Indomável (Romance Gay)

Capítulo 7 - Adeus, Primavera

Manhãs de domingo geralmente são entediantes quando não estamos dormindo, mas quando se tem obrigações, começamos a repensar se vale tão a pena assim reclamar.

Eu nunca tinha entrado em uma igreja antes, pelo menos não que eu me lembre. Entretanto, agora sei que não estava perdendo absolutamente nada. Os bancos são extremamente desconfortáveis, o reverendo fala muito alto, e... meio que Deus não existe.

-Amém!-Digo, em coro, junto as outras pessoas que aqui estão. Já tô até pegando o jeito.

Bom, não passei por muita coisa nos últimos dias. Eu sequer saí do quarto, e acho até que estou começando a enlouquecer por conta disso. Eu tinha um olho roxo, um nariz inchado e muito ódio.
Na fatídica noite, eu cheguei quase desacordado em casa. Tudo que lembro do trajeto são flashes. Mas consigo me lembrar com clareza do Colt sem camisa no carro, a qual ele me entregou para estancar o sangramento... disso eu me lembro.
Quando acordei, já estava na cama do "meu" quarto, dei de cara com a Judy. "Não se preocupe, querido. Eu já fui enfermeira há muito tempo atrás... não está quebrado." isso meio que me tranquilizou. Eu não sentia dor nenhuma, acho que o mijo do capeta que eu bebi serviu como anestésico. "Não deixa o vovô saber disso" falei, segurando uma gaze encharcada de sangue no nariz. Judy pensou um pouco e então assentiu. Mas eu já sabia que ele iria descobrir. Aquele velhinho tem a incrível habilidade de farejar problemas.

Olhei para a porta do quarto e vi Colt de braços cruzados, encostado nesta.
E então, eu voltei a deitar, pois a minha cabeça estava pesando uma tonelada.

Consegui cobrir o roxo no meu olho com corretivo na manhã seguinte e desci para o café da manhã. Com uma dor de cabeça fodida e depois de vomitar aquele veneno.
Até que não estava tão ruim pra quem sangrou pelo nariz quase a noite toda. Se eu me visse, não diria que isso aconteceu.
Quando sentei à mesa, o bendito do vovô olhou pra minha cara e disse "Espero que tenha batido mais do que apanhado".

Como se todo o sofrimento que tenho passado não fosse o suficiente, recebi uma péssima notícia hoje de manhã. Eu teria que ir a igreja e participar do festival de fim de primavera que acontece logo em seguida representando o vovô pelo simples fato dele não estar se sentindo muito bem. E claro, ser uma das figuras mais importantes dessa cidadezinha fodida exige a participação nesse tipo de evento. Talvez esse seja o castigo designado por ele pelo que aconteceu na quinta.
Eu sequer tenho roupa adequada pra ir pra uma igreja no lugar mais conservador do mundo, mas não estava em posição de questionar. Poderia ser bem pior.
O vovô assinou um cheque no valor de dez mil e me entregou para dar na hora da doação, ressaltando que o seria pra a obra da igreja. Me perguntei por que igrejas sempre estão em reforma, mas a parte mais chocante para mim nisso tudo foi cheques ainda existirem.

Quando entrei no carro, sentando no banco do fundo, como sempre, Colt esperava por mim. Fez-se silêncio durante dez segundos, e então ele perguntou, sem ao menos virar para mim "tá melhor?" lembrei que não o vejo desde aquela noite. Percebi que podia me ver pelo retrovisor e por isso assenti.

-E vamos pedir a Deus que olhe pelo nosso querido companheiro Sr. Hansbridge, que não pôde estar presente nesta manhã por conta da sua saúde.-Diz o reverendo, prestes a encerrar o culto. Tento me esconder atrás de alguém sentado na minha frente pois já imagino o que vem por aí.-O seu neto, Holden, que se mudou recentemente para a cidade está representando-o! Vamos todos dar as boas vindas e fazê-lo sentir a presença do senhor no seu novo lar.

"O caralho" penso, forçando um sorriso de um segundo enquanto todo mundo olha pra mim. Desejo sumir. Eu sei muito bem que o que esse cara quer mesmo é algo que está dobrado dentro do meu bolso.

Após encerrar o culto pela décima vez, todos começam a levantar-se. Cumprimento uma dúzia de senhorinhas que vão surgindo no meu caminho e me perguntando sobre o vovô. A atenção que recebo me deixa levemente desconfortável, pois acabo de me dar conta de que isso foi o mais próximo de ter fãs que eu já tive.