Capítulo 8

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O brilho da janela quebrava a escuridão que residia no quarto, virei-me para o lado para tentar ver as horas, achava eu que por muito que tivesse bebido não fosse acordar tão tarde, mas ao que parece estava completamente errada, batiam 11:54 da manhã e eu ainda na cama.

-O que será feito daquelas duas, será que ainda estão aqui ou foram embora sem me avisar ou sequer acordar-me já que ontem foi a minha última noite com elas por um bom tempo talvez?- balbuciei eu ainda a tentar acordar e me por em pê, a ressaca estava a pesar e só estava com vontade de meter a cabeça na sanita e esperar que tudo saísse mas ainda assim aguentei-me em pé respirei fundo três ou quatro vezes tomei um golo de água da garrafa que estava do lado da mesinha de cabeceira, pergunto-me se estava choca ou não, mas não foi grande problema para mim pois qualquer coisa no momento calhava bem para molhar a garganta, parecia que tinha comido areia, os lábios estavam secos e a boca não produzia saliva então no momento foi o que tinha à mão.

Sai do quarto ainda a tenta abrir os olhos por causa da claridade, não tinha fechado as portadas de casa na noite anterior para não fazer barulho e acorda-las, olhei em volta e sem sinal de qualquer uma das duas, fiquei um pouco desiludida por terem ido embora sem avisar, mas acredito que foi por uma boa razão.

Cheguei perto do balcão da cozinha para fazer o almoço, claramente iria dar um "skip" ao pequeno almoço já que era quase meio dia, foi ai que notei um bilhete roxo espalmado na mesa da sala, tentei me relembrar se tinha sido eu ou alguma delas na noite anterior que colou lá para fazer algum jogo, mas a minha mente ainda estava um pouco distorcida então fui ver o que poderia ser.

-Querida Cath, fomos embora ainda cedo para não te acordar, desculpa se achaste isso rude da nossa parte mas só estávamos a zelar pela tua saúde mental, aposto que não dormias assim à um bom tempo não é, por muito que gostássemos de ficar cada uma teve assuntos a fazer e tu terás os teus por isso vamos te deixar, não sozinha claro, mas para que possas fazer as coisas que necessitas a tempo de partires para Portugal e te aventurares por lá. Não te esqueças de nós linda e traz uma lembrancinha para as tuas amiguinhas ;) Amamos-te imenso Cath, boa sorte na tua vida e estaremos sempre aqui para ti - enquanto lia caiu uma lágrima de felicidade por saber que por muito que tenha passado o que passei e a forma que entreguei a mensagem para elas as duas nunca me deixaram de lado e nunca cansaram de me apoiar, por isso mesmo que tenho orgulho de puder proclama-las de melhores amigas.

-Vou sentir saudades vossas- disse abraçando o bilhete e metendo o mesmo pendurado na porta do frigorífico para fazer parte do cantinho das lembranças, uns tem caixas outros quadros e eu, eu tenho a porta do frigorífico, quem nunca não é mesmo.

O voo estava marcado para terça de manhã então tinha rigorosamente pouco tempo para completar tudo o que tinha a fazer na minha lista de tarefas, mas ainda assim meti mãos a obra e comecei a completar os meus afazeres e um deles era claro, nada mais nada menos que, me despedir daquela empresa chata, sem vida e aborrecida.

Peguei as chaves de casa e sai para a rua com uma cara mais fresca mesmo sabendo que tinha bebido muito na noite anterior, mas como ninguém iria saber, fingi ser uma pessoa completamente limpa de espirito e totalmente sem amostras algumas de que me tinha embebedado.

Caminhei até ao Deluxe News e entrei porta a dentro como se tudo fosse meu, como se sentisse que não teria mais nada contra mim no mundo, o sentimento de liberdade após o livre despedimento  da minha parte fez com que a minha mente flutua-se acima das nuvens, o peso aterrador de tudo o que passei dentro daquelas quatro paredes e dúzias de andares saiu de mim, tudo parecia estar a meu favor naquele momento, consegui finalmente ter uma independência sobre mim mesma, tudo o que sempre queria naquele momento era simplesmente andar pelas ruas a saltitar e berrar ao mundo que toda a gente iria conhecer mais futuramente a próxima melhor jornalista de sempre com o nome de Catherine Woods.

No caminho para casa após o surto de felicidade, olhava mais tranquilamente tudo à minha volta, como se fosse a ultima vez que fosse meter os pés na cidade, mas ao mesmo tempo a pensar como seria as cidades em Portugal, se seriam tão bonitas ou até mais que esta, tinha visto algumas imagens na internet de certos sítios considerados atrações turísticas mas claro que o sentimento não era o mesmo, esses pensamentos invadiam a minha cabeça por completo o que me fazia esquecer completamente o que tinha a minha volta fazendo-me embarrar várias vezes nas pessoas, nos semáforos ou nos postes de eletricidade que encontrava pelo caminho parecendo que só me interrompiam a caminhada pela mente, era tudo tão sinistro duma forma boa, que nem mesmo eu conseguia chegar a um consenso com o meu sub consciente para saber o que realmente se passava comigo.

Olhei a minha lista de tarefas, a roupa estava arrumada, a eletricidade cortada, os boletins de pagamento no lixo mas claro que tinha pago tudo a horas e algumas até com adiantamento e aviso prévio de que sairia do país. Tudo parecia estar conforme o planeado então olhei para o frigorifico e observei o bilhete deixado por Katty e Michelle que me fez mentalizar-me de que seria capaz e de que não podia desiludir ninguém já que tudo estava preparado.

Calcei as botas, vesti o casaco tranquei a porta de casa e dava um ronda por completo para ver se estava tudo bem fechado, acontece que por muitas vezes achava que estava tudo pronto mas sempre deixava algo que me fazia voltar para trás para conferir de novo, enquanto a ronda era feita o taxi aparecera à frente de casa dando uma buzinadela de aviso de chegada.

Arrepie-me ao ouvir aquele som, foi esse mesmo barulho que me fez olhar para trás e dizer não tenho volta a dar, agora é seguir em frente e chegar aos meus sonhos.

Fechei a porta do carro e o motorista carismático arrancou estrada fora em direção ao Aeroporto Internacional de Newark.

A minha carreira finalmente tinha começado a ter pés, cabia-me a mim continuar a dar uma forma corporal para que mais para a frente se consiga ver nela o mesmo reflexo que a minha pessoa, a minha forma abstrata e pura.




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⏰ Last updated: Mar 27 ⏰

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