The Goddess and the Devil

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— Não subestime seu alvo. — o tal Degel corrigiu com ar de sabedoria.

Abri e fechei as mãos com dificuldade para atenuar o formigamento e identifiquei que o lugar no qual estava cativa se assemelhava a um armazém abandonado com uma única lâmpada, sobre mim, que iluminava um raio minúsculo. Das janelas mais longe diminutas partículas de poeira que voavam para luz e, de acordo com a coloração e a temperatura, julguei ser início da tarde.

Pisquei algumas vezes para adaptar melhor as saturações de tonalidade que confundiam minha mente enquanto ainda assimilava a situação.

— Eu conheço essa cara de valentão. — disse com o timbre tremido. — Posso garantir que não estou feliz em te ver.

— Engraçado usar esse tom quando está em óbvia desvantagem. — o ruivo retrucou. — Acha que virá alguém te salvar?

Munida de todo empenho que reuni, arremeti um chute no estômago do meu raptor com o máximo de força que detinha, obrigando-o a recuar sem fôlego e com uma expressão colérica.

— Sua... — Degel entrou no meio para impedi-lo de revidar.

— Eu avisei.

— Vai a merda. — ele vociferou se afastando pra fumar um cigarro.

— Quanto a você — o homem com semblante apático e cabelo escuro me fitou fixamente. — Se comporte. Não é por termos trazido você viva que necessariamente precisa ser inteira.

— Olha só, vejo que a cobrinha acordou. — Foquei mais uma vez minha visão, piscando tantas vezes que era como se tivesse um irritante cisco no olho. A expressão felina e persuasiva de Cordélia fora a primeira coisa que pude ver, depois de muito tentar.

— Eu devia ter dado um jeito em você na primeira vez que te vi — rosnei enraivecida. — Onde estou?

— Você não precisa saber de qualquer modo — expôs friamente.

Ficou um tenso silêncio no ar. Mas não havia nada a ser dito entre nós. Respirando calmamente, concentrei-me na corda e na tentativa de me libertar. O roçar dela ficou sutilmente mais maleável e suportável também, isso me deu ânimo para afrouxá-las.

— Você cumpriu bem sua parte, Cordélia. — o ruivo exaltou.

— Agora eu só quero meu dinheiro, o que farão com ela não é problema meu.

— É, mas para evitar que isso saía daqui — o cara sacou uma pistola e deu um tiro na perna dela que emitiu o grito de agonia mais pavoroso que escutei. — Não tenho nada contra você, mas sabe... Negócios, não é?

— Você só me contratou pra ser...

— Um disfarce? Certamente. — ele sorriu maquiavélico. — Degel, não vamos mais perder tempo.

Fiz o que estava ao meu alcance para não ser notada na furtiva escapada.

 Houve outro disparo, este perfurando o abdômen. Ela respirou arfante. Eu, apesar de não gostar dela, senti muita pena. Os olhos dela refletiam medo, suas mãos tremiam para estancava o sangue que jorrava da barriga e de sua coxa.

— Você já cumpriu sua missão e não é mais necessária. — murmurou insensível. Ele era muito pior do que eu pensava. — Faça o favor de sumir.

Segurei a respiração e encarei aterrorizada a cena e consequentemente os olhos predatórios e repugnantes que me encaravam. A força propulsora para me dar poder suficiente, que usasse para obter a liberdade fora ver que ele ainda faria outro disparo dessa vez, fatal. Rompi a corda e, humanamente sagaz, coloquei-me entre ruivo estranho e Cordélia. Vendo pela minha perspectiva, não sabia ao certo se valeria a pena salvar Cordélia, mas existia uma poderosa vontade incontrolável de protegê-la que nem eu mesma compreendi. Era algo que brotava do mais profundo e íntimo da minha alma, que nem a raiva ou qualquer outro sentimento negativo pudesse suprir. E, embora não entendesse, nada e nem ninguém ousaria encostar um dedo sequer nela. Nunca permitiria. Posicionei-me, pronta para atacar — sem arma. Na hora não me passou pela cabeça que estava tão indefesa quanto Cordélia — porém em questão de melhores condições para enfrentá-lo comparado a ela com toda certeza estava.

Next DimensionWhere stories live. Discover now