Capítulo 3

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  Alguns raios de sol adentraram o quarto pela fresta da cortina. Nove da manhã, constatei pelo relógio na mesa de cabeceira. Tive a leve sensação de que o casamento era apenas mais um pesadelo, de que eu não havia sido usada como moeda de troca entre um bando de criminosos e, quando levantasse, meu gato estaria protestando ao pé da cama para que eu colocasse ração no pote e eu seguiria minha vida habitual como designer de interiores, sem qualquer outra preocupação. Mas a sensação passou tão rápido quanto um relâmpago: eu estava casada com um dos homens mais perigosos do país, a quem eu mal conhecia, e o pouco que sabia sobre sua reputação não era muito agradável. Estava longe de Martin (o gato) e, principalmente, longe de Seline.

  Encarei a aliança em minha mão, aquela sensação de peso no peito, senti o ar entrando e saindo rápido demais dos pulmões... Não, eu não podia deixar a ansiedade me consumir, eu precisava ser forte. Por Seline, por Seline, por Seline! Repeti a frase algumas vezes enquanto tentava controlar a respiração.

  Vrmmm, vrmmm. O celular vibrou no móvel. Estiquei o braço e peguei o aparelho. Não tinha reparado, mas era um iPhone de última geração, um pouco demais para um celular que só serve para falar com duas pessoas. E que provavelmente era rastreável e tinha uma escuta implantada.

  "Estou chegando, esteja pronta. Erik."

  Só pode ser algum tipo de piada, respirei fundo. Levantei da cama e fui procurar algo para vestir nas malas que mal tive tempo de olhar quando cheguei. Estava exausta demais e só queria encontrar o pijama mais confortável possível.

  O celular vibrou novamente.

  "PS: Odeio atrasos. Erik."

  Um, dois, três. Respire, Yara, res-pi-re. Foquei a atenção na mala. Todas as roupas eram novas. Retirei e analisei uma a uma. Não sei quem a preparou, mas de alguma forma acertou com exatidão meu estilo. Escolhi um dos vestidos de manga preto que ia até um pouco abaixo do joelho, uma meia-calça e o sobretudo mais pesado que encontrei. Não me preocupei muito com maquiagem, passei no rosto apenas o indispensável. Optei pelo cabelo solto e finalizei com um salto. Olhei o resultado no espelho e gostei do que vi. Para quem está prestes a ter um ataque de nervos, até que estou bem.

  Não sabia onde deveria encontrar Erik, mas ao mesmo tempo não queria ficar procurando-o pelo hotel. Então, saí do quarto e dei de cara com Gustav, que estava onde havia prometido na noite passada.

  — O chefe está te esperando, senhora. Já está pronta?

  Merda, estou atrasada.

— Estou, me leve até ele.

  Gustav acenou positivamente e me guiou pelo hotel, que continuava tão vazio quanto na noite anterior. Escutava apenas o barulho do meu salto batendo no chão. Havia um contingente maior de homens ali, todos atentos e bem armados. O chefe estava ali, afinal. Conforme passava, nenhum deles me olhou diretamente nos olhos; baixavam a cabeça em reverência, como se eu fosse uma rainha.

  A mesa do café da manhã estava posta. Havia duas cadeiras, apenas uma vaga. Não olhei para a outra cadeira. Gustav parou à porta. Olhei para ele, eu deveria me sentar? Permanecer em pé? Ele apenas levantou as sobrancelhas e me deu um leve empurrão nas costas, como quem diz: anda, o que você está esperando?

  A porta se fechou atrás de mim. Eu estava sozinha com meu esposo. Em circunstâncias normais, eu não estaria nervosa, mas não eram circunstâncias normais, e eu estava paralisada.

  — Está atrasada.

  Aquela voz grave e áspera atingiu meus ouvidos e um choque percorreu minha espinha. Engoli em seco.

Mafioso MascaradoOnde histórias criam vida. Descubra agora