Quando a vida tem um gosto amargo mas também cheira à lavanda e mar.

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Jungkook

Às vezes eu acho que morrer é a solução.

Por que não está adiantando? Por que quanto mais eu esfrego, mais tristeza eu sinto?

Pressiono os dedos na barriguinha do Buda, esfregando com mais força, como se desse para apagar esse vazio que cresceu dentro de mim. O brilho dourado do pequeno Buda já não tem o efeito que Jimin disse que teria. Por que mentiu, Malik? Só funciona com você?

As mãos tremem, e a respiração falha enquanto me agarro a esse gesto que nunca fiz antes, e que parece não funcionar.

Jimin cumpriu com sua palavra e me presenteou com sua estátua favorita. Deveria ser mais grato, certo? Eu lembro do sorriso dele quando colocou esse Budinha nas minhas mãos, dizendo que ele ia me trazer sorte, felicidade... Mas, neste quarto frio e sem vida, parece que a promessa dele se perdeu em algum lugar que eu não consigo alcançar. Os olhos ardem, e eu sinto o nó apertando na garganta. Tudo está desmoronando ao meu redor, e tudo que eu consigo fazer é esfregar essa pequena estátua como se fosse uma bóia para eu não me afogar.

Lágrimas são rios de nós mesmos. Já percebeu que toda dor e tristeza transbordam em forma de água? É como se cada gota carregasse um tico do nosso eu ferido, uma corrente que arrasta os sentimentos para fora de nós. Não é verbal, é físico, é palpável e evapora. É cristalino quando visto em um microscópio. É salgado e real. São nascentes do corpo, uma maneira de te dizer que você está sentindo dor. É como se a alma, exausta, derramasse suas angústias, tentando aliviar o peso que carrega, transformando nossa aflição em um mar silencioso que nos atravessa. Uma maneira de tentar te salvar.

Mas não está funcionando.

A dor não diminui, o peso no peito só fica mais pesado. Eu olho para o rosto sereno do Budinha, e ele parece rir de mim, como se soubesse que estou sendo ridículo. Sinto o rosto quente, molhado pelas lágrimas que eu nem percebi que estavam escorrendo. Sufoco um soluço, porque se eu chorar alto demais, talvez eu não consiga parar.

— Desculpa, Jimin… — As palavras saem em um sussurro rouco, perdido entre meus lábios trêmulos. A estátua desliza pelos meus dedos, caindo no chão com um barulho seco. Fecho os olhos, e sinto como se o silêncio me devorasse, deixando-me sozinho com tudo que eu mais queria esquecer.

E lá estava ela novamente, agindo de maneira sorrateira e me derrubando como sempre.

A depressão.

Eu já pensei em procurar ajuda. Várias vezes. Mas toda vez que chego perto, parece que um peso me puxa para trás. É como se houvesse uma voz sussurrando que não adianta, que é perda de tempo. Como se as palavras de um estranho pudessem chegar a lugares dentro de mim que eu mesmo não consigo alcançar?

Eu sinto que é fraqueza demais precisar de alguém para resolver a bagunça que eu mesmo criei. Eu deveria ser forte, deveria dar conta, deveria ser capaz de encontrar uma saída sozinho. E, além disso, eu sei que precisaria falar sobre tudo. Sobre os medos, sobre as dores que eu tento trancar em algum canto da mente. Sobre as poucas e singelas cicatrizes que eu não consigo nem olhar. Eu teria que revisitar essas lembranças que me deixam sem ar, e só a ideia disso já me sufoca.

E, no fundo, acho que uma parte de mim acredita que não mereço ajuda. Que mereço estar preso nessa espiral de escuridão, que não vale a pena incomodar os outros com algo que, no final, é apenas meu problema. Cada vez que penso em abrir a porta e pedir ajuda, essa voz dentro da minha cabeça grita, me lembrando de todos os momentos em que eu falhei, de todas as vezes em que eu não fui suficiente. Então, eu desisto antes mesmo de tentar.

CIFRAS DE TOM - JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora