027

2.9K 200 34
                                    

Nossa alma é uma só.

Segunda-feira | Rio de Janeiro
Arielly Almeida.

Point of view.

Terminei de arrumar as roupas no manequim e quase cavei um buraco dentro da loja quando o Rian passou pela porta.

Tentei ao máximo me ajeitar mas era impossível ficar bonita no calor de quase 60 graus do Rio de Janeiro.

- Rian, que surpresa você por aqui! -Dou um sorriso de lado pra ele.

- É que eu tava precisando falar com você, Ary. - ele diz sério e eu fecho o meu sorriso.

- Pode falar! - gesticulo com as mãos.

- Eu vou ter que viajar hoje, resolver algumas coisas sobre o trabalho! Aí vim me despedir de você. - ele coloca as mãos no bolso da bermuda parecendo sem graça, sem saber o que dizer ou fazer apenas forcei meu melhor sorriso tentando acreditar.

- Ah eu te entendo. - Cruzo os meus braços - te desejo uma boa viagem então!

- obrigada. - Dito isso, ele apenas saiu me deixando totalmente confusa.

Suspirei fundo ajeitando meu cabelo e Me virei dando de cara com a Dona Telma. Engoli em seco assim que vi seu semblante sério.

- Ary, minha querida.- Ela me olha - Precisamos conversar! Assim que acabar o seu expediente, passa na minha sala por favor! - Ela pede.

- Passarei sim - afirmo e ela sai me deixando sozinha.

Suspirei fundo já sentindo a minha pele se arrepiar Só de imaginar o que seria.

Não demorou muito a Maria Júlia voltou do almoço dela e eu fui almoçar, mas quase não comi. A ansiedade só de imaginar o que ela queria comigo atingia todo o meu corpo e mente, já causando uma dor física.

- Tá tudo bem? Tô te sentindo meia aérea. - Maju me olha preocupada.

- Tô mais ou menos, Dona Telma me chamou para conversar e pela cara dela, não era coisa boa. - Choramingo me encostando no balcão.

- Calma amiga às vezes não é nada demais, não sofra com antecedência. - concordo.

- Rian veio aqui hoje. - ela me olha sorrindo. - dar tchau porque vai viajar, hoje. - ela fecha o sorriso confusa. - fiquei do mesmo jeito. - me desencosto do balcão dando a volta e indo pro caixa.

- Assim donada?

- Assim, donada. - suspiro.

Passei o restante da tarde tentando manter a mente ocupada pra não pensar besteira, mesmo sabendo que era quase impossível.

Assim que meu expediente acabou, subi para a sala da Telma, estralando os dedos e pulando dois degraus de escadas. Com o frio percorrendo a minha barriga dei duas batidas na porta e abri pedindo licença.

- Pode se sentar, Ary. - me sentei na cadeira e ela abriu uma gaveta, tirando um envelope e colocando em cima da mesa. - a minha filha mais velha, saiu do trabalho, e ela está desesperada sem conseguir um emprego, está com duas crianças em casa, uma de cinco anos e outra de dois. Mãe solo! Acho que entende.

- compreendo. - mordo o lábio inferior fortemente, sentindo o gosto de sangue.

- Maria Júlia está aqui comigo des do começo, creio que entende a minha escolha de demitir você e não ela. - fundo minhas unhas na palma da mão, sentindo a dor aliviar meu peito e minha respiração.

- Tudo bem, eu entendo! É a vida da sua filha e do seus netos que estão em jogo. - forço um sorriso.

- Esse dinheiro que tem aqui, é três salários mínimos. Certo? - concordo. - se querer conferir aqui, fique a vontade, seu direito!

- Não precisa. - abro minhas mãos limpando na calça leggin e estico meus braços pegando o envelope e colocando na bolsa que estava no meu colo. - Obrigada por tudo, a senhora foi uma excelente patroa. - me levanto vendo ela fazer o mesmo.

- Eu quem agradeço pelo seu empenho, Ary. - sorrio de lado dando as costas e saindo da sala dela totalmente frustrada.

Caminhei pela rua sentindo uma vontade absurda de fumar, mas minha mãe estava em casa, e tô limpa a dias. Então, desci a viela encontrando dois meninos novos.

- Boa noite! - chamo a atenção deles que me encaram. - um cigarro de maconha tá quanto?

- Tá 5. - tirei o trocado do bolso da bolsa e dei na mão dele. - é nois, Dona.

Desci indo pra praça da rua de baixo, caçei um isqueiro e por sorte achei um moscando na bolsa.

Enquanto ascendia o cigarro, pude perceber o estrago que tinha ficado na palma da minha mão e só aí percebi o sangue nas unhas.

- Merda. - suspirei arrependida.

Peguei meu celular na bolsa vendo marcar 6 horas da noite e várias ligações perdidas, mas nem deu tempo de desbloquear o celular a bateria descarregou em seguida me fazendo suspirar e soltar a fumaça pra cima.

Olhei em minha volta, não vendo uma alma penada caminhar pela rua ou sentada em algum banquinho. Me assustei mais ainda quando ouvi o som de fogos ser direcionados ao céu seguido de tiros.

E saquei na hora o que estava rolando, invasão.

Me levantei do banco de uma vez, segurando fortemente a minha bolsa e soltando o cigarro no chão. Corri entrando no primeiro beco que eu vi assim que eu ouvi os tiros cada vez mais perto de mim.

Andei pelo beco devagar saindo em uma rua deserta, enquanto subia ouvi passos e o início de um falatório pelas vielas em frente, então sem escolha nenhuma, desviei meu caminho indo pela lateral de um galpão antigo, rezando pra não passar pelo meio de nenhum tiroteio.

Dois disparos vem da direção onde eu tinha acabado de pisar, fazendo meus pés travarem no mesmo lugar, me impedindo de fazer qualquer coisa.
Sinto o suor do meu corpo pingar frio quando olho para baixo vendo que eu estava pisando em uma possa de sangue.

- Que merda... - sinto meus olhos se encherem de lágrimas e antes de poder decidir o que vou fazer, uma mão agarra a parte da frente do meu corpo e outra tampar a minha boca.

Meu coração parece querer sair pela boca e em um ato de impulso me debato contra os fortes braços que me seguravam, mas era impossível sair quando ele me prendeu ainda mais firme nele, mantendo as minhas costas coladas em seu peito me fazendo querer me matar quando reconheço o cheiro do perfume masculino.

Perfume de homem safado.

- Fica quieta, Ariel. Se tu gritar, vai morrer nós dois - fala baixo no meu ouvido e eu sinto meu estômago embrulhar.

•••

Não se matem.

M.

Dentro de você. Onde histórias criam vida. Descubra agora