A Borboleta Sai Do Casulo.

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CONTO 3

- Você está suando?

Margot analisou a face do marido, que em reação à pergunta, passou a mão pela testa e se deu conta de uma gota de suor. Ele ergueu a camisa escura e a limpou casualmente.

- Não, o clima só está meio quente aqui dentro.

- Estamos em Londres. Você está nervoso.

- A cozinha normalmente é mais quente que os outros cômodos. Não estou nervoso.

Ela repuxou a boca de lado, se divertindo com a insistência do marido em se contradizer enquanto esforçava-se em manter a compostura. Afinal, não parava de tamborilar os dedos nervosos no balcão de pedra.

- Certo, então já podemos tirar um pedaço do bolo, não é...?

- Espere!

Com a mão, ele a interrompeu em meio ao ato de tentar fincar a taça no bolo. Forçou-a a repousar a taça no balcão novamente e ficou encarando aquela cobertura amarela.

- Por que esperar? - Ela questionou, suspirando aborrecida.

Ele fechou os olhos momentaneamente, massageou a ruga entre as sobrancelhas.
- Não sei, eu só...

- Certo. - Ela se sentou na banqueta, envolveu o quadril dele com as pernas e o puxou para perto. - Do que exatamente está com medo?

A ruga entre as sobrancelhas dele não desaparecia. O homem estava realmente apreensivo.
- Isso vai definir muitas coisas a partir de agora.

- Mas seja lá qual seja o resultado, não vai haver diferença de reação ou sentimento, vai?

- Na verdade, vai sim.

- Por quê?

- Você sabe exatamente o porquê. É uma mulher. Digo com propriedade que eu não me preocuparia tanto com um moleque. A vida é mais fácil para nós.

- A sua não foi.

- Mas a dele vai ser. É por isso que estou aqui.

Ela conteve um sorriso, ele ainda encarava aquele bolo com preocupação. Massageando a nuca dele, Margot deu um beijo reconfortante no canto de sua boca. Pegou a outra taça e o entregou.

- Promete que independente da sua preocupação, ainda ficará feliz?

Vincent a olhou, imediatamente suavizando a apreensão do rosto. Tinha olhos tão genuínos como uma manhã de outono.
- É claro que vou.

Ele já havia aceitado aquela realidade, afinal. Com o passar dos meses, estava aprendendo a se sentir bem, apesar de paranoico, com a expectativa da nova experiência de vida que estava prestes a conhecer.

Juntos, afundaram as taças no bolo.

Estavam nervosos, quase não conseguiam se mover. Levaram um tempo se preparando para puxar as taças de volta, e nelas trazer pedaços do bolo de recheio tingido com uma cor.

Trêmula, ela cobriu a boca com a mão. Olhou para ele, mas Vincent estava congelado a princípio, quase sem piscar. Soltou uma risada nervosa, as sobrancelhas se espremendo em algo que não conseguia verbalizar. Então, deixou que Margot o abraçasse, chorasse e dançasse com ele pela cozinha.

- Parabéns, papai - Ela sussurrou contra seus lábios, agarrados um ao outro com tanta força que ele se preocupava com o corpo dela, mas não era forte o bastante para resistir. - Você vai ter uma menininha!

(...)

- Tem certeza de que vai ficar tudo bem? Argh, eu sinto muito, queria tanto participar...

O Mar & A Rocha (MI). Onde histórias criam vida. Descubra agora