✨ Capítulo 27 ✨

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Gildor seu pai. Sua figura alta e firme irradiava a força de quem carrega, em silêncio, tormentos que nunca ousou transformar em palavras. Ele conhecia os sofrimentos da esposa desde o primeiro instante. Desde a noite em que ela acordara ao seu lado, com a mão sobre o ventre e os olhos cheios de temor, ele soube que nada mais seria leve.

Desde o nascimento de Melian, Evren havia se tornado mais que um irmão: era guardião, protetor e muralha. Não foi apenas amor fraterno que moldou sua vocação, mas o próprio desígnio da natureza. A Mãe Natureza, em sua sabedoria misteriosa, havia feito dele o mais poderoso mago, para que nada pudesse atravessar sua proteção inabalável.

Era um equilíbrio perfeito. A própria terra, sábia e imaculada, operava em vias de mão dupla. Para cada ameaça, uma resposta. Para cada ferida, uma cura.

E quando o mal se tornou pesado demais para ser suportado, quando Oberon espalhou sua destruição sobre a terra, a natureza respondeu com uma dádiva inigualável: o nascimento do sangue dourado.

Aquele dom não era comum. Era a cura na sua forma mais pura, a esperança cristalizada em veias humanas. Um poder capaz de neutralizar a escuridão, equivalente em força à destruição que devorava o mundo.

E esse poder agora repousava em Melian.

Uma promessa havia sido feita, e naquele instante todos souberam que o destino de Melian, por mais pesado que fosse, jamais seria carregado por ele sozinho.

[...]

Valery caminhava por dentro de si mesma. Não havia mapa, nem trilha, nem guia. Apenas um caminho que se revelava passo a passo, como se o próprio universo fosse um espelho vivo de sua consciência. A cada noite, os sonhos lhe ofereciam fragmentos, peças soltas de um quebra-cabeça antigo que, aos poucos, ela começava a montar.

Era um aprendizado natural, quase silencioso, como a água que escava a pedra sem pressa. O conhecimento não lhe chegava como explosões de revelações, mas como o desabrochar de uma flor ao amanhecer: suave, gradual, inevitável.

Naquela vastidão íntima, Valery encontrou o que mais temia: a lembrança de seus pais. Sonhou com eles como se o tempo tivesse se curvado para lhe oferecer uma segunda chance. Não havia julgamento nos olhos que a olhavam; apenas a memória do amor e a sombra da rejeição. Por muito tempo, essa ferida corroeu seu coração, um abismo de mágoa que parecia impossível de preencher.

Mas no sonho, onde a verdade é mais crua que a vigília, Valery chorou. As lágrimas não eram de fraqueza, mas de libertação. Cada gota parecia dissolver a mágoa, cada soluço desfazia as correntes que a prendiam. E, quando finalmente ergueu os olhos, sentiu o perdão se abrir dentro de si como uma aurora. O peso da rejeição se transformou em lembrança, e a lembrança em aceitação. Assim, o coração dela encontrou espaço para florescer.

Na noite seguinte, o cenário mudou. Valery caminhava pelo cosmos.

Os céus se abriram diante dela em cores que não pertenciam a nenhum mundo: violetas profundos, azuis que cintilavam como cristais, rios de estrelas fluindo como correntes líquidas em torno de seu corpo. Ela deslizou por esse oceano etéreo como se sempre tivesse pertencido a ele. A cada passo, se é que se podia chamar assim, seus sentidos se expandiam, tocando limites que antes pareciam inalcançáveis.

— Até onde posso ir? — ela se perguntou, e o cosmos respondeu não com palavras, mas com o silêncio profundo da infinitude.

E foi nesse silêncio que ela descobriu. Descobriu que seus limites não eram fronteiras fixas, mas portais, que a cada dia poderiam se abrir um pouco mais. Descobriu que seu corpo era apenas uma âncora e sua mente, uma chave. Descobriu que o poder não era apenas energia, mas compreensão.

✨ A Cura Dourada ✨Where stories live. Discover now