ⱽᵒᶜê ˢᵉᵐᵖʳᵉ ˢᵃᵇᵉ.

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Era tarde da noite, ou melhor, muito cedo pela manhã

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Era tarde da noite, ou melhor, muito cedo pela manhã. O relógio digital na parede da cozinha marcava 2h48. Ellie estava sentada à mesa, um copo de leite gelado à sua frente, mas ela não estava realmente prestando atenção nele. O que a consumia era o turbilhão de pensamentos que a acompanhava desde a conversa com Bucky na biblioteca. Ele estava certo sobre muitas coisas, mas também estava errado sobre outras. O fato de que ele ainda se recusava a acreditar em sua própria capacidade de mudança a irritava. Ela sabia que ele era mais do que o homem que via a si mesmo.

Ela tinha a sensação de que, mais cedo ou mais tarde, precisaria enfrentar tudo o que sentia por ele. Mas ainda não estava pronta para isso. Afinal, como poderia? A conexão entre eles era complicada demais, marcada por um medo mútuo e uma atração inegável, mas também por uma história de dor e arrependimento que parecia intransponível.

Ellie suspirou e se levantou da cadeira, decidindo caminhar pela cozinha para tentar limpar a mente. Ela abriu a porta da geladeira, mas, antes que pudesse pegar o que quer que fosse, ouviu passos suaves vindo do corredor. Ela congelou. A última coisa que queria naquele momento era ver Bucky.

Ele entrou na cozinha com uma xícara de café em mãos, os olhos treinados nela com a mesma intensidade de sempre.

— Eu não sabia que alguém mais estaria acordado. — Ellie disse, tentando esconder o desconforto em sua voz.

Bucky deu de ombros, se aproximando e se recostando na bancada, ainda segurando a xícara com as duas mãos. Ele olhou para ela por um momento, a expressão tensa como sempre, mas com um toque de suavidade que Ellie não conseguia ignorar.

— Eu não costumo dormir muito. — Ele respondeu com um tom de voz baixo e pesado.

Ellie tentou manter a postura firme, mas não pôde evitar o impulso de perguntar:

— E o que você faz quando não consegue dormir?

Bucky olhou para ela, os olhos sombrios e cansados. Ele hesitou, mas então soltou um suspiro, olhando para a xícara de café.

— Tento afogar os pensamentos. Ou me distrair com alguma coisa. — Ele fez uma pausa, como se ponderasse sobre suas palavras. — Mas às vezes, a distração não funciona.

Ellie se aproximou, agora mais curiosa.

— E o que esses pensamentos são?

Bucky sorriu de forma amarga.

— O que você acha?

Ellie suspirou e se sentou em uma cadeira próxima. Ela sabia que a resposta provavelmente não seria agradável, mas sentiu uma necessidade crescente de entender mais sobre ele. Não apenas como ele era, mas o que o tornava assim.

— Deve ser difícil. — Ela murmurou. — Viver com os próprios demônios.

Ele a olhou por um longo momento antes de responder.

— Não é fácil. Mas se você vive o suficiente com eles, aprende a conviver. Ou tenta. — Ele fez uma pausa, como se estivesse refletindo sobre o peso das próprias palavras. — Eles nunca vão embora.

Ellie baixou os olhos, pensando nas próprias lutas internas. Ela não era imune à dor, nem às sombras que ela carregava dentro de si. Mas ela sempre acreditou que, por mais sombria fosse a noite, ela sempre acabava dando lugar ao amanhecer. Ela sabia que Bucky também precisava acreditar nisso.

— Eu não sei... — Ela começou, hesitante. — Acho que ninguém deve viver assim, Bucky. Com essa escuridão.

Ele arqueou uma sobrancelha, observando-a com ceticismo.

— Você acha que é simples? Que é só decidir deixar tudo para trás e seguir em frente?

Ellie não hesitou.

— Não é simples, mas é possível. A questão é se você realmente quer. Você tem uma segunda chance, Bucky. Não tem que viver para sempre com o peso do passado. Pode começar de novo, se você quiser.

Ele deu uma risada baixa, sem humor.

— Uma segunda chance? Depois de tudo o que eu fiz? Você realmente acha que alguém como eu pode ter uma chance de ser feliz novamente?

Ellie o encarou, seus olhos firmes. Ela sentia uma mistura de compaixão e uma necessidade quase desesperada de fazê-lo acreditar naquilo que ela sabia ser verdade.

— Claro que sim. — Ela disse suavemente. — Você pode ser feliz. Mas para isso, tem que se permitir. Tem que entender que o passado não define quem você é agora. O que você faz com o futuro é que importa.

Bucky olhou para ela, algo em seu olhar suavizando, mas ainda sem acreditar completamente nas palavras dela.

— E como eu saberia se alguém pode me perdoar? Como eu saberia se alguém... se alguém como eu merece isso? Se alguém me amaria?

A pergunta pairou no ar, e Ellie ficou em silêncio por um momento. Ela nunca tinha pensado muito sobre como seria ser o tipo de pessoa que daria uma chance a alguém como Bucky, mas, olhando para ele, algo dentro dela dizia que ele merecia mais do que ele acreditava. Mais do que ele estava disposto a admitir.

— Você saberia. — Ellie respondeu com firmeza.

Ele a observou, os olhos fixos nela, tentando entender o que ela queria dizer. Ellie sentiu seu coração acelerar, mas permaneceu firme, encarando-o sem desviar o olhar.

— Como assim? — Bucky perguntou, a voz agora mais suave, como se a resposta de Ellie pudesse ser a chave para algo importante.

Ellie respirou fundo, tomando coragem antes de falar.

— Quando você ama alguém, você simplesmente sabe. Não é uma questão de merecer ou não. É uma questão de querer compartilhar sua vida com essa pessoa, de estar disposto a ser vulnerável, a se entregar. Se você encontrar alguém que te faça sentir isso, você vai saber. Porque, no fundo, sempre soubemos.

Aquelas palavras ficaram no ar entre eles, como um sussurro de algo que parecia quase impossível. Bucky ainda parecia relutante, mas havia uma mudança sutil no seu olhar.

— Você acha que eu posso amar alguém?

Ellie sentiu uma dor leve no peito, uma mistura de ternura e pesar. Era difícil, ela sabia, mas algo dentro dela acreditava que Bucky podia encontrar a paz e o amor que tanto merecia.

— Sim. — Ellie disse suavemente, sua voz carregada de sinceridade. — Você pode.

Bucky ficou em silêncio por alguns segundos, a tensão entre eles crescendo a cada batida de seu coração. Então, ele finalmente baixou a cabeça, como se uma parte dele tivesse se rendido.

— E você? Você acha que algum dia alguém pode olhar para mim e... gostar de mim assim? Com tudo o que eu sou?

Ellie sentiu a pergunta quase como um peso no peito. Não era apenas sobre Bucky encontrar alguém. Era sobre ela e o que ela estava começando a sentir por ele. Ela se levantou, caminhando até a janela, olhando a luz suave da lua que iluminava o jardim.

— Talvez. — Ela disse finalmente, sem olhar para ele. — Talvez seja apenas uma questão de tempo.

Bucky não respondeu. Mas a resposta estava ali, não dita, mas claramente compreendida.

E, naquele momento, Ellie soube que as palavras dela não eram apenas para ele. Elas eram para ela mesma também. Ela também sabia que a vida tinha suas surpresas. E, às vezes, o amor encontrava seu caminho de formas inesperadas.

Ꮯᥣᥲเɾ᥎ꪮᥡᥲᥒᥴꫀ ᴮᵘᶜᵏʸ ᴮᵃʳⁿᵉˢOnde histórias criam vida. Descubra agora