{Cleópatra Nunes}
Depois do meu afogamento, ficamos mais algumas horas na praia até irmos embora. Obviamente eu não sai mais do campo de visão de minha amiga.
Fiquei pensando por um bom tempo na proposta da espanhola.
Eu odeio tirar fotos, mais preciso de dinheiro, e rápido, não tenho emprego. O que leva essa proposta ser boa, mesmo eu sendo péssima em fotos.
— Tete? — a chamo, a mesma estava deitada com as pernas sob minhas coxas. — lembra o nome daquela mulher que me salvou?
— Vanessa... não... — fica em silêncio, tentando se lembrar. — Margareth Sullivan.
Meu notebook estava apoiado em cima das pernas da branca, aguada, e azeda, rapidamente procuro o nome da mulher.
— achei. — murmuro vendo uma foto da morena, junto com algumas informações e alguns sites abaixo.
— diz ai. — a outra me encara atentamente.
Fofoqueira.
— Margareth Sullivan... 39 anos... calma! 39 anos? — praticamente grito, meus olhos arregalados.
— impossível, ela parecia ter uns 26 por ai. — se ajeita.
— mais tá aqui, 39 anos. — leio e releio várias vezes a mesma linha, para garantir que estou lendo certo. Ignoro o fato da gente ter sido enganadas pela aparência de Margareth, e volto a ler. — dona da maior empresa de roupa feminina, além de empresária, é estilista, e bilionária.
— então ela não é só um rostinho bonito?
—pelo visto não. — desvio meu olhar da tela, e logo volto a minha atenção no aparelho, entrando no primeiro site abaixo dessas informações. — parece que ela costuma ser fria, e direta nas entrevistas que dá. Ela também tem uma irmã de 25 anos, que trabalha na empresa como gerente, Elizabeth Sullivan, parece que ela tem uma adega de vinhos.
— huumm... e você vai aceitar ser modelo? Vamos precisar de dinheiro. — a ruiva diz, e um sorriso travesso surge em seus lábios. — e eu vou adorar dizer que a minha melhor amiga é modelo.
— não sei Tete... eu não gosto de fotos... — fecho o notebook.
Abaixo minha cabeça, lembrando de cada palavra de Marcos.
— Cleo, o marcos é formado no que mesmo? — pergunta de repente.
— medicina. — respondo ainda estranhando a pergunta.
— certo, e você vai acreditar em alguém que é médico, que inclusive nem sabe se vestir direito, muito menos deve saber o que é sair bem em uma foto, ou vai acreditar em uma estilista, sarada, que falou que você sim é perfeita pra ser modelo? — cruza os braços, seu olhos se estreitam em minha direção, e uma batalha se trava em minha mente.
Marcos é meu ex marido, basicamente ninguém da minha família gosta dele, tirando meu pai, que era o único que insistiu até o último momento para que nós dois ficássemos juntos. Sabe aquele príncipe encantado, que parece que saiu dos contos de fada? Pois é, foi o que eu achei quando conheci ele.
Cavalheiro, fofo, gentil, romântico, cuidadoso... não passava de uma farsa para conseguir me conquistar. Suas palavras nunca saíram da mimha mente, sempre me rondam a noite, e meu medo dele me achar e vir atrás de mim, é constante, mesmo que ele aparentemente tenha lidado "bem".
— para de pensar naquela ratazana sem dente! — me chacoalhou.
Respirei fundo, olhei para a ruiva e a vi com meu celular digitando algo.
— o que tá fazendo? — arqueo uma sobrancelha.
— mandando mensagem pro número que aquela mulher me deu. — arregalo os olhos desesperada ao ouvir suas palavras.
— me dá! — grito, e pulo em cima da garota, nós duas emboladas uma na outra. Com muito custo, finalmente tenho meu celular em mãos, desbloqueio o mesmo, para apagar a mensagem quando o aparelho apita. A tal empresa havia respondido. — porra, responderam.
— deixa eu ver. — toma o celular de minha mão, vendo a mensagem. — Olá, boa noite senhorita Cleópatra, ficamos feliz que aceitou a proposta de nossa chefe. A senhorita estaria disponível amanhã às 10horas, para conversar sobre suas horas de trabalho, e valor? — Athena lê.
— ai jesus, tô nervosa. — murmuro.
Minha amiga ficou quieta, ciente de que eu precisava de um tempo para assimilar todas as informações, até pensar em algo que realmente fosse o certo para mim.
A primeira coisa que fiz depois de concordar com o horário, foi pegar meu notebook novamente e pesquisar tudo sobre a empresa, e tudo sobre modelos, já que não sei nem o básico.
A real, que quando vi o horário já havia se passado das 00:00, não era atoa que Tete dormia no sofá, ela estava acordada, bom até duas horas atrás.
— Tete, acorda. — a balancei com cuidado.
Levei Athena meio desorientada pelo sono para seu quarto, e assim fui para o meu, colocando meu pijama mais confortável e me acomodando.
Descobri que uma modelo iniciante ganha €1.000 por mês aqui, por ai, vai sempre variar de quantos trabalhos a modelo faz. Mais... quanto eu vou ganhar? Quanto eu posso propor para Margareth me pagar? Quanto ela está disposta a me pagar?
Me reviro na cama. Será que esses vestidos são bonitos? Será que meu trabalho como modelo vai ser bom? Talvez isso não dê certo... ainda posso cancelar, dizendo que ocorreu um imprevisto ou algo assim... Mais eu ainda preciso de dinheiro e de um emprego...
Sinto meus olhos pesarem, e agarro minha girafa de pelúcia. Eu posso ser uma "modelo" temporária até achar algum outro emprego... isso... isso é uma ótima idéia.
— Cleópatra! Cleópatra! — ouço a voz de Athena distante, enquanto sou chacoalhada, viro para o outro lado, e repito o ato até ver que os empurrões não iriam parar, abro os olhos lentamente, me acostumando com a claridade do local. — acorda vagabunda! Já é 08:30! Até você se arrumar, vai demorar e a empresa é longe! Acorda mulher!
Dou um salto da cama ao processar ainda sonolenta as informações. Confiro o horário, Athena não estava me enganando, era 08:32. Corro até o banheiro, faço todas as minhas higienes pessoais, e tomo um banho nível recorde, mais ainda dentro do possível, pois eu que não vou deixar de tomar um banho decente né.
— Tete! Você pode me acompanhar? — grito revirando meu guarda roupa a procura de um look perfeito.
— mais é claro, eu ia mesmo se você não pedisse. — diz alto, o que não chega ser um grito, já que a mesma caminhava pelo corredor.
Vesti um vestido solto lilás, delineado, rimel e gloss, sem contar alguns acessórios pratas. Estou pronta.
Coloco algumas coisas em uma pequena bolsa, como documentos, celular, e afins. Quando chego na cozinha, vejo que mimha amiga já havia feito o café da manhã, e inclusive ela já tinha comido.
Por pura ansiedade, tomei apenas um suco. Como será essa tal empresa?
Depois de um certo tempo, eu e a ruiva estávamos dentro de um uber, longe da nossa casa, e próxima da Velouría. O automóvel estacionou e fiquei boquiaberta com o tamanho do prédio. Impossível o prédio todo ser parte da empresa... ou é possível?

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Girassóis à Beira-Mar
RomanceMargareth Sullivan, uma empresária espanhola tão fria quanto o mar que tanto ama, vê sua vida meticulosamente organizada virar de cabeça para baixo quando conhece Cleópatra Nunes, e está disposta a fazer o que for preciso para ter a senhorita Nunes...