Capítulo 36

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—— Não entendo você —— Zara falou frustrada com o seu amigo que estava sentado ao lado dos seus três filhos sonolentos.

—— Tu sabias desde o começo que tipo de homem estavas te envolvendo. Desculpa, amigo, mas eu apoio totalmente o Lorenzo e teria ajudado se estivesse lá —— O homem negro olhou para o anel dourado com uma certo remorso pela maneira que tratou  Lorenzo.

—— Eu amo o pai dos meus filhos mas não posso parar de me sentir culpado sempre que machuca alguém por minha causa, não quero que seja preso ou pior perdê-lo. Não sei o que fazer, Zara —— Declarou limpando as lágrimas que insistiam em desaguar.

Zara sentou-se para carregar a pequena Francesca nos braços, a curiosidade estampada no seu rosto enquanto encarava a mulher negra e ela sorriu encantada com tamanha beldade.

—— O Lorenzo pode não ser um santo mas ele foi a melhor coisa que te aconteceu —— Henrique tocou o rosto redondo da sua filha que mostrou as gengivas num sorriso angelical que derreteu o seu coração.

—— Você não é o mesmo homem que se matava a trabalhar para fugir da solidão, não comia para se encaixar num padrão “perfeito”, e se isolova sempre que precisava falar. Pode não ser muito mas entrar no seu quarto e não encontrar mais aquelas coisas horríveis no seu espelho significa muito para mim.

Podes conseguir não enxergar mas você mudou, o seu olhar transmite a autoestima que sempre quis ver nos seus olhos, o seu ser transborda a alegria e vida que sempre não podeste viver.

E você realizou o seu sonho de encontrar alguém que te ama, te respeita, faz você se sentir especial sempre que olha para ti e tens uma família linda —— Concluiu com um sorriso fraco.

—— Sabias? —— Zara assentiu voltando a colocar a bebê junto dos seus irmãos que dormiam tranquilos.

Henrique soltou um suspiro longo, sentiu como se tivesse tirado um grande peso sobre os seus ombros. A mulher negra de cabelo branco abraçou o amigo quando este desabou em lágrimas.

—— Vivemos sob o mesmo teto por anos, é claro que eu saberia, sua anta —— Comentou fazendo Henrique rir.

—— Se não te atormentasse quem mais faria? —— Respondeu se separando do abraço da sua melhor amiga gargalhou junto de sua amiga. Os dois conversaram por um bom tempo até chegar a hora de Zara voltar para casa.

—— O patrão deve estar com os amigos na certa então não se preocupe que ele volta —— Disse Maria ao ver Henrique andando de um lado para o outro.

O homem negro olhou para o relógio na parede que indicava ser as nove da noite e o moreno havia saído de manhã, desde então não deu nenhum sinal de vida ou o seu sogro apareceu então ele só podia estar num lugar.

—— Podes cuidar dos bebés até eu voltar? —— A mulher branca dos seus quase quarenta anos assentiu levemente sem incomodo algum, ela gostava de cuidar das crianças e Lorenzo pagava bem então não tinha o que reclamar.

—— Sem problemas, senhor —— Maria disse acenado a Henrique que fez menção de pegar a chave do carro porém alguém o impediu.

—— Eu o levo, senhor —— Henrique revirou os olhos quando o homem disse, essa era uma das coisas que não gostava quando ficava na casa do noivo, tinha pessoas para fazer absolutamente tudo e menos nada, as vezes era frustrante.

—— Vamos ao Paradiso —— O caminho para o Paradiso foi aflorante, ligava para o moreno que não estava atendendo às suas chamadas ou mesmo respondia as mensagens, aquilo somente preocupou o homem negro.

Henrique sentiu uma certa nostalgia quando chegou ao interior do lugar agitado, as luzes avermelhadas iluminando o espaço confinado, as pessoas bebendo, dançando, conversando e outras se beijando o lembrou do primeiro dia que conheceu Lorenzo.

O mais velho franziu a testa quando encontrou o namorado sentado no mesmo sítio onde o tinha visto na primeira vez, ao seu lado estava Marco com uma mulher sentada no seu colo enquanto ambos bebiam.

Lorenzo tinha as pernas abertas enquanto bebia e observava o movimento do seu lugar, totalmente entorpecido pela vontade de estar com Henrique naquela hora.

Ele queria voltar para casa ou mesmo poder atender as ligações de Henrique mas as suas palavras ainda mexiam com o seu orgulho.

Porque Henrique insistiam em trazer o fantasma do Ezequiel átona nas suas vidas? Pensou que tivesse feito um favor ao matar desgraçado, pelo menos não era o que parecia.

A reacção do homem negro fez questionar se Henrique realmente tinha sentimentos por ele.

—— Enzo, acho que devias sair daqui, agora —— Marco falou quando percebeu a presença do noivo do sobrinho vindo em sua direcção porém o Lorenzo decidiu ignora-lo.

—— Porque não atende o telefone? —— Lorenzo respirou fundo antes de erguer a sua grande altura e encarar os olhos castanhos como uma expressão que enviou arrepios pelo corpo todo de Henrique.

—— Eu fiz o que você pediu e dei um tempinho para você lamentar a morte do seu querido Ezequiel —— Disse o homem moreno ressentido. Henrique segurou a mão do noivo o guiando para o escritório de Lorenzo, não queria discutir no meio de tanta gente.

—— Do que você está falando? —— O mais velho perguntou cruzando os braços em total confusão diante a atitude do seu homem.

—— Eu não suportei ver o que aquele desgraçado fez com você, vezes e vezes sem conta. Amo você, amo tanto que dói quando defendes o filho da puta que te fez tanto mal —— Lorenzo disse segurando os ombros de Henrique que sentiu a sua garganta se fechando.

—— Tu ao menos sentes o mesmo que eu, Henrique? Olha nos meus olhos e fala que não sentes nada por ele —— Henrique sentiu o coração apertado ao notar os olhos marejados do mais novo que levou as mãos ao rosto avermelhado.

—— Eu amo você e somente você, Lorenzo, acredita em mim —— O moreno afastou-se do mais quando com um sorriso fraco incrédulo nas palavras do noivo.

—— Eu sempre fui da polícia, não é tão simples eu aceitar o que você faz, mas estou aqui. Larguei o meu emprego, a minha vida, para poder ficar contigo e ainda me apavora saber que a qualquer momento alguma coisa pode acontecer a você, não quero ficar sozinho de novo. Eu te amo demais para te perder, Enzo —— Lorenzo suspirou profundamente quando percebeu as mãos trémulas de Henrique.

Henrique apertou as mãos que tremiam em tentativa de se acalmar, ele não queria perder o único homem que havia ensinado que valia a pena se entregar novamente e não ficar preso ao passado.

—— Não me importo com ele! Eu só quero viver com você e os nossos filhos —— O moreno segurou as mãos do namorado e deixou um beijo na sua testa e o abraçando.

—— Desculpa, eu estava sendo paranóico por achar que te importavas com ele —— Lorenzo falou tomando os lábios carnudos num beijo suave.

—— Eu também te amo —— O italiano disse apertando o homem negro que escondeu o rosto no peito do Rossi.

Henrique ergueu o rosto para iniciar um beijo. Lorenzo apertou a sua cintura aproveitando os lábios carnudos macios que tanto amava mordiscar e chupar.

O mais velho envolveu os ombros do noivo que o carregou até a mesa do escritório intensificando o beijo. O moreno grunhiu satisfeito quando o mais alto chupou a sua língua enquanto puxava os fios negros da sua nuca.

Ofegante, Lorenzo parou o beijo e enterrou as mãos ásperas sob a camisa do noivo deixando um calor por onde passavam.

—— Tive saudades disso —— Os olhos castanhos antes cheio de triste agora brilhavam de luxúria e o desejo impregnado neles agradou bastante o Lorenzo.

Pecados Do Coração Where stories live. Discover now