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Rafael

Resmungo escutando várias batidas na porta, chuto a perna do Henrique fazendo ele resmungar.

– Vai olhar a porta. -Virei pro outro lado.-

Riquiz: Vai tu, deixa o cara dormir. -Falou baixo enrolando a cabeça, sento na cama morto de sono, minha cabeça ainda tá rodando, o álcool ainda está no comando.-

Levantei da cama meio desnorteado, abri a porta encontrando o chumbo, ele me olhou com um olhar triste.

Chumbinho: humm, Riquiz tá acordado? -Falou com a voz baixa, parecia de choro.-

– Não, está dormindo. -Falei devagar processando tudo ainda.- Você quer que eu acorde ele?

Chumbinho: Não, não deixa pra lá. -Deu um sorriso mínimo, o fito por um bom tempo.-

– Vai pra sala que eu já estou descendo.- Falei sério, ele balançou a cabeça saindo.-

Deixei a porta encostada e fui pro banheiro, escovei os dentes e lavei o rosto, olhei a hora onde marcava quatro da manhã, por isso que ainda estou bêbado. Peguei uma camisa no guarda-roupa e sai do quarto indo pra sala, no último degrau vi chumbo todo encolhido no sofá.

Me aproximei devagar o encarando, sentei no sofá fazendo ele me olhar.

– Vai querer compartilhar o que foi? -Ele sentou devagar no sofá e olhou pro chão. -

Chumbinho: hummm, na verdade eu briguei com a minha mãe. Ela não gosta que eu seja do crime, então acabamos discutindo e ela falou uns bagulhos que magoou. Agora de madrugada ela mandou uma mensagem mandando eu escolher entre ela ou a vida que eu levo, mas pow, ela sabe que se eu sair do crime,  pra arrumar emprego vai ficar difícil.- Falou com a voz chorosa. - nem terminei o ensino médio, entrei no crime pra ajudar ela, e agora tá vindo com esses papos tortos. Tô ligado que ela não gosta, vê o filho morrer em qualquer hora é foda, mas ela tá ligada que tudo que nois tem em casa, é eu que tô conquistado no crime.

Chumbinho: os burgueses safados que ela trabalha só humilha ela, tô ligado que ela sofre uns bocados na casa de rico, mas eu não quero sair dessa vida pra acabar passando fome igual uma vez aí.

– Então ela mandou você escolher entre ela e a vida no crime? Bem, eu entendo ela. Se você fosse meu filho, eu não iria gostar de ver meu filho no crime, usando droga, andando com arma, com facilidade de morrer fácil. Ela só não quer perder o filho, ainda mais você é o primogênito dela, o primeiro filho que ela teve, a dor seria maior.

Chumbinho: Tô ligado, mas os bagulhos que ela falou doeu no peito. -Baixou a cabeça, passei a mão na sua cabeça dando um pequeno carinho.-

– Provavelmente foi na emoção , pais tende a falar coisas mesmo sabendo que vai magoar. -Dei um pequeno sorriso. - Quando eu era mais novo, sempre tentei ser o filho perfeito por ser o primeiro, e isso foi até minha adolescência. Mas acho que agora adulto, irei decepcioná-lo.

Chumbinho: pq? -Me olhou curioso.-

– Eu namoro um bandido chumbo, um traficante dono de morro, pode ter certeza que isso é uma decepção para qualquer pai ou mãe. Acha que eles vão ficar felizes? É claro que não, vão ficar decepcionados em saber que seus dois filhos estão se envolvendo com esse tipo de pessoa.

Chumbinho: o tio é de boa, acho que vai entender.

– Não, ele não vai. -Soltei uma risada.- Ele não vai ficar sabendo, a não ser que Henrique vá preso e passe na televisão, ou alguém conte a ele. Meu pai não fica muito no Brasil, ele fica entre Barcelona, Estados Unidos, França e Uruguai. Então, é um pouco difícil ele querer saber quem está de frente de tal favela. -Rolei os olhos.- mas a minha mãe é outra história, ela nasceu no Brasil.

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