Capítulo 1

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Any caminhava pelas ruas agitadas da cidade de Nova Iorque, sentindo o peso do dia em seus ombros. O décimo “não” que recebeu naquela tarde ainda ecoava em sua cabeça. Há semanas ela vinha procurando emprego, determinada a retomar as rédeas de sua vida depois que tudo desmoronou. Desde que o pai foi preso, Any carregava o estigma do sobrenome, um peso que não imaginava tão pesado até que ele a afastasse de portas abertas e oportunidades. Parecia que todos os seus sonhos tinham se perdido no exato momento em que o pai deixou de ser uma figura de admiração e respeito para se tornar um criminoso aos olhos de todos.

Ela suspirou, buscando alguma forma de extravasar a frustração. Precisava de um alívio, uma distração. Lembrou-se, então, do convite dos seus amigos. Noah e Nour sabiam de sua situação e a apoiavam como podiam. Em uma mensagem carinhosa, eles insistiram que se encontrassem naquela tarde, e Any, exausta, decidiu que era exatamente o que precisava. Dirigiu-se ao café com passos lentos, tentando colocar a cabeça no lugar.

Ao chegar ao local, encontrou-os já acomodados em uma das mesas no fundo do ambiente aconchegante. Noah, com seu estilo sempre prático, vestia uma camisa simples e um sorriso que tentava transmitir positividade. Nour, por outro lado, estava com seu jeito acolhedor, os olhos brilhando de empatia assim que viu Any se aproximar.

— Olha só quem chegou! - exclamou Noah, abrindo os braços para recebê-la.

Any se forçou a sorrir e abraçou o amigo, sentindo-se um pouco mais leve com o acolhimento. Sentou-se entre eles e logo pediu um café, desejando que a bebida forte a ajudasse a clarear os pensamentos.

— Então, como foi hoje? - perguntou Nour, segurando a mão de Any com delicadeza.

Any suspirou, entrelaçando os dedos na xícara quente que o garçom acabara de colocar à sua frente.

— Dez "nãos". Hoje, foram dez. E todos pareciam com uma desculpa padrão… ou uma forma gentil de dizer que eu não sou bem-vinda em lugar algum.

Noah deu um sorriso de encorajamento, mas Any percebeu uma certa preocupação em seu olhar.

— Você é boa, Any. Eles não te merecem. É questão de tempo até alguém perceber o talento que você tem.

Nour concordou, fazendo um carinho no braço de Any.

— Pode parecer difícil, mas uma hora as coisas mudam. Sempre mudam. E, enquanto isso, a gente tá aqui pra te ajudar, você sabe disso.

Ela sorriu com gratidão, embora ainda sentisse aquele peso no peito. Apoiava-se neles sempre que o mundo parecia ruir, mas também sabia que precisava de independência. Era mais do que apenas dinheiro, era a necessidade de provar a si mesma que era capaz, que poderia ser forte sozinha. O café e as risadas de Noah e Nour a distraiam um pouco, permitindo que, pelo menos por alguns minutos, ela esquecesse a pressão constante que sentia em seu peito.

Enquanto conversavam, Any subitamente se lembrou de um compromisso que tinha marcado. Puxou o celular da bolsa e arregalou os olhos ao ver o horário.

— Gente! Eu combinei com o Jonas de passar na casa dele mais tarde. Ele vai me matar se eu não aparecer.

Os amigos trocaram um olhar breve, e Nour ergueu uma sobrancelha com uma leve desconfiança.

— O Jonas… ainda é o mesmo, né? Meio arrogante e metido?

Any forçou um sorriso, tentando desviar a tensão no ar.

— Ele tem suas qualidades. É só… complicado, as vezes até demais. Não sinto que amo mais ele da mesma forma, não sinto apoio dele.

Noah suspirou.

— Só tome cuidado, Any. Lembre-se que você merece alguém que te apoie de verdade, tá?

Ela assentiu, embora as palavras de Noah ecoassem em sua mente enquanto se despedia dos amigos e seguia em direção à casa de Jonas. Não queria admitir, mas uma parte dela já começava a sentir que o namorado não era exatamente quem ela pensava. Ele tinha mudado nas últimas semanas, e o julgamento impiedoso que fazia sobre a situação de Any desde a prisão do pai a deixava desconfortável. No entanto, ela ainda nutria um fio de esperança, uma ideia de que ele a surpreenderia de maneira positiva.

Ao chegar ao portão da casa, atravessou o Jardim imenso e foi até a entrada da casa. Estava prestes a chamar pelo namorado quando um movimento na sala chamou sua atenção. Seus olhos focaram no que parecia ser Jonas, mas ele não estava sozinho e ela se aproximou de forma discreta. O choque a fez congelar no lugar quando viu a cena que se desenrolava diante dela, Jonas estava aos beijos com Lilian, uma de suas melhores amigas.

Any sentiu como se o chão tivesse sumido. O coração disparou, e a imagem deles juntos parecia desfocar de sua visão, que se turvava com as lágrimas, era confuso, não era o amor que estava machucando, era seu ego que havia sido afetado. Queria gritar, correr, exigir uma explicação, mas seu corpo parecia paralisado. Ela apenas ficou ali, tentando absorver o que estava vendo.

Jonas a viu. Com um movimento tranquilo, separou-se de Lilian e, sem sequer um traço de culpa, e se levantou ficando à frente dela, cruzando os braços com um ar de desprezo. Any procurava por algum sinal de remorso ou arrependimento, mas tudo o que ele fez foi erguer uma sobrancelha, como se estivesse entediado.

— Any - ele começou, sem rodeios. - Eu não queria que fosse assim, mas você sabe, eu não posso evitar.

Ela piscou, atordoada.

— Jonas… como… com ela? Com a Lilian? - sussurrou, sem acreditar.

Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo, impaciente.

— Olha, não quero prolongar isso. A verdade é que você… você não está mais no mesmo nível que eu, entende? Desde que o seu pai foi preso, você virou… alguém sem nada. Eu preciso de alguém que esteja no meu patamar, ou próximo dele, meu pai é o mais rico do mundo. A Lilian… bem, ela tem quase isso. Ela pode me acompanhar, e você, agora… não tem nada.

As palavras ecoaram com uma crueldade fria, atingindo-a como um tapa. Any recuou, sentindo-se completamente humilhada. Tentou controlar o tremor em suas mãos, o rosto queimando de vergonha, raiva e humilhação. Ela havia se preparado para um dia difícil, mas nunca imaginou que terminaria assim.

Sem saber o que dizer, Any virou-se e começou a caminhar para longe. As lágrimas finalmente escorriam por seu rosto, enquanto a decepção e o desgosto a sufocavam. Por um momento, uma nova chama de determinação brilhou em seu olhar. Ela sabia o que precisava fazer.

E talvez, só talvez, a vingança fosse um começo.

JOSH BEAUCHAMP: THE BILLIONAIRE OF MY HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora