Treacherous Sea • tswift

Capítulo vinte e dois: Quero que você me devolva minha vida, minha infância.

N/A: Boa noite, gente. Dessa vez não demorei tanto. Tô muito animada por esse capítulo, confesso que em alguns parágrafos eu me emocionei com o monólogo da Elizabeth. Tudo aqui está no pov dela, então se preparem para... fortes emoções. Muitas coisas acontecem. Um beijo especial para a Ally que acompanhou a escrita e finalização desse (ah, ela deu uma suuuuuper ajuda no anterior também com a questão dos Condenados!!!), mas não recebeu todos os spoilers que queria. Comentem bastante, quero saber tudoooo que vcs estão pensando. Ah, e... desculpa? :D 

Capítulo Vinte e Dois:

Os olhos penetrantes em formato alado de Cassandra não se detiveram em Elizabeth. Ela percebeu de imediato que sequer cruzaram o seu rosto ou corpo, pairando em um tom de azul-turquesa brilhante sobre a filha mais nova, Catarina. Mesmo que não fosse o atual objeto de sua atenção, Elizabeth não conseguiu evitar escrutiná-la como não fizera nos últimos dezoito anos. O flamejante cabelo vermelho era longo e sedoso como o seu, preso em uma trança embutida e lateral como a sua. Sua longa e escura túnica prateada foi adornada por conchas e dentes afiados, adicionando requinte à sua forma austera. Ela era uma mulher esbelta e de traços firmes, um nariz redondo e pequeno, um maxilar com a linha marcada e lábios pintados de bordô. Há quase duas décadas não a via e, embora mais velha, com rugas e manchas solares, se assemelhava dolorosamente à mulher que um dia chamou de mãe. À mulher que a vendeu.

O seu marido, capitão Skullgrin, pigarreou quando o silêncio entre os quatro se tornou insuportável. Elizabeth o conhecia pouco, encontrando-o somente nas últimas reuniões da Mesa, mas o suficiente para saber que ele não conhecia a história verdadeira entre mãe e suas duas filhas.

— Belladonna — ele cumprimentou, retirando o chapéu de três pontas em sinal de respeito. Elizabeth o observou. A barba negra e o nariz adunco. Dentes de ouro e uma esvoaçante capa de pele de crocodilo. Se fosse honesta, sempre o achou patético e fraco e essa impressão se fortalecia a cada minuto. — Todos já chegaram, eu presumo?

Demorou para encontrar a voz. Ofereceu um aceno de cabeça e murmurou que o capitão Davy Jones estava atrasado. Desviou o olhar para Cassandra. Ela não a olhava de volta; parecia vislumbrar o topo da cabeça de Catarina ou algo atrás, a entrada da Nau dos Mares. Com isso, sua voz encontrou o caminho de volta para a sua boca com fúria.

— Não seja covarde a ponto de não conseguir me encarar — despejou Elizabeth, e fingiu que não ouviu o tremor em sua voz no final.

Cassandra sussurrou algo no ouvido do marido, o qual pediu licença e entrou na Nau. Assim que ele se afastou, ela encarou suas duas filhas.

— Minhas garotas! — disse, doce e simpática. Mesmo seu timbre não tinha mudado tanto e Elizabeth ficou sob a impressão que a mãe soava como ela própria, talvez uma oitava acima quando forçava simpatia. Se não a conhecesse, acreditaria em sua empolgação. — Como é bom vê-las juntas depois de tanto tempo! Como vocês estão?

— Ah, eu estou ótima — retorquiu Elizabeth — Vivendo minha melhor vida depois que você me vendeu. E você, mamãe?

O sorriso de Cassandra não falhou.

— Sempre soube que se sairia bem nesse mundo cruel, querida — pontuou ela, fitando a filha mais velha de cima a baixo. Deu um passo à frente e ergueu uma mão cheia de anéis para tocar em seu queixo, analisando-a melhor. O seu toque era frio, desprovido de qualquer carinho que o gesto pudesse sugerir. Todo o corpo de Elizabeth tensionou com o súbito toque, não porque pertencia a Cassandra, mas porque ela foi forçada a sempre desconfiar de toques em seu corpo. E isso era culpa de sua mãe, aquela que agora ousava acariciar suas bochechas e enrolar uma mecha de cabelo solta em seu dedo. — Graças a mim, você aprendeu a ser maior do que as adversidades da vida.