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Mentira é seu segundo nome.

Sábado | Rio de Janeiro
Arielly Almeida

Point of view.

Acordei com o pressentimento tão ruim no corpo, que tava quase desistindo de ir encontrar com o meu pai.

— Obrigada. — Agradeci a Karine assim que ela me entregou a água com açúcar.

— Eu achava melhor você não ir. — Ela se escorou na pia e cruzou os braços. — Você não tá bem.

Bebi a água toda e coloquei o copo em cima da mesa, respirei fundo controlando minha respiração e ficando melhor.

— Relaxa, tá dboa. — me levantei. — quando eu chegar, eu conto tudo pra Maju. — falei em relação ao meu pai. — se você contar pra ela agora, ela vai dizer que eu tô excluindo. — falei e ela riu concordando.

— Você só me contou porque eu cheguei aqui de surpresa, se não eu nem estaria sabendo. — ela revirou os olhos. — até o Rw sabe e eu que sou sua melhor amiga, não. — ela fingiu um choro falso e eu encarei ela com as sobrancelhas levantadas.

— Menos. — peguei minha bolsa conferindo se estava tudo. — se querer tomar café fique a vontade, mas já tenho que ir. — olhei no relógio vendo marcar sete da manhã.

— Quero não, vim aqui só deixar a chave mesmo, tô descendo pro salão tenho cliente sete e meia. — concordei e nos duas saímos da minha casa. — sua mãe saiu sem falar nada?

— Aham, tá toda estranha. — tranquei o portão de ferro e descemos a rua juntas. — tenho medo de ser o Carlão que ta fazendo alguma coisa e ela não quer me contar.

— Será amiga? — dei de ombros virando a esquina com ela. — Teco me falou que ele tá amarradão nela, que o Gw não aguenta mais o Carlão chamando ele de sobrinho. — eu ri negando com a cabeça.

— A índole dele não me agrada. — fui sincera. — mas ela é adulta e sabe o que faz. — ela concordou comigo.

— Tchau e boa sorte, quando chegar em casa me conta tudo. — ela me abraçou e eu sorri me apertando nela.

— Tchau e pode deixar. — sorri me afastando e segui descendo a rua. Quando já estava quase saindo, vi meu primo do lado de fora do galpão e fui até ele. — Bom dia, Gw.

— Eai minha gata. — ele me abracou. — vai pra onde uma hora dessa? — ele cruzou os braços me olhando.

— Até de explicaria, mas a história é longa e eu tô com pressa, na volta eu te conto. — ele negou com a cabeça rindo e eu acenei saindo do morro.

Andei até o ponto do ônibus, e quase gritei de felicidade quando o ônibus que eu queria parou e eu não tive que ficar minutos esperando. Passei na catraca e me sentei, coloquei meu fone e encostei minha cabeça na janela, deixando os pensamentos invadirem a minha mente.

Quando me dei conta, eu já estava onde eu tinha marcado com ele, me levantei, dei sinal e quando chegou no ponto, a porta abriu e eu desci. Vi um Civic branco parar na minha frente e arregalei os olhos quando o vidro abaixou.

— Bora? — eu abri o maior sorriso e caminhei até a porta, abri e entrei.

— Oi pai. — ele me abraçou. — esse com certeza é o carro dos sonhos. — olhei em volta, me sentido a pessoa mais chique do universo.

— Bonito né? — concordei e ele começou a dirigir. — todo seu.

Quase coloquei os olhos pra fora quando ele disse isso, fiquei tentando raciocinar se era verdade, ou se eu ainda estava sentada no ônibus imaginando a vida dos sonhos.

— É brincadeira né? — ri nervosa e ele deu risada.

— Foram dez anos ausente na sua vida, um carro como um presente de aniversário adiantado é pouco, minha filha. — senti meus olhos se encherem de água.

— Pai, eu nem sei como te agradecer. — funguei e ele sorriu de lado.

Passamos o caminho todo conversando, quando chegamos fiquei impressionada. A pista era linda, bem ampla e extensa, serpenteando suavemente sobre o topo de um morro. O asfalto negro contrasta com o verde vivo das árvores ao redor, que conforme o vento forte balançava as folhas fazia o maior barulho.

Era surreal a sensação de liberdade que esse lugar proporciona.

— Gostou? — olhei pra ele sorrindo.

— Muito. — fechei a porta do carro. — Olha, eu sei mais o menos esses negócios de marcha e enfim, você vai ter que ter paciência. — olhei pra ele meia em dúvida.

— Ninguém nasce sabendo. — concordei e ele passou por mim jogando a chave no ar me fazendo pegar. Ele entrou no lado do passageiro e eu entrei do lado do motorista.

— Ok, bom. Cinto, banco mais pra frente e retrovisor. — fui fazendo cada coisa que eu mesma falava, pra não me perder. — como que liga?

— Vira a chave primeiro. — fiz exatamente o que ele mandou. — Você vai pisar no freio devagar e em seguida, no acelerador. Depois, soltar o freio de mão. — ele me passou as instruções e eu ja tinha me esquecido completamente de tudo. — Você sabe onde é o freio, né? — seu tom era tão confiante, que cheguei ficar com dó de dizer que não.

— Sei sim. — estiquei meus braços no volante, tirei a mão direita e soltei o freio de mão, soltei o freio e pisei no acelerador fazendo o carro dar uma arrancada pra frente. Meu pai colocou na segunda pra mim e foi me guiando.

— Devagar. — ele riu nervoso vendo eu acelerar na pista e eu dei risada. Diminui a velocidade, e ele foi me explicando diversas coisas, coisas que eu nem sabia que existia. Fiquei dando várias voltas treinando a direção. — Você tá quase lá. — Ele falou descendo do carro e eu sorri animada. — só não pode andar em lugar que tem gente, de resto. — dei risada indo pra frente do carro junto com ele.

— Obrigada, de verdade. Em muito tempo eu não tinha me divertido assim. — fui sincera e ele me puxou para um abraço.

— Não é mais que a minha obrigação. — sorri sentindo ele me apertar. — prometo recompensar o tempo perdido. — se separamos assim que ouvimos o ronco de motores de motos, me virei sentindo o vento bagunçar meus cabelos. — Quem sabia que íamos tá aqui? — ele me perguntou rápido e eu me virei confusa.

— Minha mãe, eu contei pra ela. — fiquei confusa quando ele travou a mandíbula e pegou a chave da minha mão. — o que foi?

— Entra no carro. — ele mandou sério. O porta malas abriu e ele foi até lá, mas antes de pegar o que ele queria, dez motos, pararam na nossa frente, uma do lado da outra, todos os motoqueiros estavam de preto e de capuzes.

E o medo dominou meu corpo, tirei o celular do bolso e digitei um socorro para o Renato, única pessoa que sei que me ajudaria nesse momento.

×××

A decepção vem forte viu amiga.

M.

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