— Mamãe!!!

***

Abri a porta do meu guarda-roupas de duas portas branco, procurando algo para vestir. Passei a mão entre os vestidos, suspirando frustrada, ao me dar conta que não tinha roupa. Bem, eu tinha roupa. E muito roupa, diga-se de passagem. Contudo, meu armário era 8 ou 80. Sería roupa de escritório ou vestidos de domingo à noite. Cocei a cabeça, pensando que talvez e só talvez, mamãe estivesse certa. Eu não saía, por isso nunca me preocupei com isso. Não que eu fosse sair, na verdade estava esperando uma visita inusitada. 

Eu queria ter pegado o número de telefone do Giulio, e não me leve a mal, seria só para ligar para ele e desfazer esse mal entendido entre nós dois. Porém, o cara tomou chá de sumiço depois da noite que nos deu carona. Não que eu estivesse com saudades, ou coisa assim, meu Deus do céu! Talvez eu tenha adiantado toda a demanda do mês e feito mais entregas de processos em todos os andares da Martinelli Corporation, do que fiz em um mês. Talvez, eu tenha parado no 37° andar, sem querer, pois estava distraída, pensando na vida. Ou talvez, eu tenha dado uma espiada nas janelas de vidro do coco bambu na hora do almoço, enquanto dava uma esticada nas pernas. Mas tudo isso era só o meu lado sensato, tentando “esbarrar” com Giulio por aí e perguntar por que raios ele foi aceitar um convite de almoço na minha casa e se realmente ele iria. 

“Será que ele vem mesmo?” era a pergunta que ecoava na minha cabeça, enquanto mordiscava a ponta da unha e dava mais uma olhada no meu guarda-roupa. 

— Elô tá namorando! Elô tá namorando! Elô tá namorando! — ouvi ecoar pela casa em tom zombeteiro.

— Ai, para, Elaza! Menina impertinente, Deus é pai… 

— Mulher! Você tá assim ainda? — inquiriu Elaza, do batente da porta — seu namorado chega a qualquer momento e você aí panguando? — revirei os olhos.

— Já disse que ele não é meu namorado! — ela se aproximou, analisando as peças do armário. Balançou a cabeça em negativa,enquanto estalava a língua.

— Você só tem roupa de irmã do coque? — zombou, com um sorriso de escárnio. Cruzei os braços e arqueei uma sobrancelha. Convenhamos, eu não tinha o que dizer. Ela estava certa. — vem cá, vou arrumar uma roupa pra você. 

Elaza me puxou pela mão para o quarto dela e me apresentou seu guarda-roupa, com peças compradas com o pequeno salário de menor aprendiz. O rosto concentrado em escolher a melhor peça para a ocasião, me fez sorrir de sua atitude. Todo mundo na casa parecia empenhado em me desencalhar, inclusive a mamãe na cozinha, preparando um prato que perfumava a casa inteira. 

— Isso não vai dar em mim, Elaza! — argui, aturdida com o macaquinho vermelho com bolinhas brancas que Elaza me estendeu. 

— Claro que dá, você não é tão gorda assim! — retorquiu em tom jocoso. Dei um leve empurrão em seu ombro, rindo de sua brincadeira sem graça, mas acabei tomando o macaquinho nas mãos. 

— Só prova, Elô ele é soltinho e não é curto.

— Sei… 

***

— É ele! — Sobressaltei-me com o som da campanhia, levantando de supetão da cadeira em frente a penteadeira — meu Deus, é ele… — eu havia passado cinquenta batons diferentes e limpado a boca com demaquilante. “Ele vai achar que eu produzi, para ele. Mas também não posso receber uma visita desleixada, não é mesmo?” Por fim, decidi passar um dedinho de balm labial. Ajeitei os cachos e analisei meu reflexo no espelho. O macaquinho de Elaza ficou perfeito em mim, fresquinho, agradável e soltinho para o calor que estava fazendo. Novamente a campainha toca, insistente. — JÁ VAAAAAI! — berrei, atravessando a sala em direção ao portão. — mas quanta impertinência, ele não pode esperar?

Se não marchar, não tem cortejo (Romance Cristão)Where stories live. Discover now