029.

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De alguma forma, você mexe comigo.

Terça-feira | Rio de Janeiro
Renato Cardoso, RW.

Point of view.

Encostei na cadeira suspirando fundo, não aguentava mais ouvir a voz do Carlão no meu ouvido, dizendo uma pá de bagulho desnecessário.

— Amanhã nóis termina, po. — passo a mão na testa. — quatro horas da manhã já.

— Fodasse, Rw. — ele solta a fumaça pra cima. — vou bater ponto lá amanhã, escolhe dois pra ir comigo. Moro?

— Gw, teu novo sobrinho. — cruzo as mãos sério. — ou tá achando que a notícia não tá se espalhando? — me levanto.

Ele passou a mão na barba e me encarou. — Boa noite, pivete. — sorrio de lado negando com a cabeça e saindo da sala dele.

Único jeito de escapar de mais conversa, é colocando ele em boca de bala.

Montei na moto e rasguei indo pro meu barraco. Corpo tava dolorido pra caralho, rodar esse morro correndo de pau no cu não é pra qualquer um não.

Assim que cheguei, primeira coisa que fiz foi conferir se a Arielly estava bem, e o Matheus me garantiu, que melhor dali, não ficava.

Então, fui pro banheiro e tomei um banho frio, assim que terminei, só vesti uma cueca e cai na cama, capotando e só acordando no outro dia ás oito da manhã já.

Lavei meu rosto e escovei os dentes, abri meu guarda roupa, pegando minha bermuda e meu tênis nike, taquei desodorante e meu malbec, coloquei minhas correntes e meu relógio, ajeitei meu cabelo e peguei uma camiseta preta colocando no ombro.

— Fala tu, tia. — assustei ela que organizava a sala. Dei risada e ela riu em seguida. — bença, Dona Cláudia. — pedi acenando com a mão.

— Deus que lhe abençoe, Rw. — ela sorri. — não se feriu ontem, né?

— Graças á Deus não! — passo por ela indo para a cozinha.

— Notícia sai errada mesmo... — ouço a risada dela e estranho. Coloco o café no copo e pego uma bolacha voltando pra sala.

— Como assim? — dou um gole e ela me olha.

— Teco falou para a Arielly que você estava quase morto. — arregalo os olhos. — e antes de desmentir a brincadeira, a coitada caiu dura no chão. — ela nega com a cabeça.

— É de fuder mesmo. — termino de comer a bolacha. — passar lá no trabalho dela, pra explicar! — bebo o resto da café.

— Não vai encontrar. — arqueio as sobrancelhas. — foi demitida!

Concordo calado dando as costas e colocando o copo na pia. Sai de casa e desci direto pra boca, o pau no cu do Matheus me paga.

Cheguei lá, o viado tava só no pagode.

— Tá vendo aquela lua que brilha lá no céu, se você me pedir eu vou buscar só pra te dar. — ele canta apontando pra mim.

— Aí eu pego e enfio no teu cu. — dou um tapa fraco no ombro dele que faz careta.

— Qual foi? Uma hora dessa. — ele se afasta.

— Que brincadeira ridícula foi aquela tu fez com a menina, Teco? — cruzo meus braços e ele me olha coçando a nuca.

— Achei que ela não ia ter um treco não, po. — justifica. — mas a menina caiu dura, bagulho surreal mermo. — nego com a cabeça. — deu tempo nem concluir a brincadeira. — olho indignado pra ele, pensa num moloque sem noção.

— Cadê o Gw? — pergunto mudando de assunto e ele muda a cara de vítima.

— Foi com o Carlão pra reunião. Só ele só. — concordo e me viro vendo o Jacaré subir a rua e vir até aqui, comprimento o Matheus e em seguida fez o mesmo comigo.

— Iai, Jacaré. — olhei pra ele. — como tá sendo a volta?

— Bom, bom. — ele coçou a barba. — Vidigal muda nunca. Incrível! — concordo. — fala pro ces aqui. — olho pro teco que já tava com os olhos vidrados no Rafael pronto pra ouvir a fofoca. — Carla tá me escondendo uma pá de bagulho, mas a cada esquina que passo ouço essas meninas comentar sobre a Eduarda. Quero saber qual foi das fita que rolou enquanto eu tava fora?

Foi nesse momento que eu queria ainda estar em casa, dormindo ou fazendo qualquer outro bagulho que não seja agendando a surra da Eduarda.

Matheus riu e a direção foi toda pra ele. Cruzei meus braços e escorei no muro.

— Alguma coisa, Teco?

— Ela só dava uns perdidos só, nada demais não po. Coisa de adolescente! — ele conta, e fico até impressionado vendo que ele soube falar sem jogar nada no fogo. — e tava com homem casado que trabalha aqui na boca, mas fora isso ela é tranquila!

Retiro tudo que eu disse.

Quem merece uma surra é esse cuzão.

— Valeu aí, era somente isso mesmo. — ele sai negando com a cabeça e eu dou outro tapa, dessa vez na testa fazendo ele me olhar indignado.

— X9 morre cedo, cai na vala e já era. — aponto pra ele. — esqueceu que a mina é irmã de parceiro teu? Que traição do caralho é essa, Matheus.

Ele ficou desesperado, e eu saí da boca rindo. Nem era nada demais, se o Jacaré não soubesse por boca nossa, saberia por boca de outros e com aumentativo ainda, porque o que o povo não vê, inventa e o que vê, aumenta.

Passei na rua quatorze e orientei os menó novo que tinha começado recentemente, passei as orientações certas, como era o funcionamento das drogas, os carregamentos, e pra quem aqui dentro da favela eles poderiam vender e pra quem não.

Sai de lá olhando pro relógio e vi marcar onze horas já, pensei e repensei se eu iria ou não na Arielly. Não sei o que acontece, mas queria ver ela, saber como essa doida tava.

Quando vi ela no meio da invasão toda, mais perdida que cego em tiroteio, me desesperei só pensando no pior pra ela.

Suspirei decidido e andei até a casa da Dona Vanessa, abri o portão de grade que tava aberto e rodei a casa, parei de frente a janela do quarto e dei três batidas.

Nada.

Mais três batidas.

Nada.

Peguei meu celular no bolso e pesquisei o perfil dela, aproveitei e segui, coisa que eu não tinha feito ainda.

"Quero te ver, abre a janela do teu quarto aqui." Cardosorj_

"Tô indo." Almeidaarielly

×××

Gente, não estou postando de finais de semana pq estou sem capítulos prontos. Mas irei escrever e tentar me organizar mais, para postar todos os dias.

M.

Dentro de você. Onde histórias criam vida. Descubra agora