Ainda estão aí?
Desculpa a demora, foram semanas de vestibulares e precisei ficar longe daqui.Boa leitura.
————————————————————————
"Esvaziando almas, eu vejo o fogo
Sangue na brisa
E eu espero que você se lembre de mim"(I See Fire — Ed Sheeran)
Quando o sol começara a anunciar o amanhecer de um novo dia, Julia despertou aos poucos. Remexeu-se no colchão com vagareza, porém logo sentiu o braço direito formigar e espremeu os olhos claros, sensíveis a luz que adentrava o quarto de hotel pela janela. Respirou fundo e, ao inalar, um cheiro de baunilha tomou o seu olfato, impregnado na roupa de cama e travesseiro. Julia suspirou ainda sem abrir os olhos por completo, aproveitando da sensação que era despertar com aquele aroma. Lembrou-se das férias alguns anos atrás na fazenda em Uruaçu, interior de Goiás, quando ela e Luiza passaram uma semana na cidade pacata visitando os avós de Kudiess. Elas tomavam banho de rio nas tardes ensolaradas, Julia escalava as árvores do quintal da avó para pegar goiabas a pedidos de Luiza e nas noites dividiam o mesmo quarto. Todos os dias, Julia acordava com o mesmo aroma abaunilhado no cômodo, pois Luiza gostava de tomar banho nas primeiras horas da manhã, alegando ter agonia da sensação do repelente para insetos grudado em sua pele. Naqueles seis dias que passaram ali, a herdeira sentiu pela primeira vez que poderia gostar da melhor amiga de um jeito diferente de suas outras amizades.
Julia tentou esticar os braços, espreguiçar-se para despertar, mas foi impedida. Deitada ao seu lado, Luiza dormia serenamente sem inquietações, apoiando a cabeça e o pescoço entre o antebraço de Julia e o travesseiro dela.
— Lu...- ela sussurrou, balbuciando o apelido curto.
Aos poucos, os olhos separaram as pálpebras com calma, entretanto o solavancar de seu coração adotou um ritmo diferente do resto do corpo no instante que a visão de Luiza dormindo em seu travesseiro foi processada. Ela piscou algumas vezes com lentidão, tentando acostumar-se com a luz que beijava a face alva e refletia as sardas delicadas que desenhavam o contorno do nariz da ponteira. Julia achava lindo, imaginava que, se um dia pudesse dedilhar o rosto dela, certamente ligaria os pontos como coordenadas de uma constelação.
A herdeira mordeu o cantinho do lábio inferior, relutante, lamentando internamente ter que acabar com aquele momento. Seria inconcebível cogitar a ideia de perturbar o sono de Luiza, mas Nicola odiava atrasos e elas tinham treino em alguns minutos.
— Lu, acorda.- Julia chamou, baixinho, com a voz mansa.
Não obteve qualquer resposta. Luiza continuou dormindo ininterruptamente, sem preocupações ou despertador para incomodar. Sempre que dividiam o quarto, a mineira não adicionava alarmes no celular pela manhã, preferia o bom humor e despertar manso que Julia proporcionava ao acordá-la.
— A gente vai se atrasar.- Kudiess tentou mais uma vez, aproximando o seu rosto do rosto da mineira. No fundo, não queria romper com aquele momento, mas tinha medo de perderem a hora.— Você tá deitada no meu braço e eu preciso levantar.
— Só mais um pouquinho.- o resmungo não passava de um sussurro abafado pelo travesseiro.
Julia riu, incapaz de adotar uma postura mais firme com Luiza e sua preguiça matinal. Elas eram opostas pela manhã, enquanto Julia começava o dia alegre, Luiza sentia como se cada raio de sol do amanhecer estivesse perfurando a sua pele.
— O Nicola vai bri...
— Shiu.- Luiza tateou o colchão com a mão dominante, trilhando o espaço entre elas. A central assistiu atenta, imóvel, até sentir os dedos esguios da ponteira subindo pelo seu pescoço, depois maxilar, por fim encontrando a sua boca.- Fica quieta e volta a dormir.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Golden Medal
FanfictionPoucas certezas eram garantidas na vida de uma atleta de alto rendimento. O risco constante de lesão, a convivência com dores, as derrotas amargas, as vaias e os aplausos. Para Julia, a amizade de Luiza era mais um desses fatores imutáveis. Entreta...