32.

15.5K 1K 71
                                    

Imperador

Olho para o lado, vendo a garota com a cara emburrada para mim. Nego com a cabeça e puxo seu braço, fazendo com o que ela caísse por cima de mim.

— Sai, para de ser assim. A gente não tem nada, Kennedy. — fala com a sua voz fina e doce. Mudo a expressão do meu rosto assim que eu escuto o que ela tinha acabado de falar.

— A gente não tem nada aonde, porra? Quer meter o louco pra cima de mim? Já disse a tu que tu é minha, caralho. Para de querer pagar uma de solteira! — falo puto, o que faz ela abrir um sorriso para mim. O sorriso que eu sou apaixonado, que só de ver ela sorrindo, me faz me sentir completo.

— Você me tira a paciência, sabia? — segura no meu rosto e aproxima nossos rostos, fazendo eu olhar para os seus olhos verdes que brilhavam — Eu não sou sua. — desço meu olhar para a sua boca e não me aguento, selo nossos lábios.

Abro meus olhos e olho para o teto, me virando na cama. Bocejo, ainda me lembrando do sonho que eu acabei de ter. Nego com a cabeça e me tiro dos pensamentos.

O dia de ontem foi corrido pra caralho. Tive que me atualizar dos bagulhos que aconteceram na boca, fui cortar meu cabelo, mandei um menor arrumar um celular mais atual pra mim, porque o meu já estava antigo e ainda fui na casa da coroa, matar a saudades dela.

Assim que ela me viu, foi choro, chorou pra caralho, me abraçou, me beijou, fez tudo. Depois ficou enchendo minha mente, falando que eu agora era fugitivo, que eles iam vim atrás de mim e um monte de coisa. Vão vim, mas não vão conseguir. Meu papo já foi dado, eu não volto mais pra aquela porra, eu prefiro morrer do que voltar pra lá. No começo a coroa vai ficar meio receosa, com medo de eu voltar pra lá, mas com o tempo ela vai ver que eu sei o que eu faço.

Pego o celular vendo o horário e me sento na cama, sentindo todo o meu corpo relaxado. Eu só tava precisando disso, papo reto mermo. Só precisava dormir na minha cama, numa cama de verdade. No meu conforto, na minha casa. Me deixei descansar tudo o que tava acumulado de sono em mim, papo reto. Fui dormir de oito da noite e acordei de três da tarde.

Nego com a cabeça e me levanto, indo em direção ao banheiro. Preciso ir pra boca ainda hoje, véspera de Natal e a coroa tá feliz pra caralho. Já disse que vai preparar a ceia de Natal pra nós. Eu também tô feliz, pô. Bom pra caralho ver ela assim, poder estar passando o Natal com a minha família, com sempre passei. Depois de comer, vou partir pro baile, comemorar meu baile. Nino organizou tudo, deixou tudo nos conformes.

Hoje eu só vou pra boca ver como os bagulho tão funcionando e voltar a minha função, de onde eu nunca deveria ter saído.

As notícias correm rápido pra caralho, não fazia nem uma hora que eu tinha pisado no morro e já saiu em página de fofoca. Já falei com Nino, pra correr atrás de saber que é o arrombado por trás disso. Pense em um bagulho que eu odeio é página de fofoca, papo reto. Bagulho que eu não curto de jeito nenhum, é proibido esses bagulho, mas insistem em fazer. Não gosto por causa de que além de ficarem fofocando sobre a minha vida, ainda fica mais fácil pra esses bagulho cair na boca da polícia.

Outro bagulho que aconteceu foi que a minha advogada veio falar com Nino sobre mim, ela disse que eu corro risco de ser preso e dessa vez posso chegar a pegar uma pena de até 30 anos. Dei nem moral pra ela, to nem aí pra porra nenhuma. Fazer o que se essas porras são corruptos? Só tu dá dinheiro que tu consegue tudo. E foi isso que eu dei, simples, pô.

Eu tomo um banho e me arrumo, logo passando a visão pra Nino mandar um menor vim me buscar. Tô sem carro e sem moto, pedi pra Nino dar um fim nos dois, mas eu já quero arrumar esse bagulho o quanto antes, não consigo ficar sem. Por enquanto vou usar um carro que Nino arrumou pra mim, até eu comprar o meu.

Tava sentindo falta da minha casa, papo reto.

[...]

Nino: Me respeita, porra. Agora eu sou pai de família e sou casado. — eu fico calado na minha, só observando os dois brincarem entre si.

Cabra: Se vim uma menina já sabe, né? Daqui uns anos o pai tora. — nego com a cabeça e termino de bolar o baseado. Que saudade disso.

Nino: Filho da puta. — dá um tapa no pescoço dele — Me respeita, caralho.

Levo o baseado até meus lábios e pego isqueiro em cima da mesa, ascendendo a chama laranja. O fogo ascende a ponta do baseado e eu seguro com meus dois dedos, o indicador e o dedão no baseado, dando um trago, logo tirando ele da boca e soltando a fumaça para cima, sentindo todo o meu corpo relaxar com o gosto da maconha. Não tem coisa melhor que isso não, papo reto. Encosto minha cabeça na cadeira e levo o baseado novamente até a boca.

A fumaça, densa e aveludada, preencheu meus pulmões, um abraço quente e familiar depois de uma longa ausência. Não era apenas a maconha, era a liberdade, a sensação de estar respirando fundo pela primeira vez em muito tempo. A cada tragada, a tensão que me aprisionava por tanto tempo se desfazia como um novelo de lã solto. Os músculos tensos relaxaram, a mente, antes um turbilhão de preocupações e medos, começou a se aquietar.  Era uma sensação estranha, uma mistura de euforia e melancolia. A euforia da liberdade, da sensação de estar vivo, de poder escolher; a melancolia da lembrança do tempo perdido, das oportunidades desperdiçadas, do peso da culpa e dos erros cometidos.

O baseado era um portal, uma fuga temporária para um lugar onde as preocupações pareciam menores, onde os problemas se diluíam na fumaça. A sensação de paz era doce, mas transitória.  A realidade, com suas consequências e desafios, me esperava ao final dessa viagem fugaz.

Cabra: Caralho, tu é foda. — eu saio dos meus pensamentos, vendo ele colocar a mão onde Nino deu um tapa — Qual foi, Imperador tá parecendo que ta viajando, pô.

Nino: Deixa o mano, ele tava tempo pra caralho sem fumar maconha. — tira o celular do bolso e aperta em algo na tela, logo levando ele até a orelha — Oi, vida. — levo o baseado até os lábios, com os dedos indicador e o do meio, dando uma tragada — Já chegou do salão? — tiro o baseado da boca, agora usando o dedão no lugar do dedo do meio — Vai pra casa com a Jade e a Isadora? — solto a fumaça e levo o meu olhar até ele, assim que escuto o nome dela. Porra, Jadynna — Tá bom, qualquer bagulho me liga. — ele tira o celular da orelha e volta a guardar no bolso.

Faz mais de uma semana que eu não tenho contato com ela, desde a nossa última visita. Não consegui ter contato com ela e nem saber o que ela estava fazendo nesse meio tempo. Só mandei Nino avisar a ela que não precisaria fazer as visitas esse ano, também não disse que ela não precisaria mais fazer visitas. Nesse meio tempo, minha cabeça era pensando nessa garota, pensando no que ela estava fazendo ou deixando de fazer. Nossa última visita foi boa pra caralho, um bagulho tranquilo, pô.

Cabra: Só foi falar no nome de Jade que o patrãozinho arregalou o olho. — me arrumo na cadeira.

Nino: Hm... tá gamado nela. — começa a rir, junto a Cabra que acompanha ele. Eu respiro fundo e encaro bem os dois.

Imperador: Sabe um bagulho que eu não tava sentindo falta nenhuma? — ele param de rir — De vocês dois e das graças de vocês, papo reto. Parece que tão sem o que fazer nessa porra.

Nino: Ficou puto por causa de que é verdade. — eu resolvo nem perder minha paciência, ignoro ele.

Esses dois sempre foram assim, desde sempre. Quando se juntam, é fazendo graça o tempo inteiro. Já eu não curto, pô. Bagulho sem noção, parecem duas crianças. Não sei se é por causa de que eu sou mais velho, mas porra, a diferença de idade é pouca, Nino tem 27 e cabra deve ter uns 25. Não crescem nesse caralho, o tempo todo faz ele palhaçada.

Através das Grades [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora