Você aceitaria conversar comigo?

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Wuant passava seus dias e suas noites pensando. Pensando em confrontá-lo… pensando em conversar, entender! Cada passo que dava, era uma ideia; o que falar, o que fazer. Vingança? Não. Justificativa; Medo; O que? Qualquer coisa. Justiça. Explicação.

Depois de tantos dias, de tanto pensar, ele, derrepente, recebe uma mensagem. Ele mal se lembra como aquela mensagem chegou até ele.

“Você aceitaria conversar comigo? Em paz? Preciso contar o que aconteceu.”

Depois de muito pensar, muito considerar, ele aceitou, e, sem nem ter que se esforçar para chegar lá, ele se vê naquele lugar familiar, onde encontrou Araldo múltiplas vezes. Araldo o teletransportou… que atencioso.

Ele olha ao seu redor, seus olhos finalmente encontrando os daquela máscara. Impenetrável, inalcançável.

— Como você está? —  A voz de Araldo era até estranha quando não carregava aquele tom. Aquele tom tão doce que chegava a ser enjoante, que sempre dizia as verdades que o amigo queria saber, que sempre ajudava e contava o que podia. A doce e confiável voz de um amigo.

— Como é que achas que estou?

— Eu sei que você está péssimo, e é por isso que te trouxe aqui.

— Eu confiei em você. — Wuant murmura, dando um passo a frente. — E confiar em você… deu nisso. Ela poderia estar viva- eu poderia ter feito algo, se você não tivesse me enganado.

Araldo não pode evitar rir, olhando para o chão, mas sua risada mais parecia de decepção -com si próprio- do que uma verdadeira felicidade.

— Wuant... Eu nunca te enganei, meu cantor querido. Eu vou te explicar tudo, você sabe que eu prezo pela sua confiança. — Araldo dá um passo, e então mais outro; e ainda que Wuant tente manter toda essa coragem, ele se lembra daquela maldita visão que teve do dia em que Alice foi assassinada.

— “Preza”? — Ele pergunta, incrédulo. — Você não se importa com nada, você só estava me enganando! Nem com Valigma, e como você é mentiroso, nem com esta fábrica!

Araldo não fala nada, e então dá dois passos mais. Wuant tenta andar mais para trás, mas bate as costas na parede. Araldo ergue uma mão, e Wuant visivelmente se assusta, fechando um olho, mas o abre espantado com a ação de Araldo, que segurava seu queixo levemente, quase como se fosse acariciar sua bochecha.

— Eu me importo com você, Wuant.

Wuant não sabe dizer se ele está mentindo.
Ele nunca sabe.

— Então por que? Por que a matou?

Wuant tentava esconder os olhos chorosos do mais alto, mas era impossível que Araldo não percebesse, por mais sutis que fossem.

Araldo hesitou ao responder, não tirando sua mão até que Wuant empurrou-a para longe.

— Eu te chamei aqui para conversar em paz. Você está disposto a ouvir?

Araldo questiona, parecendo realmente querer ouvir o que Wuant iria responder.

— Vai me contar tudo que aconteceu? — Wuant questiona.

— Eu- — Araldo começa, mas é interrompido.

— A verdade!

— Vou. A verdade. — Ele responde, sem nenhuma hesitação.

— Então eu… eu ouço.

Araldo direciona Wuant em direção a uma poltrona, mas ele recusa a se sentar, não sabendo se deve confiar tanto em Araldo.

Araldo suspira, cruzando os dedos atrás das costas.

Você aceitaria conversar comigo?Onde histórias criam vida. Descubra agora