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  Atualmente...

  Enquanto eu socava e chutava o saco de pancadas, ouvia o som seco dos meus golpes atingindo a lona branca. Estava tentando tirar toda a melancolia e ressentimento que eu estava reprimindo a um tempo, principalmente depois de ontem à noite.

  Ainda era cedo, mas eu já estava suada e sentindo o calor invadir meu corpo completamente. Meu cabelo, que estava preso em um coque, já estava quase soltando por causa da intensidade dos golpes.

— Como pôde voltar assim do nada? — eu indaguei para o saco de pancadas, como se tivesse esperando ele me responder. — Acha que é tão fácil assim?

  Eu desferi um chute que afastou o saco de pancadas e parei por um instante, para recuperar o fôlego. Eu podia fazer isso o dia todo para espantar a raiva, ou aumentá-la de vez. Eu só esperava não explodir de tanto reprimir meus sentimentos.

  Ainda que o sentimento de fúria estivesse me dominando, havia também outra emoção que perturbava meu coração. Eu estava tentando evitar trazer ele à tona, mas o Wolf aparecendo de repente deixou essa sensação exposta. Era algo como afeição, saudades ou algo parecido. De qualquer modo, eu queria enterrar esse sentimento ridículo que me deixava desconcentrada.

— Coração idiota! — eu gritei, então desferi um novo chute no saco de pancadas, abrindo um pequeno furo, o que deixou a areia fina caindo. — Ai, droga...

  Eu corri para o interior do dojô, pegando um esparadrapo do kit de primeiros socorros e voltando para o exterior, colocando um pedaço no furinho do saco de pancadas.

  Me afastei um pouco, para ter uma visão mais ampla do curativo que eu fiz. Se eu não fosse uma lutadora, dava pra eu ser enfermeira.

— Acho que ele não vai notar. — disse, tentando convencer a mim mesma. Mas o saco era branco, e o esparadrapo mais amarelado. — Depois compra outro. LaRusso é rico.

  Percebendo que socar o saco de pancadas não era o suficiente, eu decidi me deitar no deque de treino, sentindo o calor do sol me atingir. Eu não estava com uma roupa muito composta, por isso sentia o sol queimar minha pele aos poucos. Mas estava gostando daquela sensação, e uma onda de nostalgia bateu em mim ao me lembrar de quando o Wolf cobriu o sol do meu rosto, com aquele olhar sério e frio.

— Ai, ele era tão irritante. — sussurro para mim mesma, bufando. — Mas lindo. Um insuportável lindo. — percebendo minhas próprias palavras, eu me sentei no deque, repreendendo a mim mesma. — Ai, credo. O que estou falando?

— Sabia que falar sozinha é um sinal de que a pessoa tem problemas mentais? — uma voz me tirou dos meus próprios pensamentos, me fazendo instantaneamente jogar a minha garrafa de água na direção dele.

  Miguel pegou a garrafa com perfeição, subindo os degraus do deque para sentar quase de frente para mim. Falcão estava acompanhando ele, com um sorriso brincalhão nos lábios.

— Vai ver ela é doida. — Falcão completou a fala do amigo, se deitando perto de mim, mas garantindo que a sombra do meu corpo cobrisse seu rosto. — Isso explica porque o saco de pancadas tá com um esparadrapo.

— Sorte a sua é que o saco de pancadas que tá com o esparadrapo, e não você. — rebati, ouvindo a risada do Miguel e o Falcão rir teatralmente.

— Haha, muito engraçado.

  Eu peguei a mochila perto de mim e comecei a comer a barra de proteína, arrancando cada pedaço com ódio.

— Eu não ia querer ser essa barra de cereal. — Miguel brinca, depois franze a testa. — Desde quando você come isso?

— Ei, eu sou saudável! Às vezes...

Dual destinies | Cobra Kai - WolfOnde histórias criam vida. Descubra agora