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Meu passado me sufoca.

Sábado | Rio de Janeiro
Arielly Almeida.

Point of view.

Acordo sentindo uma dor no corpo e na cabeça, abro os olhos devagar me acostumando com a claridade do quarto. Me sento na cama, processando tudo que aconteceu ontem, deis do momento em que eu saí de casa e o momento em que eu cheguei.

— Merda. — murmuro me enfiando em  baixo da coberta novamente relembrando as vergonhas que eu passei na noite passada. O vômito no banheiro, eu indo em uma boca de fumo comprar maconha e pra finalizar, eu desabafando com um completo desconhecido que eu espero nunca mais ver na minha vida.

Pego meu celular vendo marcar dez e meia da manhã, suspiro me levantando vendo que eu tinha dormido pra caralho.

Arrumo o ninho que eu chamo de cama e vou para o banheiro, tomando um banho e lavando meu cabelo que fedia a álcool, provavelmente pelo whisky que o ouvinte desconhecido derrubou, sim eu vou chamar ele dessa forma. Aproveito e escovo meus dentes em baixo do chuveiro mesmo, e assim que termino, visto uma roupa.

Saio do quarto vendo minha mãe na cozinha preparando o almoço.

— Dormiu em Arielly, que isso... — é a primeira coisa que ela fala assim que me vê.

— Mãe, se eu começar a lembrar de tanta vergonha alheia, eu volto a dormir. — comento me sentando na mesa e colocando café no copo americano.

— Qual foi da vez? — ela coloca o pano de prato no ombro e cruza os braços me olhando.

— Peguei o Pedro tranzando com uma menina no banheiro, e ainda me chamou para participar. — faço cara de nojo ao lembrar da pouca vergonha, cara, existe lugares mais adequados do que banheiro de festa lotada. — e acabei vomitando na frente dos dois e acabando com o sexo deles.

— Arrasou. — ela sorri e eu reviro os olhos. — esse cara é um idiota, Arielly. E se eu ver você respirando o mesmo ar que ele, te mato viva.

— Até porque não tem como matar quem tá morto, né Dona Vanessa. — respondo óbvio. — e depois, desabafei com um estranho sobre a minha vida amorosa. — faço bico.

— Era bonito?

— Sinceramente? Não reparei. — termino de beber o café puro.

— Filha... Que mulher é você?

— A que respeita o pós termino mesmo depois de tudo. — Minto na cara de pau pagando de indiferente e ela prende o riso. — ou, a que estava muito fora de si e com o rosto molhado de lágrimas. Então, não me lembro do rosto dele.

— Menos mal, evita constrangimento caso você encontre. — concordo me levantando. — faz um favor pra mim. Vai buscar as roupas lá na costureira, o dinheiro tá lá em cima da estante. — apenas concordo indo para a sala, pegando o dinheiro e saindo de casa vendo o sol rachar.

Meus pais se divorciaram quando eu tinha dez anos, e após a separação, eu e minha mãe se mudamos para cá, para o Vidigal, local onde a irmã dela, Tia Carla, mora. E onde as duas foram criadas pelos meus avós que já não estão mais entre nós.

Cresci aqui, aí conheci a Karine e a Maria Júlia, que moram na rua de cima, íamos para a escola juntas e para todo lugar, amizade foi fortalecendo. E estamos até hoje, graças a Deus.

Viro a esquina vendo a Eduarda saindo de casa toda produzida. Achei até estranho não ter encontrado com ela no Baile ontem, garota não perde nenhum e olha que a mãe é mo bravona, Guilherme então? Nem se fala. A sorte dela, que o pai tá preso, se não ela já tava toda roxa.

— Tá indo pra onde? — acelero o passo acompanhado ela que se asusta. — Tá devendo, Eduarda?

— Não enche. — ela joga o cabelo de lado. — Tô indo para a quadra, tá tendo churrasco lá, vai colar não?

— Tava nem sabendo de nada. — respondo e ela para se virando pra mim. — qual foi?

— Tô bonita? — ela da uma volta.

— Da pra pegar no escuro. — brinco e sinto ela acertar um tapa fraco no meu braço. — tô brincando, menina. — passo a mão no lugar. — Você tá linda! — elogio fazendo ela sorrir.

— Tô indo lá, Ary. Beijão. — ela diz já saindo e eu sigo meu caminho para a casa da costureira que era pertinho.

Bato palmas e ela sai me recebendo, mas nem demoro, só entrego o dinheiro e ela me entrega as roupas. Assim que saio da rua dela, dou uma espiada vendo o movimento que tava tendo na quadra, aproveitei e tirei uma foto e mandei no grupo para as meninas perguntando se elas ia.

"Mais tarde nois vai lá, as duas ce fica pronta que eu passo aí, e nem pense em falar não, ce deu o maior perdido ontem." Áudio Karine.

"Vou nem falar quem deu o perdido maior saindo com aquele moreninho". Mensagem Maria Júlia.

Elas me respondem na hora, me fazendo dar risada. E respondo elas enquanto caminho até casa, e assim que chego. Entrego as roupas para minha mãe e vou para o quarto.

Coloco a minha playlist mais hetero top do mundo e começo a secar meu cabelo, vendo ele todo alinhadinho e todo bonitinho e sinto minha autoestima lá em cima já. Faço uma maquiagem bem simples e assim que acabo saio indo almoçar.

Já dei uma adiantada em mim, porque depois do almoço, fica a cozinha toda pra mim organizar. Aí já viu, se deixar pra depois, só atraso.

— Vai sair?

— Descer pra quadra mais tarde com as meninas, tudo bem? — pergunto fazendo a minha serra no prato.

— Claro, tem que aproveitar. — sorrio de lado olhando pra ela. — mostrar pra aquele infeliz o que ele perdeu, mas sem passar vergonha, por favor.

•••

Dona Vanessa tem todo o meu coração.

M.

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