Terra de Ninguém.

025

Isis Vitoria.
Rocinha, Rio de Janeiro.

Eu subi o morro pela primeira vez sozinha, sem a maluca da Karine e isso pra mim é sinal que eu to ficando louca pelo Cicatriz, coisinha que me preocupa pra caralho.

Tava com a foto que ele me mandou ontem apontando a arma na cabeça de um cara grudada na minha mente, medo pra cacete da onde eu to me enfiando em me envolver com esse maluco.

Eu tava rodeada dos vapores dele que me esperaram lá na barreira e tão andando comigo até o camarote, a sensação do olhar das pessoas em cima de mim me causava calafrios e eu me sentia estranha sabendo que eu tava rodeada de homens armados que nem disfarçavam que naquele momento a única coisa que importava pra eles era fazer a minha "segurança", como se eu fosse alguma coisa importante ali.

Soltei a fumaça do meu pod e me concentrei nos meus passos em cima do salto alto tentando não deixar o nervosismo transparecer de um jeito que todo mundo notasse.

Chegando na escada do camarote todos eles abriram espaço pra mim e eu olhei pra cima vendo o homem alto, tatuado, que tava todo de hugo boss e boné, me encarando com a mesma intensidade de sempre.

Gostoso do caralho.

Subi degrau por degrau sem desviar dos olhos dele e namoralzinha mesmo? troca de olhar é um ponto fraco meu.

Cicatriz: fala tu minha loirinha, tava te esperando po.

– precisava de tudo isso? to com vergonha.

Sorri com ele me puxando pra ele e passando os braços pela minha cintura em um tipo de abraço onde eu escondi meu rosto contra à camiseta dele sentindo o ar de riso que ele soltou.

Cicatriz: tudo isso o que? e vergonha de que?

– Cicatriz cê tem noção de como é a barreira dessa favela em dia de baile? tava lotado lá em baixo e eu simplesmente passei na frente de todo mundo como se fosse a dona desse lugar, pra melhorar tudo ainda fui escoltada até aqui por o que? 6 homens? completamente armados, e outra eu mal pisei aqui cê já ta me abraçando sabendo que daqui todo mundo lá de baixo ta vendo.

Cicatriz: primeiro que tu é a mina do "dono desse lugar" então com certeza tu vai passar na frente de qualquer um, segundo que eram 8 homens, mandei ficar dois de cada lado, um na frente e outro atrás, ta ligada que segurança nunca é demais?! e terceiro que cê veio pra cá pra que? pra ficar comigo não foi? então eu vou te esconder porque? tu ta comigo loirinha.

Ele me deu um selinho demorado e eu virei a cabeça pra trás vendo aquele tanto de gente curiosa olhando pra nossa direção.

– eu sou tua mina dês de quando?

Perguntei enquanto ele me puxava pra um canto mais pro fundo.

Cicatriz: dês do dia que cê foi fumar comigo pela primeira vez e me enfeitiçou com esse papinho seu, caí legal no teu golpe.

– ta apaixonado em mim dês do ano novo?

Cicatriz: papo é que eu não te tiro da mente dês da primeira vez que eu bati o olho em tu.

Não dou conta de competir com um homem desse, a lábia dele derruba qualquer uma.

Beijei a boca dele sentindo o apertão que ele deu na minha cintura e sorri me desconcertando um pouco quando ele puxou o meu cabelo pra trás me fazendo encarar ele.