelo menos eu não finjo ser perfeito.

A discussão escalou. Ninguém cedia. Até que, perto de casa, Park segurou meu braço, me obrigando a parar.

— Me fala a verdade. Tá afim do Ravi?

— Não sei.

O olhar intenso que me lançou parecia buscar respostas que nem eu tinha.

— Me contaria se gostasse de alguém? Se ficasse com alguém?

— Contaria.

— Só não quero que faça algo de que se arrependa depois. — O tom, agora mais calmo, parecia genuíno.

— Tipo ficar com alguém só para se exibir? — cruzei os braços, jogando o passado na cara dele.

— Tipo isso. — Suspirou, como quem admitia as próprias falhas. — Você merece que seu primeiro tudo seja perfeito, Mia.

O abraço que veio em seguida foi inesperado, mas não resisti. Senti o calor familiar, o cheiro limpo da camisa, o conforto que só ele sabia proporcionar. E, mesmo assim, algo parecia errado. Um nó apertava o peito, deixando a mente confusa. Era estranho, quase doloroso.
No fundo, sabia o que ele queria dizer. E isso me assustava mais do que qualquer coisa. Fui para casa relembrando algo que tentei enterrar.

✶✶✶

Não aguentava mais ver as fotos de casalzinho que a Lara postava com o carinha que conheceu nas férias na praia.
Ela não parava de tagarelar sobre como era perfeito andar de mãos dadas na orla e beijar ao pôr do sol.

— Você já tem quinze anos, Mia — disse, com aquele sorrisinho irritante. — É a única da sala que nunca pegou ninguém.

Revirei os olhos, larguei o celular dela e peguei sua almofada de pelúcia rosa para jogar direto no rosto.

— Não dá pra beijar sozinha — resmunguei, já sentindo o peso do seu comentário. Nenhum garoto do colégio tinha olhado para mim até agora. — E, se contar, já beijei uma mexerica.

Lara explodiu em gargalhadas. A risada era tão alta que até eu me lembrei da vez em que ela me convenceu a treinar com mexericas, jurando que isso ajudava de verdade.

— Ai, foi a melhor fase! — disse, limpando os olhos marejados de tanto rir. — Mas relaxa, eu sei como resolver isso pra você.

Na mesma hora, um frio na barriga me tomou. Essa frase nunca terminava bem.

— Theo? — perguntei, já prevendo o desastre.

Ela não respondeu, só abriu um sorriso lento e malicioso, o que era ainda pior.

— Nem vem! — cruzei os braços. — Eu não tenho assunto com ele.

— Quem disse que precisa conversar? — Ela se ajeitou ao meu lado, abraçando a almofada. — O Theo é gato, Mia, e tá super na sua. Vive me perguntando sobre você. Ele mora aqui no meu condomínio, ou seja, longe da escola e, mais importante, longe do Baek.

— O que o Park tem a ver com isso? — retruquei, irritada com a menção ao nome dele.

— Tudo! É óbvio que o Baek é o motivo de nenhum menino chegar perto de você.

— Para de inventar coisa, Lara.

— Não tô inventando! Lembra aquele dia em que o Pedro te deu um chocolate? O Baek deu o maior esporro nele depois. Te contei, mas você nunca acredita.

— Você viaja demais.

— Tanto faz! O ponto é: aqui o Baek não manda nada. O Theo só o conhece pelas redes sociais, e ele não para de falar de você. Vai lá fora, dá um beijo e pronto. Qual a dificuldade nisso?

Não sei como ela conseguiu, mas, antes que eu percebesse, já estava num canto escuro da garagem, com um garoto me encarando enquanto suas mãos tremiam na minha cintura.

Meu coração estava descontrolado, e meus joelhos pareciam gelatina. Sabia que isso não ia dar certo.

Theo hesitou por um tempo, e ficamos ali, eu com as mãos nos ombros dele e ele me segurando pela cintura. Até que, de repente, ele se aproximou e encostou os lábios nos meus.

O famoso nó no estômago apareceu, mas não pelas razões que Lara tanto descrevia. Era o mesmo nó que sentia quando o Park me chamava para assistir a um filme de terror.

Theo tentou enfiar a língua na minha boca. No começo, deixei. Mas, assim que senti sua saliva misturada com a minha, o nojo me atingiu em cheio.

Só conseguia pensar: Credo, tô bebendo a baba dele.

Empurrei-o e saí andando sem dizer nada. Quanto mais me afastava, mais acelerava o passo, até que, sem nem olhar para trás, corri até o portão do condomínio.

Chamei um Uber e voltei para casa, onde parecia seguro.

Assim que cheguei, escovei os dentes umas três vezes, me joguei na cama e comecei a chorar.

Chorei de raiva. Por não sentir as borboletas no estômago que a Lara sempre descrevia. Por ter deixado ela me convencer. E, principalmente, por causa do Park, que parecia beijar todo mundo como se fosse incrível.

Quando me cansei de chorar, só consegui chegar a uma conclusão: o problema era eu.
Se todo mundo achava beijar algo maravilhoso e eu odiei, só podia ser eu o erro da equação.

Então, talvez fosse melhor continuar sendo a estranha do colégio que nenhum garoto queria. Era mais fácil assim.

Kimchi com Feijoada: Um romance com sabor de Dorama.Onde histórias criam vida. Descubra agora