018.

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Não me comove o prato de quem é ruim.

Sábado | Rio de Janeiro
Arielly Almeida.

Point of view.

Vejo a mensagem do Renato, dizendo que já estava no portão, saio do quarto na ponta do pé, vendo minha mãe na cozinha com o som ligado e escutando música enquanto preparava a janta, abri a porta com cuidado e desci as escadinhas, abrindo o portão e dando espaço para ele entrar, tranquei novamente e entrei com cuidado para minha mãe não ver ele aqui, não queria dar explicações de nada, pelo menos não hoje.

Ele passa por mim, analisando toda a minha casa, fecho a porta e olho pra ele, fazendo sinal para ele ficar calado.

Puxo o braço dele e ele me para.

— Não, Arielly eu não vou com você pro seu quarto... — ele fala alto e eu arregalo os olhos puxando ele com tudo pro corredor.

Encaro ele sentindo minha respiração desregulada por conta da aproximadamente dos nossos corpos.

— Me chamou, Ary? — ouço minha mãe gritar e desligar o som. Encaro ele brava e empurro ele pro final do corredor enquanto eu me viro e vou para a cozinha.

— Tava falando sozinha, pode continuar com seu show. — forço um sorriso e ela da de ombros, se virando e ligando novamente me fazendo soltar um suspiro frustrado por mentir.

Volto pro corredor não vendo ele, e quando entro no quarto já fechando a porta vejo ele parado de frente ao mural que eu tinha, com diversas fotos minhas com a minha família e as meninas.

— Renato. — chamo a atenção dele e ele me olha por cima do ombro. — enquanto eu estava lá, ele recebeu uma mensagem. — me encosto na parede do lado da porta, tentando ao máximo cortar contato com ele.

— Que mensagem? — ele se vira pra mim, mostrando total interesse no que eu falava.

— Rw e Teco foi se encontrar com os donos da rocinha, Ph. Fudeu — imito o que estava na mensagem. — somente.

Ele passa a mão no rosto parecendo nervoso.

— Mais alguma coisa?

— Esse mesmo contato ligou pra ele depois, consegui decorar o final do número pra você. — conto. — 4892.

Ele se senta na beirada da cama, colocando os cotovelos no joelho e me olhando preocupado.

— V5 e Ph tão fudidos na minha mão. Me traindo de baixo do meu nariz. — suspiro me sentando na outra ponta da cama. — é muita sacanagem.

— Sinto muito pela traição deles. — digo sincera olhando ele que me olha. — espero que eles pagam por isso, o Pedro principalmente.

— Você sente mágoa dele, não sente? — Faço bico.

— Uhum. — murmuro simples. — Quero que ele pague, por tudo que fez comigo.

— Ele vai, Ariel. — Renato se levanta. — Valeu aí, tô te devendo uma.

— Uma penteadeira e um espelho talvez? — brinco e ele sorri de lado analisando meu quarto.

— Amanhã. — responde simples girando a maçaneta da porta e abrindo.

— Eu to brincando. — digo me levantando. — não quero nada, de verdade. — sou sincera.

Rw só me olha, por um bom tempo, como se tentasse ler a minha alma, mas eu não me sentia desconfortável, era bom ver a forma como ele me olhava, um olhar que em dezenove anos eu nunca recebi.

Ele suspira me dando as costas e saindo, fui atrás vendo ele dar boa noite para a minha mãe e abrir a porta saindo. Indo embora.

— Arielly... — minha mãe nega com a cabeça suspirando.

— Não diz nada, por favor. — peço mordendo o lábio inferior.

Ela fica quieta e eu volto para o quarto, sentindo o cheiro de homem safado.

Me jogo na cama, vendo que a solidão de ser solteira está atacando, me causando coisas que eu não deveria sentir.

(...)

Acordei no domingo com alguém batendo desesperadamente na porta, me levantei no susto, quase indo de arrasta e abri a porta vendo a minha mãe me olhar confusa.

— Chegaram umas coisas pra você. — tento raciocinar e ela da espaço para três rapazes entrar no meu quarto, com coisas na mão.

Me sentei na cama, vendo eles deixar as peças no canto da parede, um deles arrastou a minha penteadeira para o outro canto do quarto, e os outros dois já começaram a montar e quando percebi, era uma penteadeira nova, fiquei completamente assustada e sem reação.

— Pode deixar que arrumo... — única coisa que consigo falar, vendo um deles abrir a minha penteadeira antiga e passar tudo para a nova.

Eles simplesmente me ignoraram, não falaram um a se quer. Quando terminaram, desmontaram a antiga, dois saiu com as peças, já o outro tirou o plástico de um espelho enorme, e com uma certa dificuldade, colocou na parede vazia do quarto.

Assim que acabaram, fecharam a porta e eu fiquei apertando os olhos tentando entender se isso tudo aconteceu ou foi apenas um sonho.

Me levantei indo para o banheiro, lavei o rosto e escovei os dentes, sai do banheiro amarrando meu cabelo e fui para a sala.

— Comprou e não me avisou? — minha mãe me pergunta confusa.

— Rw, arcou com o prejuízo. — respondo me sentando no sofá.

— E porque ele mandou fazer aquilo, Arielly?

Engulo seco, encarando ela.

— Ele pediu ajuda pra tentar tirar algo do Pedro, e eu neguei. — conto. — mas já está tudo resolvido, fique tranquila!

— Você é maluca, garota? — ela me olha brava. — ficar se envolvendo mais uma vez com traficante, Arielly. Qual é o futuro que você pensa em ter? Um corte de graça e vários chifres?

— Mãe... — me levanto. — eu sei o que eu fiz, mas já acabou. Foi apenas um favor, nunca iria me envolver com alguém como o Rw.

Senti o frio na barriga, e ela apenas me encarou seria, passou por mim e saiu. Peguei meu celular e fui no Instagram, indo agradecer.

"Obrigada, não precisava de nada. Mas que Deus te abençoe! 🙏🏼"  Almeidaarielly

Na verdade, ele mandou quebrar, então meio que estava na obrigação dele, sim! De pagar o prejuízo, mas eu não cobraria, porque disse pra mim mesma que queria distância dele. Mas parece que tudo que eu juro, eu contradizo depois, fazendo tudo ao contrário.

"Amém, Ariel 🙏🏼" Cardosorj_

•••

"nunca iria me envolver com alguém como o Rw."
Confia.

M.

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