✨ Capítulo 6 ✨

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E eu?

Eu fiquei uma bagunça.

Uma confusão viva de calor, nervosismo, alegria infantil e desejo silencioso. Meu coração se aqueceu, de verdade, quando ele sorriu. Um sorriso discreto, quase tímido, mas que iluminou tudo dentro de mim. E ao mesmo tempo, meu peito se apertava com uma urgência desesperada, como se aquele coração idiota estivesse tentando saltar pra fora só pra se oferecer a ele.

O que está acontecendo comigo?

Nunca me senti assim antes. Nem mesmo nas minhas paixões antigas, nas fantasias que eu guardava escondidas. Isso… isso é algo novo. Algo mais profundo, mais instintivo. É como se meu corpo soubesse algo que minha mente ainda reluta em aceitar.

Ele me enlouquece, e mal percebe.

Ou talvez perceba, e esse seja o jogo dele. Um charme perigoso, mas hipnotizante. Ele me enlaçou sem tocar, me prendeu sem correntes, me dominou com a mera presença. E agora eu fico aqui, sozinho, tentando entender se o que eu senti foi real… ou apenas o começo do meu fim.

Porque, se continuar assim, Ezra vai me desmontar,  peça por peça, até eu não saber mais onde termina o Melian que existia antes dele… e onde começa esse novo ser, esse coração entregue, esse corpo que já anseia pelo toque dele como se fosse o único capaz de me montar de novo.

A campainha do meu comunicador vibrando me despertou de um transe silencioso, o tipo de torpor que só a confusão mental é capaz de provocar. Me virei rapidamente e vi Lyra acenando, com aquele sorriso divertido no rosto, sempre meio debochado, como se vivesse num mundo à parte onde tudo fosse passível de piada.

— Oii, terra chamando, oii! Volta pra órbita, Mel.

Meu alívio ao vê-la foi tão instantâneo quanto intenso. Quase me joguei em cima dela.

— LYRA! Graças aos deuses que você veio! Eu preciso falar com você, é urgente. Vem comigo pro meu esconderijo. Agora.

Peguei em sua mão e puxei sem esperar resposta. Deixei um dos funcionários no balcão, acenando com a cabeça de forma apressada, e fui com ela por corredores estreitos, passando por estantes antigas e dobradiças enferrujadas até alcançar a porta de madeira maciça escondida por trás de um painel falso. Era uma antiga despensa desativada há décadas, provavelmente parte das construções anteriores ao prédio atual, escura, isolada, silenciosa. E perfeita.

Empurrei a porta, revelando o interior que eu mesmo arrumei com cuidado: uma pequena mesa de madeira polida, duas cadeiras reforçadas com almofadas, uma luminária baixa que lançava uma luz âmida e aconchegante. O cheiro ali dentro era de madeira antiga e ervas secas, um espaço seguro. Um refúgio.

— Aqui... aqui a gente pode falar sem ser interrompido.

Lyra entrou sem hesitar, mas algo no olhar dela me parou. Não era apenas preocupação... era medo. Denso, mas real.

— Eu também precisava falar com você, Mel. E não é pouca coisa.

Engoli seco, senti meu estômago afundar. Aquela frase, dita com aquele tom baixo, me deu um pressentimento ruim.

— O que está acontecendo com o Beaulfort? Ele tá... estranho. Fez várias coisas que me deixaram desconfortável. Tive que evitar ele hoje, de verdade.

Ela cruzou os braços e desviou o olhar, como se procurasse a melhor forma de me contar algo que vinha remoendo por dentro.

— Ele não parou, Mel, ele ainda tá tentando te conquistar a qualquer custo, eu tentei falar com ele, mas... foi como falar com uma parede. E pior: quando você sumiu hoje mais cedo, eu fiquei com um pressentimento forte... e agora entendi o motivo.

✨ A Cura Dourada ✨Where stories live. Discover now