Capítulo 15 | Março de 2021

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— É o Yago, não lembra? — ela disse, já dentro do carro. — Ele frequentou a igreja no final do ano passado.

— Ah! — Ed exclamou. Sim, conhecia mesmo o rapaz. — Há quanto tempo não o vejo. Está diferente.

Yago era filho de um irmão da igreja, mas morava na capital de São Paulo, com os avós. Passara um tempo do final do último ano em Laguinhos com o pai. Ed não o reconheceu por conta dos cabelos agora longos.

— Pois é — Camila concordou, apenas.

Ela parecia bem irritada, por isso Ed lhe deu alguns minutos para se recompor antes que tentasse desviar a atenção dela para outro assunto.

— Finalmente vai dormir lá em casa, não? — começou. Já estavam diante da casa dos avós de Richard, onde pegariam Maria.

— Eu queria ir antes, mas, como a Faní dormiu lá em casa um tempo atrás, meus pais acharam melhor aguardar para obedecer melhor ao princípio bíblico.

Ed pensou um pouco.

— Não ir tanto à casa do seu irmão porque ele pode se cansar de você?⁹

— Isso. São princípios que parecem tão bobos e inocentes que nós tendemos a ignorá-los. Daqui para desobedecer um “grande” mandamento — fez o sinal das aspas com uma mão — é dois pulos. As consequências estão aí para provar que todos os mínimos mandamentos devem ser seguidos.

Ed ficou em silêncio, surpreso em como foi confrontado por um simples discurso. Rapidamente, algumas imagens de seus dias passados cruzaram a sua mente. Viu a si mesmo na sala de estar de Gardênia, ouvindo Mary tocar harpa diariamente. Será que estava rompendo os limites estabelecidos pela Bíblia com aquelas visitas?

Lembrou-se também de outros “pequenos” erros: quando ficaram sozinhos na ida e na volta de sua própria casa, no dia em que ela fora ver se Faní estava bem, e quando conversou com alguém que não era uma autoridade espiritual — nesse caso, Faní — sobre os erros de Mary em relação à honra aos seus pais. Era preferível que tivesse falado com o próprio pai a respeito desse último assunto, mas não, por sentir-se inseguro demais com seus intentos para tal coisa, conversou com Faní. E, se investigasse bem, podia lembrar-se das respostas monossilábicas da prima, as quais poderiam demonstrar certo desconforto dela com a situação.
Céus! Quantos pequenos deslizes cometeu sem perceber naquelas últimas semanas?

Ed foi sugado por suas reflexões de forma tão intensa que não percebeu Richard o cumprimentando, nem Maria e Mary adentrando o carro. Camila havia passado para trás a fim de dar espaço à irmã do motorista, mas quem se sentara ali fora a estrangeira, por indicação da própria Maria. Foi o perfume conhecido que despertou o rapaz para olhar para o lado. Ao ver a moça participante de seus pensamentos materializando-se à sua frente, Ed franziu as sobrancelhas.

— Mary?

— Oláaaaaaa! — ela cumprimentou, feliz.

Ed olhou para trás, desconcertado, e encontrou a irmã. Mary ria da situação.

— Decidi fazer uma noite das meninas, chamei a Mary para ir com a gente — Maria explicou, então.

— Mas eu a vi essa manhã — Ed falou com a estrangeira, ainda muito confuso.

— Não contei de propósito — Mary disse e simulou uma expressão de tristeza no rosto. — Não está feliz em me ver, Ed?

O rapaz, então, se adiantou para garantir que não era o caso, ele só tinha se surpreendido porque... bem, porque não imaginava que Maria e Faní haviam combinado uma noite das meninas.

Lago de Algodão | releitura de Mansfield Park, de Jane Austenحيث تعيش القصص. اكتشف الآن