Carolina

Esquecimento.

Dia 20

Cair no esquecimento.

Tenho medo de cair no esquecimento.

Tenho medo de ser esquecida pelo vento, pelos mares, pelas flores, cores, amores.

Tenho horror de se esquecerem de mim, de ser jogada numa gaveta escura, prendida numa armadura de lembrança.

Apagada.

Eu gostaria de ser lembrada.

Como alguém que viveu de verdade, sabe?

Alguém que aproveita a vida sem medo, alguém que ama e que chora, eu quero ser lembrada como alguém inteiro, alguém que faz parte da natureza que um dia vai habitar todos os nossos corpos.

Que algum dia vai habitar todos os lugares, mares, planetas, estrelas, todos os cheiros das flores, as correntes dos rios, como alguém que se funde com o ar e talvez se torne um arco-íris.

Eu gostaria de ser lembrada como alguém que não deixaria este mundo mas que vivesse em cada pedaço dele.

Nas mais bonitas das memórias, nos mais belos prazeres simples da vida, nas ruas iluminadas, nas risadas de alguém amado. Naquela folha seca que cai no chão no outono.

Quero ser lembrada por Carolina, só Lina. A Lina poetisa de alma doce e que as vezes se embola com as próprias palavras.

Que outrora ri com o vento, dança com a chuva e entende pouco de tudo. A artista que vê beleza em algum chão riscado, que faz escultura mal desenvolvida e rabiscos de desenhos nenhum pouco convencionais.

A musicista que (por ironia) não sabe tocar nenhum instrumento.

a Atriz que tem medo de falar em público.

Quero ser lembrada por quem sou, de verdade.

Não quero cair no esquecimento.

Não quero que me lembrem por ser aquela lá que tinha cabelo pintado.

Ou aquela outra que andava engraçado.

Tudo isso faz parte de um todo de mim que quer ser lembrado pro inteiro.

Eu quero ser lembrada como alguém inteiro e não metades, pedaços vazios, memórias pequenas.

a Lina.

Eu quero ser lembrada, e você?

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