Jade ✨
Coloco minha bolsa nas costas e caminho até o meu chefe, que estava organizando alguns alimentos na prateleira.
Jade: Seu Joás, já vou indo, viu? — ele para o que estava fazendo e se vira para mim.
Joás: Certo minha querida, pode ir. — agradeço a ele e me viro para sair. Falo com os outros funcionários e vou andando para fora do mercado, vendo que a Rocinha estava bem movimentada hoje.
Meu pagamento ainda não caiu, se não, eu iria subir o morro de moto táxi, porque é foda subir isso tudo. Eu moro no meio da Rocinha, nem na parte alta e nem na parte baixa, meio termo. Mas mesmo assim, é horrível descer e subir, pela Rocinha ser muito grande, imagino quem mora na parte alta, mas a parte alta é mais pra quem é envolvido. É lá que tem as melhores casas da favela e a vista é a melhor também.
Vou entrando no último beco, que sobe para a minha casa. Começo a subir a escadaria, parando logo em seguida em casa. Abro o portão, sendo recebida pelo latido do Paçoca.
Jade: Sai, Paçoca. — tiro o meu pé dele que lambia ele, fecho o portão e entro dentro de casa, dando de cara com a minha mãe sentada na mesa, com vários papéis em mãos — Mãe? — ela larga os papéis assim que escuta minha voz e me olha, sorrindo logo em seguida.
Andréa: Oi, minha filha. — me aproximo dela e deixo um beijo em sua cabeça, tirando a bolsa das costas — Como foi o trabalho hoje?
Jade: No de sempre, hoje o movimento foi fraco, apesar do morro estar lotado. — puxo uma cadeira e me sento ao seu lado, pegando a bolsa e tirando o meu celular de dentro dela — Esses papéis aí são do que? — desbloqueio o celular, entrando no WhatsApp e respondendo quem tinha falado comigo e eu não tinha visto.
Andréa: Nada de importante. — tiro o olhar do celular e olho para ela, que junta os papéis e levanta da cadeira, indo guardar-lós na estante. Olho cada passo seu, ficando calada. Ela esconde algo, mas não quer me falar — Vou preparar uma sopa pra janta.
Jade: Tá bom. — desligo o meu celular e levanto da cadeira, pegando a minha bolsa — Enquanto isso, vou tomar um banho que eu tô toda suada.
Caminho até o meu quarto e fecho a porta, pegando uma roupa para tomar banho.
[...]
Hoje já é sexta feira, mas um final de semana vem chegando e com ele, mais um dia de trabalho concluído.
Dessa vez eu subia o morro ao lado de Isadora, que falava de uma briga que rolou no salão que ela trabalha.
Isa: Mona, foi puxão de cabelo, chute, tudo que tinha que ter. Fiquei com pena da fiel, né? Que apanhou pra amante, bicha burra. Nem pra bater direito, apanhou pra amante, vê se pode? — arrumo o meu cabelo, prendendo ele na presilha — Se é pra apanhar, era melhor ter enfiado o bocão no cu e aceitar a gaia calada.
Jade: Tá vendo que eu não me passo por isso? Tudo isso, mas o errado é o bofe, né, mas elas sempre vão atrás das amantes, ao invés de tomar vergonha na cara e terminar o relacionamento ou pelo menos pagar com a mesma moeda. Preferem ser cornas conformadas, Deus me livre. — estalo a língua no céu da boca.
Essa a minha cabeça e o meu jeito de pensar. A errada sempre vão ser as mulheres, não que não estejam, porque ficar com macho casado também é uma coisa ridícula, ainda mais as que são amantes e fazem questão de esfregar na cara das fiéis, agora o bofe é casado, tem uma mulher, na maioria das vezes tem filhos, diz que ama e faz elas passarem por essas humilhações? Na minha cabeça, quem ama não trai.
Ainda tem aquele ditado de "todo mundo erra", beleza, ninguém é perfeito e erram, por isso mesmo que dão a famosa "segunda chance", mas na maioria das vezes não é apenas segunda chance, são terceira chance, quinta chance, sétima chance e assim vai. Não consigo ver mulheres tão bonitas se passando por esses papéis ridículos. Ainda mais quem sabe que tem dependência emocional e simplesmente apenas aceita. Não procura ajuda, apenas aceita a dependência.
Enfim.
Eu e Isadora vamos trocando um papo, até ela chegar em frente a casa dela que é apenas uma rua antes da minha, nos despedimos e eu sigo caminho até em casa. Hoje eu larguei um pouco mais tarde, pois a menina que ia fica no turno da noite, ficou doente, então eu fiquei no lugar dela. E larguei as nove hoje, por isso subi junto a Isadora, que larga do salão nesse horário.
Eu chego em frente a minha casa, vendo o portão estar aberto e ergo a sobrancelha, estranhando aquilo. Entro, fechando o portão e escutando uma voz masculina falar dentro de casa. Eu entro rapidamente, dando de cara com dois homens em frente ao meu pai, que estava sentado no sofá, enquanto minha mãe estava sentada na cadeira com as mãos em frente ao seu rosto. Ela parecia estar chorando.
Jade: O que tá acontecendo aqui? — começo a ficar nervosa, vendo o olhar de todos pararem em mim. Meu olhar vai diretamente para os dois homens que eu bem conheço, Nino e Cabra — Nino, o que tu tá fazendo aqui?
Nino: Pergunta pro teu paizinho, pô. — seu tom de voz exalava ironia. Meu pai me olha e seus olhos estavam vermelhos, ou seja, estava novamente drogado.
Jade: Pai, o que o senhor fez dessa vez? — ele tira o olhar de mim e fica calado.
Nino: Já que ele não quer falar, eu mermo falo. — tiro o olhar do meu pai e olho para ele — Teu pai tá devendo papo de 30 mil reais pra boca. — assim que termino de escutar essas palavras saírem da boca dele, eu arregalo os olhos, não acreditando no que eu tinha acabado de escutar.
Jade: Não pode ser, eu não acredito que você fez isso. — eu solto um suspiro, tirando a bolsa das costas e jogando ela no chão — Pai, você tem noção do que fez? — altero o meu tom de voz, passando minhas mãos pelo o meu rosto.
Nino: Ele tem, tem muita noção. Tanto que todos os dias ele vai lá na boca pra comprar pó e sempre fiado, até hoje eu tô esperando esse pagamento. Com os juros, esse arrombado tá devendo 40 mil reais. — isso só fazia eu soar cada vez mais. Eu estava nervosa, realmente eu não estava conseguindo acreditar nisso.
Jorge: Mais respeito comigo! — ele abre a boca pela a primeira vez.
Nino: Respeito? A quem? A tu? — Nino se aproxima do meu pai — Olha a porra que tu tá fazendo com a tua família, olha pra tua mulher ali chorando, tua filha vendo o exemplo de pai que ela tem. Tu não merece nenhum pingo de respeito!
Jorge: Eu já mandei você falar direito comigo! — meu pai fala com um tom de autoridade. O que faz Cabra e Nino caírem na risada.
Nino: Esse teu circo uma hora dessa não tá colando comigo. — se aproxima mais ainda dele — Tu não tem direito nenhum de mandar em alguma coisa ou pedir respeito... — segura na camisa dele e puxa ele para cima, fazendo ele se levantar — Pra quem vai morrer! — o pescoço do meu pai é segurado pelas mãos de Nino e ele começa a segurar em seu braço, começando a se sentir sufocado. Eu vejo aquela cena, sentindo meus olhos lacrimejarem — Cabra, tira as duas daqui.
Andréa: Não, por favor, Nino. Não faz isso com ele, por favor! Eu vou dar um jeito de pagar, eu prometo. — ela levanta da cadeira e fala, enquanto chora.
Jade: Pagar mãe? — abro a boca — Pagar com o que? A gente não tem o dinheiro nem de pagar a porra do aluguel dessa casa. Você vive escondendo as contas que tem pra pagar, mas não adianta, eu descubro. — ela me olha, enquanto chora — E o meu pai fica como nessa história? Além de não trabalhar pra ajudar em caralho nenhum aqui dentro, ainda vai pra porra de boca se drogar, vai pra porra de bar beber até cair bebado pelo chão e ainda apronta todas com a sua cara! Me diz, como é que você vai pagar todas essas dividas? — sinto a lágrima escorrer pelo o meu rosto e limpo ela rapidamente. Eu olho para meu pai e ele estava realmente sufocado, aquela cena não fazia bem para mim — Nino, solta ele. — Nino continua segurando ele — Por favor! — e assim, Nino solta ele, que respira aliviado.

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Através das Grades [M]
Fanfiction+16| a visita íntima era apenas um detalhe em um jogo maior, o jogo do amor.