II

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Tanjirou sentiu uma pontada latejante na cabeça assim que seus sentidos começaram a retornar. Uma dor forte o fazia franzir o rosto enquanto abria os olhos lentamente. Ele piscou algumas vezes, tentando se adaptar à visão turva e à iluminação fraca do ambiente. Não se lembrava de ter ido dormir na noite anterior, e o lugar onde estava certamente não era seu quarto.

A primeira coisa que percebeu foram as paredes de madeira em volta, ásperas e simples. Uma luz amarelada, fraca e trêmula, iluminava o local de forma precária. Não havia janelas visíveis, apenas um espaço fechado e claustrofóbico. O ar era pesado, carregado com uma sensação de tensão opressora.

E então ele se lembrou. A luta com Muzan. A sensação de ser agarrado pelo pescoço e o som da biwa ecoando na floresta. Ele recordava o momento em que sua visão se apagou. Seu coração disparou. Onde estava Nezuko? Quase podia sentir a luz do sol começando a iluminar o horizonte quando perdeu a consciência. Ela tinha que estar bem. A preocupação apertou seu peito como um peso esmagador, quase o fazendo esquecer da dor na cabeça.

"Finalmente acordado."

A voz cortou seus pensamentos, fazendo seu corpo inteiro congelar. Ele sentiu um arrepio imediato e virou o olhar para a origem do som. Lá estava ele. Muzan. Sentado em uma cadeira de madeira simples, com os cotovelos apoiados nas pernas e a cabeça descansando casualmente sobre as mãos. Ele o observava com um olhar calmo, quase entediado, como se estivesse analisando cada pequeno movimento de Tanjirou.

"Muzan!" A adrenalina tomou conta, e Tanjirou tentou se levantar instintivamente, seu corpo agindo antes de sua mente. Mas, antes mesmo de se mover totalmente, ele sentiu uma força impedindo seus pulsos. Ele olhou para baixo e percebeu que estavam amarrados.

"O quê?!", exclamou Tanjirou, puxando inutilmente contra as amarras apertadas que o mantinham preso. Seu olhar voltou para Muzan, agora cheio de frustração e ódio. Ele tentou manter a calma, mas seu coração batia como um tambor, ecoando em seus ouvidos. O rei dos demônios manteve-se imóvel, observando com um sorriso sutil nos lábios, claramente se divertindo com o desespero de Tanjirou.

"Você realmente achou que eu seria tolo a ponto de deixá-lo solto? Seria a atitude mais idiota que poderia tomar." A voz de Muzan era suave, mas carregada de arrogância, quase zombeteira. Ele se levantou calmamente da cadeira, os movimentos fluidos e controlados, e começou a andar pelo espaço com um passo deliberadamente lento. Cada clique de seus sapatos contra o chão reverberava pelo lugar, ampliando o silêncio opressor. 

Tanjirou apertou os punhos contra as amarras que o prendiam, os dentes cerrados de frustração e raiva. Ele levantou o olhar, fixando-se em Muzan com intensidade. "Se vai me matar, faça logo!" exigiu ele, sua voz rouca, mas cheia de determinação. "Mas primeiro, me diga: onde está minha irmã?! O que fez com Nezuko?!" A preocupação queimava em seus olhos, misturada ao ódio que pulsava com força em suas palavras. 

Muzan parou por um momento e virou o olhar lentamente para ele, o sorriso em seu rosto apenas ampliando a tensão. "Matar você? Ainda não. Isso seria desperdício de uma oportunidade..." Sua voz baixou para um tom quase desinteressado antes de continuar, "E quanto à sua irmã... Ela ficou na floresta, abandonada à própria sorte. Pelo que sei, a essa altura já deve ter virado pó sob a luz do sol." 

Essas palavras atingiram Tanjirou como uma lâmina atravessando seu peito. Ele ficou em silêncio por um momento, seu corpo inteiro paralisado pelo choque. Mas logo seus olhos começaram a arder, e ele sentiu a dor emocional se transformar em lágrimas quentes que deslizavam pelo rosto. Ele abaixou a cabeça enquanto o choro veio em ondas, um misto de desespero e negação. 

"Não... não pode ser... Nezuko..." Ele respirava com dificuldade, as lágrimas pingando no chão de madeira. Mas então um pensamento atravessou o caos de sua mente. Ela era forte. Mesmo inconsciente, ela teria instintivamente se escondido na caixa para se proteger. E o Esquadrão de Caçadores poderia ter chegado até ela a tempo. Sim, havia uma chance. Ela poderia estar bem. 

Luar de Sangue (Akajiro)Onde histórias criam vida. Descubra agora