One shots Fayeyoko

Feel it twice

A porta da sala se abriu com um estrondo, acompanhada pelo som do vento e da chuva lá fora. Yoko entrou como uma tempestade viva, os cabelos encharcados grudando no rosto e na nuca, o casaco pesado escorrendo água no chão. Mas ela não parecia se importar. Havia algo mais fervendo em seu interior, algo que a fez ignorar até a própria aparência.

No sofá, Faye permaneceu imóvel. Seu copo de whisky estava pela metade, e o gelo girava devagar enquanto ela brincava com ele. A camisa social branca estava desabotoada nos dois primeiros botões, expondo o pescoço e a curva da clavícula. Seu olhar preguiçoso encontrou o de Yoko, e um sorriso despretensioso surgiu em seus lábios.

— Ah, veja só — começou Faye, inclinando-se contra o encosto do sofá. — Minha garota favorita chegou. E molhada, ainda por cima.

— Não comece, Faye — disparou Yoko, cruzando os braços enquanto parava no meio da sala.

— Começar o quê? — Faye arqueou uma sobrancelha. — Nem sei por que você está tão irritada, mas, considerando o histórico, aposto que é por algo que só existe na sua cabeça.

— Na minha cabeça? — A voz dela ficou mais alta. — Eu vi você ontem, Faye. Não banque a inocente.

Faye suspirou, levando o copo aos lábios antes de responder.

— E o que exatamente você viu, Yoko? Estou morrendo de curiosidade.

— Aquela mulher no jantar — Yoko cuspiu as palavras como se fossem veneno. — Você não tirava os olhos dela.

— Ah, então é disso que se trata. — Faye riu, mas havia uma ponta de frustração em sua voz. Ela colocou o copo sobre a mesa de centro e se levantou, ajeitando os punhos da camisa. — Deixe-me ver se entendi: você está com ciúmes porque eu olhei para alguém?

— Não é ciúmes. É... respeito. — Yoko hesitou por um segundo, mas rapidamente endureceu a expressão. — Você sabe como isso me faz sentir.

— Como o quê? — Faye avançou um passo, a diferença de altura entre elas agora evidente. Ela inclinou a cabeça, os olhos perfurando os de Yoko. — Como uma amante rejeitada? Como alguém que não consegue admitir que quer mais do que isso?

Yoko apertou os punhos, mas manteve a postura.

— Não somos nada, Faye. Lembra? Você mesma disse isso.

Faye riu de novo, mas dessa vez havia algo sombrio no som.

— Ah, eu lembro muito bem. Quer que eu te conte como tudo começou? Como você apareceu bêbada na minha porta uma noite, implorando para que eu te tocasse? Como eu, idiota que sou, te deixei entrar, mesmo sabendo que aquilo só ia me destruir?

A voz de Faye se elevou por um segundo, mas ela se controlou, inspirando profundamente antes de continuar.

— Eu te amava, Yoko. De verdade. E você sabia disso. Mas, ao invés de se afastar, você ficou. Ficou porque queria ter tudo: minha amizade, meu corpo, e nenhuma responsabilidade pelo que eu sentia.

O rosto de Yoko ficou pálido, mas ela rapidamente mascarou a reação com raiva.

— Isso não é justo, Faye. Você acha que foi fácil para mim? Eu não sabia o que sentia, não sabia o que queria...

— E achou que podia me usar enquanto decidia? — Faye cortou, a voz carregada de um misto de dor e sarcasmo. — Porque foi isso que aconteceu, Yoko. Você me usou.