Mia
Park Baek não passou na loja como tinha prometido. Em vez disso, pegou carona com Ravi e foi direto para casa. Desde então, nenhuma mensagem. E Park sabe que já estou em casa.
Só depois que apago a luz da janela, o celular vibra:
P: Vocês se falam?
Solto uma risada curta. Não acredito que ele está mesmo incomodado com isso.
M: Não. Ele só me passou o contato, mas nunca tínhamos trocado mensagens antes.
P: E agora trocam?
M: Claro 😆. Como você acha que combinamos de estudar?
P: Já deitou?
M: Não. Estou mexendo em um programa novo de mixagem de som.
Silêncio. Espero alguma resposta, mas nada. Em vez disso, escuto a campainha tocar. Minha mãe atende e conversa com alguém. Passos pesados começam a subir as escadas.
Baixo a tela do notebook, escondendo o projeto de mixagem.
— Vai ficar para o jantar, Park? — a voz da minha mãe chega clara pelo corredor.
— Claro, tia Elaine! — ele responde com a familiaridade de quem quase mora aqui.
— Ótimo! Vou levar umas coxinhas para vocês beliscarem até o jantar.
— A senhora é a melhor! — A risada de satisfação dele ecoa no corredor.
Park entra no quarto com aquele andar despreocupado que me irrita e, ao mesmo tempo, me faz sorrir. Sem pedir licença, se joga na minha cama, empurrando minha cadeira para o lado com o pé.
— Ei, eu tô aqui! — resmungo, ajustando a cadeira para ficar de frente para ele.
Park me olha como quem não se importa.
— Me mostra o celular. — Estica a mão, direto.
— Esquece! Não vou deixar você mexer nas minhas coisas.
— Não quero mexer. Só quero ver as mensagens do Ravi.
— Tá sonhando! — enfio o celular dentro do top, sabendo que isso sempre o desarma. Meu sorriso é automático. Ele nunca colocaria a mão em mim. — Da última vez que você pegou meu celular, bagunçou tudo. Tive que mudar a senha por sua causa.
— Eu não fiz nada! — Ele tenta se defender, mas levanto uma sobrancelha, e Park desvia o olhar. — Mudou a senha mesmo?
— Roubou minhas fotos, salvou seu nome como "Rei da quadra, absoluto!" e ainda colocou uma música da Rosé como toque. Depois ficava me ligando o dia inteiro, até no meio das aulas!
Park joga a cabeça para trás, rindo alto, daquele jeito que faz os ombros balançarem.
— Foi genial! Você demorou muito para perceber que o som vinha do seu celular. Todo mundo na sala achou hilário.
— Hilário? Eu quase fui expulsa, Park!
— Assumi a culpa, lembra? Disse que fui eu, e me tiraram da aula no seu lugar. Nunca ia deixar que te expulsassem. Agora passa aqui, quero ver se adivinho sua senha nova.
— Ainda assim, não teve graça. No meu histórico de aluna exemplar, isso seria o fim — acabo entregando o celular bloqueado.
— Ah, para! Você é certinha demais. Eu já fui expulso da aula várias vezes e tô aqui, firme e forte.
— Isso porque você não quer passar no vestibular. Eu quero.
Minha mãe aparece na porta com um prato cheio de coxinhas e uma garrafa de refrigerante. Ela deixa tudo na mesinha, sorrindo ao ver Park tão à vontade na minha cama, antes de sair. Ataco uma coxinha enquanto Park tenta adivinhar minha nova senha.
— O rei da quadra! — estala os dedos, confiante.
— Nunca! — passo o prato para ele, rindo.
— A data do meu aniversário...
— Se toca, garoto!
Park fica em silêncio de repente. Estranho. Ele nunca fica calado.
— O que foi?
— Minha peneira.
Paro de mastigar.
— O que tem ela? Já não foi semana passada?
— O técnico me chamou hoje. Disse que tem um time grande de olho em mim, mas que preciso focar no próximo jogo. A partir de agora, tudo depende de mim.
— Isso é bom, não? É a sua chance.
Park desvia o olhar e solta um suspiro longo.
— Meus pais.— Ah, claro. Os pais de Park. — Eles acham que basquete não é um futuro seguro. Querem que eu saia do time no ano que vem e foque nos vestibulares.
— Que droga, Park. Sinto muito.
— Até eu fazer 18, eles mandam em mim. Se quiserem, podem me tirar do time. Mesmo se eu for convocado, podem me proibir de ir.
Olho para ele, e meu peito aperta. Ele tem razão.
— Vai dar certo. — Deito ao seu lado. Nossos braços se encostam, e entrelaço meus dedos nos dele, um gesto que sempre funciona para acalmá-lo. — Eu te ajudo nos estudos, você foca no jogo. Se for bem nas provas, seus pais vão relaxar.
Park vira a cabeça para me encarar, o rosto um pouco mais tranquilo.
— Sem você, eu estaria ferrado.
— Sei disso. Por isso você vai me levar para assistir Moana sábado.
— De novo filme infantil? Isso não é saudável, você precisa crescer.
— Crescer nada! Disney é arte. Os musicais são perfeitos.
Park balança a cabeça, derrotado. Olhando para o teto meio perdido.
— Desembucha.
— Nada.
— "Nada" é a resposta que você dá quando está bravo e não quer falar.
Ele vira o rosto para me encarar, os olhos mais intensos do que de costume.
— Eu só não gosto de ver você e o Ravi trocando mensagem.
Sinto meu rosto esquentar, mas não desvio o olhar.
— E o que você tem a ver com isso?
— Eu sou seu melhor amigo.
— E daí? Sou sua melhor amiga também e não me meto nas mensagens que você troca com as garotas.
— Porque você não precisa. Não dou moral pra ninguém. Não quero que você dê também.
Nossos olhares se encontram, e algo fica suspenso no ar.
Sei que Park tem ciúmes. Ele sabe que eu sei. Mas nenhum de nós vai falar.
Park entrelaça nossos dedos novamente. Eu só consinto.
Ele não vai soltar.
Nem eu.
✶✶✶
Assim que Park vai embora, abro o celular, me deparando com uma mensagem que Ravi acabou de enviar:
R: "Oi, Mia! Curti muito passar um tempo com você hoje. Espero que não tenha sido superchato pra você 😅. Sei que sou meio desastre em matemática e que você deve tá pensando: "Nossa, ele é um tapado." Mas, juro, sou mais legal do que pareço."
Tava pensando... a gente podia sair algum dia. Tipo, tomar um sorvete ou sei lá, qualquer coisa. Só, por favor, não conta pro Baek que tô te chamando pra sair, porque ele ia ser muito chato e atrapalhar tudo, sabe como é.
Ah, e... tipo, se você achar essa coisa de "encontro" meio idiota, pode chamar do que quiser, tá? Só aceita, vai. Faz tempo que tô tentando criar coragem pra te chamar. 🥺"
Achei a mensagem do Ravi fofa e consegui entender seus motivos para querer manter Park fora disso.
M: "Blza! Vamos marcar sim. E relaxa, não vou contar nada pro Park. 😉"

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Kimchi com Feijoada: Um romance com sabor de Dorama.
Teen FictionKimchi com Feijoada Sinopse - Kimchi com Feijoada Park Baek e Amélia Linhares nasceram com 24 horas de diferença e, desde então, suas vidas estiveram entrelaçadas - não por escolha, mas por um "plano perfeito" de suas mães. Cresceram juntos, como pr...