capítulo 13

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{Cleópatra Nunes}

Eu já tava quase me jogando na areia, e rolando como pose para que Alejandro tirasse as fotos, de tanto troca, troca de pose. Fiquei até zonza. Troca de vestido, troca de acessórios, troca de pose, entra na beira do mar, espera onda, pose na escada, sobe no capô do carro, senta na areia, faz penteado, deixa o cabelo solto, prende, solta de novo.

Nem com tudo isso, acho que vai ficar bom.

A empresária estava um pouco mais afastada da gente, estava ao telefone, conversando com alguém que provavelmente não era nenhum sócio ou algo assim, pelo jeito que ela falava. Ela não acompanhou muito de perto o ensaio, parecia impaciente, e cada hora ia fazer uma coisa diferente. Certa hora Margareth tava no telefone, depois conversando com alguém da equipe, era só piscar que ela aparecia com um tablet fazendo algo, olhava e lá estava ela na beira do mar, e se olhasse de novo, ela já tinha sumido.

Chuto dizer que ela estava muito ansiosa pra alguma coisa.

Meu olhar desce para seus seios, de tamanho mediano, mas que pareciam aumentar de volume, pelo top apertado. Nossa...

- Cleópatra. - gelo. Acho que passei tempo demais encarando os seios dela. Meu olhar sobe até seus olhos, que estão fixos em mim, enquanto caminha em minha direção. - concentre-se no ensaio, poderá olhar para meus seios depois, e sem plateia. - murmura baixo guardando seu celular no bolso.

O que tá acontecendo comigo?

Desvio o olhar, se eu fosse branca já tava igual a um pimentão. Ai Deus, que vergonha. Pressiono os lábios, olhando fixo para o mar. Acho que vou ir alí me afogar, será que dá tempo pra fazer isso?

Mas é quase como um imã, toda vez coloco os olhos nela, meu olhar vai descendo e sempre para no mesmo lugar... eu preciso marcar um psicólogo logo.

Continuamos a tirar as fotos, mais em nenhum momento Margareth Sullivan saiu de meus pensamentos, e quanto mais eu tentava me distrair, mais a espanhola grudava na minha cabeça igual chiclete.

- Alê, Cleo, a chefe tá chamando pra uma pausa. - um garoto que não devia ter mais que 19 anos avisou.

Fomos pra dentro da casa, e havia uma mesa enorme, com muita comida. Se ser modelo é ganhar comida, eu acho que vou virar modelo profissional mesmo. Credo, até parece que tô passando fome em casa.

Todos conversavam enquanto comiam, e é incrível ver a espanhola conversar com todos daquela mesa, como se eles não fossem apenas seus funcionários, é mais como se eles fossem a familia pra ela. E pra uma empresária famosa, e cheia de dinheiro, e mau humorada, não é normal de se ver isso.

Ou ela tá só doente, por isso tá interagindo assim?

Vendo assim, acho que tirei conclusões precipitadas... e se ela não quiser me matar, e só foi uma confusão da minha cabeça? Apesar da fama, e das expressões de colocar medo, ela não me parece uma pessoa assim... ruim.

- acho que você deveria investir. - Alê sussurra.

- que? - investir? Franzo o cenho.

- nela. - aponta com o queixo pra Margareth.

Hã? O que tem ela? Olho ao meu redor, e volto minha atenção para minha chefe, faço isso várias vezes, até finalmente meu cérebro processar.

- tá doido?! Eu gosto de homem. - digo rapidamente.

- é como eu falar que gosto de mulher. - diz. Arqueio uma sobrancelha. - eu sou gay, vou estar mentindo.

Analiso suas palavras... Ele tá falando que tô mentindo? Alejandro tá me estranhando, só pode. Eu sou hétero.

- eu não tô mentindo, eu realmente gosto de homem. - falo devagar, para que dessa vez, o homem possa entender. - eu sou hétero.

Da onde ele tirou que gosto de mulher?

- hétero? Babando na sua chefe, olhando pros seios dela, e ainda a olhando com esse brilho nos olhos, me poupe dessa história de hétero. - o fotógrafo me encara. - você só tá se enganando.

Me enganando? Ele quer saber mais de mim do que eu mesma?

Antes de eu responder, Alê simplesmente saiu do cômodo, atendendo uma ligação e me deixando pra trás.

- Cleo? - vejo a tatuada que assombra meus pensamentos se levantar. - vamo pra areia.

Concordei com a cabeça, enquanto passávamos pela sala, Alejandro García solta um grito histérico, que assusta todos dali.

- eu esqueci de um outro ensaio fotógrafo, tem problema se continuarmos amanhã? - fala tão rápido, embolando as palavras, que eu quase não entendi.

- nenhum problema. - a mulher ao meu lado diz calmamente.

Vejo o fotógrafo pegar tudo, e a sua equipe também, e em tempo recorde organizar todas as coisas. E em um piscar de olhos, havia só eu e minha chefe naquela casa enorme, eu teria que ligar pra Jonas vir me buscar, já que tínhamos combinado que ele viria mais tarde para me buscar.

- acho que... então vou mandar mensagem para Jonas. - comento.

- não precisa, eu te levo depois. - caminha até a varanda, e eu a sigo. - queria conversar com você.

Travo. Será que é porque eu sem querer olhei pros seios dela e ela viu?

- acho que você recebeu um convite para estar em um evento no domingo. - fala sem olhar pra mim.

Um evento que eu definitivamente não vou comparecer.

- uhum.

- queria lhe convidar para ser minha acompanhante nesse enveto. - sua atenção se volta a mim, o que me faz ficar nervosa.

Calma Cleópatra, tá tudo certo, ela apenas está te convidando, é só dizer não.

- eu aceito. - me assusto levemente pelo o que saiu da minha boca. Era pra dizer não! Que merda!

Tudo bem, é só um evento.

- quer aproveitar que o mar tá calmo, ou quer ir embora? - pergunta.

Bom... eu preciso urgentemente conversar com a Athena, sobre muitas coisas... Mas eu também queria ficar um pouco mais com a empresária.

- eu vou preferir ir embora, tenho muitas coisas pra fazer. - dou um meio sorriso.

Eu não tenho muitas coisas pra fazer, só preciso conversar seriamente com a Athena, e marcar um psicólogo pra mim.

- certo. - concordou.

Pegamos nossas coisas, e seguimos para a Bugatti de Sullivan. Com ela meio perto, era possível sentir seu cheiro, cheiro de limão com baunilha, um cheiro muito bom.

- desculpa. - murmuro.

- desculpa? Pelo o que? - franze a testa.

- por... por hoje mais cedo... - falo sem jeito. - por... eu olhar seu... seios.

Apesar de ficar com vergonha ao falar, me sinto na obrigação de pedir desculpa por isso.

- ah... - desvia o olhar para mim. - então devo pedir desculpas também.

- hum? Porque? - pergunto confusa.

- porque em qualquer oportunidade que tenho, olho pra sua bunda, e pro seus seios. - ela diz descaradamente, me fazendo abrir e fechar a boca várias vezes, sem ter nem coragem de dizer algo.

Ela olha pra minha bunda e pro meus seios?!

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