CONTO 4
Na manhã da alta, a pequena Hazel decidiu que não se familiarizou com a luz solar e os sutis sons urbanos do lado de fora do hospital e chorou ao primeiro contato com o ar fresco, então sua mãe a empacotou em um bolo de cobertores até que estivessem no estacionamento. Aparentemente, seu primeiro sinal antissocial da personalidade herdada do pai.
Vincent estava ansioso. Carregando as bolsas da maternidade, guiou Margot com o coração tenso, receoso quanto à surpresa que havia preparado. Disse a esposa que planejou lhe dar um presente, e ela, assim que avistou a tal coisa, parou no meio do estacionamento, olhando perplexa para o marido.
— O que é isso?
Vincent subitamente tinha certeza de que estava preocupado com a ideia de desagradá-la, a mulher estava uma pilha de nervos desde que deu a luz. Então tentou sorrir, dizendo:
— É seu. Como forma de agradecimento pelo seu esforço, eu queria muito dar algo a você. Sei que você estava de olho nele há um tempo.Margot olhou para a BMW X7 da cor preta, enfeitada por um gigante laço vermelho. Não demonstrou muita coisa além de uma longa análise por um tempo, deixando o marido ainda mais apreensivo. Talvez tivesse exagerado, talvez tivesse sido fútil. No entanto, após o período de tensão que causou nele ao franzir as sobrancelhas, Margot exalou um riso e sorriu para ele.
— Isso é tão exagerado. Você não precisava.
— Sabia que é costume dos americanos presentear a esposa após dar a luz ao seu filho, minha lady? — Ele ergueu o queixo, imitando o sotaque da esposa com sarcasmo.
Ela revirou os olhos.
— Pensei que você fosse alemão.— Você não gostou?
Margot olhou para ele, e apesar de esconder os sentimentos por trás da máscara parcialmente inexpressiva e afugentar a insegurança nos braços cruzados, ela sabia quando ele estava receoso e chateado. Margot suspirou, aproximou-se e respondeu a sua pergunta com um beijo carinhoso.
— Obrigada. — Sussurrou contra os lábios dele. — Realmente não acho que precisava, mas eu não poderia esperar algo diferente de você, não é? Um marido tão exibido como esse...
Ele sorriu convencido, mas abraçou-a calorosamente, acariciando sua bochecha com o polegar.
— Eu te amo.— Eu sei. — Ela assentiu, acariciou a bochecha da bebê adormecida em seu colo e apreciou o calor tão familiar dos braços do marido. — Também amo você. Obrigada por ser tão bom comigo.
(...)
— Pegue aquela ali também e… Heiko!! Tire o Heiko de perto!
Com urgência, Vincent largou a bolsa que retirava do banco de trás do carro e agarrou o cachorro saltitante, puxando-o para se afastar da esposa.
— Shh — Acariciou o cão até acalmá-lo no pátio de frente à casa. Haviam acabado de chegar. — Não está fazendo uma boa recepção à nova integrante.
Margot consertou o cobertor que cobria a bebê em seu colo. Garantindo que ainda dormia, a entregou a Hacker.
— Apresente a ele. Mas não o deixe chegar muito perto.Vincent se abaixou um pouco, apenas para que o cão pudesse ver a neném numa distância segura.
— Esta é a Hazel, a retiramos da barriga da Margot há dois dias. Não olhe muito, não quero que se apegue, você terá que conviver na casa da minha mãe nos próximos meses já que ela é a prioridade agora, e é um tanto frágil.Margot estalou a língua.
— Que maldade com o bichinho. Não quero deixá-lo de lado.— Ele precisa aceitar a mudança de regras desta casa. Ao menos sou pai de uma humana de verdade agora. Afinal de contas, já era hora de você parar de tratar o cachorro como um filho legítimo.

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O Mar & A Rocha (MI).
Short StoryNesta curta trama procedente da história "Missão Impossível", a vida pós-final da Grande Guerra na nova realidade dos personagens é narrada sob uma perspectiva autêntica e realista em seu modo mais humano, escrita em pequenos contos que relatam as m...