capítulo 8

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{Cleópatra Nunes}

Estou com dor de cabeça, essa maldita dor de cabeça, que não me deixa em paz. Eu estava nervosa, pelo simples motivo de que eu estava ao lado da empresária no banco do passageiro em seu carro de luxo, e muito confortável, indo para um restaurante.

Eu estou desconfiada que ela vá me demitir, ou que ela realmente vá comer meu fígado. Margareth odeia atrasos pelo que todos falam, mais quando a encontrei, ela não parecia estar brava por eu ter me atrasado bem mais do que um simples atraso de 5 minutos.

- você está bem? - a voz rouca mais ainda suave soa quebrando o silêncio.

Não.

- só... um pouco de dor de cabeça. - olho de relance para a morena.

- abre o porta luvas, tem remédio pra dor de cabeça, e uma garrafa de água. - fala sem me olhar.

Abro o porta luvas, de fato havia uma caixinha de remédio para dor de cabeça, e uma garrafa de água. E se ela envenenou a água?

Para de pensar isso Cleópatra! Ela é sua chefe, não faria isso.

Meu subconsciente raia.

Pego uma cartela do remédio, e a garrafa de água, destacando um comprimido.

- obrigada. - murmuro, tomando o remédio, com um gole de água.

O automóvel para, e não sei se fico feliz porque não vou mais estar sozinha com a mulher, ou se fico mais nervosa ainda.

- não saia. - diz e eu levanto uma sobrancelha.

Exi, e porque é pra mim não sair? Quer ver que o carro vai explodir.

A tatuada sai do carro, e da a volta no mesmo, abrindo a porta e estendendo a mão para me ajudar a sair da bugatti Chiron preta.

Pego sua mão, e saio do automóvel com sua ajuda, fico imóvel, a fachada era de um restaurante caro, restaurante onde só os ricos entram.

Ah pronto, vou precisar vender meu coração pra comer algo aqui? Vou pisar e já vai ser –100.000.000 na conta.

- o que foi? - sinto os olhos atentos e intimidadores de Sullivan em mim.

- eu não posso pagar esse restaurante. - me viro para ela, que esboça um sorriso.

- e quem disse que é você que vai pagar? - a mulher adentra o estabelecimento me deixando sozinha, plantada na calçada.

Dá tempo de fugir. Olho ao redor. Mais é perigoso eu desmaiar no meio do caminho por não ter comido nada. Respiro fundo e entro em passos rápidos para alcançar a espanhola. Pelo menos é ela que vai pagar né. Os olhares das pessoas que estavam alí, recairam sobre mim, alguns desses olhares me julgavam, outros deles tinham expressão de nojo, poucos me admiravam.

- acho melhor eu ir embora. - sussurrei para a mais velha.

- e porque? - olha de soslaio.

- esse lugar não é pra mim, olha como o povo me olha. - nos sentamos em uma mesa.

A tatuada não fez nem questão de olhar ao redor para ver como as pessoas estavam me olhando, ela apenas pegou o cardápio e me encarou, uma encarada que eu tenho certeza que ela viu até minha alma.

- são eles que vão pagar o que você vai comer? - pergunta, balanço a cabeça negando. - então não tem com que se importar com o que eles falam ou pensam.

Além de tomar lição de moral da minha mãe, agora vou tomar da minha chefe? Isso é muita má sorte.

Pego o cardápio, quase caindo pra trás ao ver os valores dos pratos. Minha nossa senhora, acho que até pra respirar nesse lugar deve cobrar. Vejo o prato mais barato, pra minha sorte, e pra minha fome, era macarronada. O garçom veio, Margareth pediu o seu prato, e vinho, eu pedi o meu, junto com suco de maracujá.

Quem em sã consciência toma vinho às 13:50 da tarde?!

- porque mudou de país? - a morena pergunta. De certo tentando puxar assunto, dessa vez, não fiquei apreensiva, como das outras vezes que as pessoas puxam assunto comigo.

- eu morava em uma cidade pequena, não tinha tantas oportunidades... - nem eu sabia direito o porque eu e minha amiga tínhamos nos mudados, ah não, calma, eu sei sim, mais não vou falar pra ela que estava tudo 100% uma merda. - e era sempre a mesma coisa.

- então se mudou porque queria coisas novas? - seu olhar fixo em mim, começa a me deixar nervosa.

- basicamente. - desvio o olhar.

- e o que está achando da cidade?

- ainda não tive muito tempo pra aproveitar, e conhecer a cidade, bom, em um dos dias que fui fazer isso quase morri afogada. - seguro o riso. Eu tenho que parar de fazer piada com a minha própria desgraça, e parar de achar a desgraça engraçada.

- é, você não teve muita sorte. - dá um meio sorriso. - posso te levar pra conhecer a cidade algum dia.

Ela tá se oferecendo para ser minha "guia" e mostrar a cidade? Ou talvez seja um plano mirabolante para ela se vingar por eu ter chegado 3horas atrasada.

Ela não quer se vingar Cleo, foca.

- pode ser. - digo quase que no automático.

Será que ela é tão péssima assim, como dizia naquele site? Nem tudo que a gente vê na Internet é real né... Ela tá até tentando ser amigável.

O garçom voltou com nossos pratos, e bebidas, e o silêncio tomou conta da nossa mesa, mas não era um silêncio constrangedor, pelo contrário, era um silêncio confortável.

Margareth estava concentrada em comer, e eu estava concentrada em duas coisas, comer, e analisar ela.

Nunca havia reparado que ela tinha piercing, mas as duas orelhas da empresária é repleto deles, até que eles dão um charme, além das tatuagens que sobem até o pescoço. Os cabelos de Sullivan chegavam até seu peito, diria que não é nem tão curto, nem tão longo, um médio, seu olho é em um azul penetrante, seus lábios são carnudos, e eu tenho certeza que ela colocou botox.

Não é possível que sejam tão carnudos assim naturalmente.

Porque eu tô reparando na boca dela? Balanço a cabeça, continuando a minha análise.

Ela não tem 39 anos, é impossível... bom... a Internet pode ter mentido né, só pode.

- quantos anos você tem? - arregalo os olhos, percebendo que pensei alto demais.

Puta que pariu, que falta de educação.

- 39. - dá um gole no vinho.

A Internet realmente não mentiu, e eu quase cai dura. É capaz de eu ser demitida por justa causa... se bem que... eu ainda não assinei o contrato, então tecnicamente eu não estou contratada.

Deus tudo bom com você? Sou eu de novo, me ajuda a sobreviver nesse emprego sem dar uma fora, obrigada.

- pensei que fosse mais nova. - em minha defesa, eu não consegui segurar a língua.

- a aparência ajuda a enganar. - responde. - mais o documento de certo que não.

Ok, agora eu acredito que ela tem 39... acredito mais o menos. Só vou realmente acreditar quando eu vê provas, até lá, nada está decidido.

Terminamos de comer, a maior pagou a conta, fomos para o automóvel, e eu ainda estava curiosa, estava pensando, se ela tem 39 anos... deve ser casada, ter filhos... ainda mais bem sucedida do jeito que é.

- você tem marido? - solto tão rápido, que até eu me surpreendi com o que falei.

- sou lésbica, e não sou casada. - ela dá partida no carro.

Ela é lésbica?!

Lésbica? Ela é lésbica... Ela gosta de mulheres...

O caminho de volta a Velouría foi em puro silêncio, a notícia de que Margareth é lésbica me impactou um pouco, e eu não sei o porque.

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