E chorar lá vai mudar alguma coisa, Rayane? Do que adianta? A única coisa que você provou para si mesma e para os outros é que ninguém pode contar com você em um momento de aflição.
Mas não dá para segurar as lágrimas, não dá para não se sentir frustrada após tudo. Não dá para ficar perto das meninas mesmo quando vem tão atenciosamente me trazer um monte de pizzas e bater papo. Eu sei que sua intenção é boa, mas mais do que a dor nos meus joelhos esfolados, dói infinitamente mais aqui dentro porque a verdade é dura e afiada demais para ser ignorada: eu não mereço os meus amigos.
Na verdade, eu não mereço ninguém. Nem meu filho, nem meus pais, nem meu namorado que está há horas enfurnado no banheiro do meu quarto fazendo sabe-se lá o que, esquecido do seu pedaço de pizza agora já frio.
Eu não os mereço porque não tenho capacidade alguma de prover nada a eles. Em momentos de aflição eu sou a primeira a cair. Eu sou o elo mais fraco desta corrente e permanecer por perto só os coloca em perigo.
E agora o que eu vou fazer com tudo isso?
Meu peito dói, minhas mãos ainda estão um pouco trêmulas e meus olhos ardem. Tento segurar o choro, os soluços, a tristeza e a lembrança dos riscos que corremos hoje à noite e de como o Kookie estava disposto a dar a sua vida por mim.
Eu nunca me perdoaria se alguma coisa de mal acontecesse a ele por minha causa. Na verdade, eu já não me perdoo por tê-lo colocado em uma situação tão perigosa. Vê-lo chorar feito uma criança desamparada é algo que eu nunca vou me esquecer.
Isso e o fato de que é visível no rosto das minhas amigas que elas se culpam por tudo o que aconteceu. Não era para o nosso passeio ter terminado desse jeito. Agora, por minha culpa, estão todos tensos e desanimados. Não é algo que vamos esquecer tão cedo, por mais que as meninas tenham vindo aqui todas animadas, se esforçando para encontrar assuntos divertidos para compartilhar comigo, ainda assim o sorriso que vi em seus rostos não escondia o quanto ainda estavam aflitas.
Foi como naquela noite...
Eu juro que não queria ser assim, atraindo toda essa maré de azar para cima de mim e dos outros, não queria estragar a festa de aniversário da Mari e seu único momento a sós com o Hobi. Era para ser um passeio perfeito! Era para todos estarem sorrindo ao redor de uma fogueira enquanto assavam marshmallows.
Escondo meu rosto entre os meus joelhos e desabo pesarosa. Cada vez que coisas assim acontecem, eu não consigo levantar. Por que isso acontece comigo?
Eu não queria ser assim.
Eu não queria ter que travar uma maldita batalha todo santo dia para ter que me manter de pé, mas hoje... eu caí e não consigo levantar. Não sozinha.
Sinto a cama rebaixar-se um pouco atrás de mim e então me lembro que não estou sozinha neste quarto. Sinto o Jin aproximar-se de mim, ainda de toalha e me puxar pela cintura, carinhosamente.
—Não chore, princesa. Eu estou aqui.
Esse jeitinho meigo que ele tem de tentar me tranquilizar só me faz querer chorar ainda mais. Seus dedos vão até as minhas bochechas molhadas e tenta em vão enxuga-las. Ao perceber que aquela é uma missão impossível, ele apenas respira fundo e senta-se ao meu lado.
—Eu sei que você vai dizer que não, mas ainda assim eu vou perguntar: você quer conversar? -ele pergunta calmamente. —Não precisa falar nada se não quiser, também. Mas saiba que eu te amo muito e não importa o que você estiver matutando nesta cabecinha ainda assim eu vou querer ouvir.
Eu não o encaro porque obviamente ainda estou mortificada de tanta vergonha por ele ter me encontrado naquela situação tão deplorável. Meus indicadores passeiam pelos curativos improvisados que a Mari fez nos meus joelhos e seus olhos se volvem nessa direção.
Wait for me
Bắt đầu từ đầu
