Prólogo

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     Entrei na grande mansão estilo neoclássico escoltada por homens altos, vestidos com ternos pretos e armados até os dentes. "Apenas uma conversa casual", disse meu pai na ligação. Eu deveria ter ignorado, como em todas as outras vezes. Faz quase cinco anos que não converso com meu pai pessoalmente; abdiquei de todo e qualquer contato. E não é como se ele ou qualquer um dentro do seu círculo se importasse—nunca fui um exemplo a ser seguido. Eu estava gostando da vida que levava nos últimos anos após ir embora, mas algo no jeito que aqueles homens me escoltaram até a sala de reuniões me fazia pensar que logo tudo mudaria, e não seria para melhor.

     Parei em frente a uma porta de mogno. Os seguranças, ou melhor, capangas do meu pai, falavam algo em seus pontos de comunicação, algo como "O filhote chegou ao ninho". Mais um daqueles códigos ridículos de segurança. Uma conversa casual, sei. Instantes depois, a porta se abriu e eu vi, depois de anos, aquela grande mesa cheia de homens de meia-idade com seus olhares carrancudos, O Conselho do Distrito Central. Sem perceber, fiquei mais ereta, sentindo minha coluna enrijecer. Prendi o ar por alguns segundos e então finalmente encarei meu pai.

     Seus olhos escuros me encaravam. Fazia tanto tempo desde a última vez que nos vimos, mas ele não era muito sentimental.

— Estou aqui, pai. — Tentei manter meu olhar nele.

     Joseph Rogulski não havia mudado muito desde a última vez que o vi. Talvez estivesse um pouco mais grisalho e com os pés de galinha mais acentuados no canto dos olhos. Mas seu olhar frio continuava ali, sua mandíbula sempre retesada e aquela cara carrancuda. Nada ao seu redor realmente mudou, todo o conselho continua o mesmo, velho e antiquado, para dizer o mínimo. Todos me encaravam com a mesma carranca.

     — Não tenho todo tempo do mundo, Joseph.

     — Sente-se. — Ele gesticulou com o queixo para a cadeira no extremo oposto de onde estava na mesa. — Precisamos conversar.

     — Pensei que teríamos um encontro casual em um café, não esperava encontrar toda a corja do Distrito Central...

     Joseph apertou a parte de cima do nariz. Vi alguns homens fazerem uma careta pior do que a que já sustentavam quando entrei.

     — Yara, controle sua língua. Eu ainda sou seu pai.

     — Obrigada por me lembrar disso. — Respondi novamente. Nos últimos anos ele não pareceu se importar muito com o título. — Tem cinco minutos.

     Escutei murmúrios por toda mesa, olhares de desprezo e raiva.

     — O chefe tem certeza de que ela é a melhor opção para isso? — Escutei um homem careca de meia-idade cochichar para outro homem, menos careca, ao seu lado.

     Joseph pigarreou, e todos ficaram novamente em silêncio para que ele pudesse continuar.

     — Se bem te conheço, não deve estar acompanhando o que acontece no nosso mundo. — Ele começou.

     E estava certo. Eu não estava. Ignorei solenemente todos os e-mails e cartas destinadas a mim nos últimos anos para eventos do distrito. Eu não queria me envolver com aquilo. Ainda não quero.

     — Nossa diplomacia com as facções do noroeste está cada vez mais estreita e delicada. Perdemos muitos territórios nos últimos anos, e a última eleição foi um fracasso.

     Uma máfia não era uma máfia se não tivesse políticos envolvidos na jogada. Há anos meu pai mantinha bons contatos dentro do governo, ministros corruptos que se aliavam às famílias para terem proteção e apoio político. Patético. Como não dei sinal de resposta, ele continuou.

     — O antigo ministro que estava sob nossa influência perdeu a eleição. Sofremos muito com essa perda. Já o Distrito Noroeste está ganhando cada vez mais espaço dentro dos gabinetes do governo. Eles também estão fazendo avanços territoriais e...

     — Desculpa, pai, mas não estou com tempo para entender sobre o cenário geopolítico da criminalidade. — Fiz menção de me levantar, mas senti duas mãos fortes me empurrando novamente na cadeira.

     — Você irá escutar. — Seu tom de voz agora era um trovão. — Além de todo esse problema da perda de grande parte do nosso apoio político, também ocorreram mudanças na ordem de sucessão dos Romanov.

     Os Romanov, a família mais poderosa do país, os mais crueis, os líderes do Distrito Noroeste. Apenas a menção daquele nome me causava calafrios. Ainda tentava decifrar o motivo de eu precisar saber de tudo aquilo. Conferi o relógio no meu pulso.

     — Você tem dois minutos. — Disse.

     — Erik Romanov, o Mascarado, é o novo chefe dos Romanov. Não sabemos há quanto tempo ele está no poder, mas temos ideia de como ele gosta de tratar seus inimigos. Nossa situação está realmente muito complicada, mas ele se mostra um pouco mais aberto ao diálogo do que o falecido pai. Ele acredita que podemos resolver toda essa situação.

     Soltei uma risada e um suspiro.

     — Que bom.

     Meu pai me encarou com a cabeça um pouco inclinada, o queixo apoiado nas mãos, me avaliando.

     — Você sabe que é minha filha mais velha. Sabe que um dia seus deveres irão bater na porta.

     Não, essa conversa não!

     — Achei que você tinha se esquecido disso. Não que eu me importe, é claro.

     — Fizemos um acordo com o Noroeste. — Ele me ignorou. — Um casamento.

Merda.

     — Então essa conversa toda é para dizer que eu terei uma madrasta? Vai se casar com alguma prima desse tal Erik? Meus parabéns, pai. Fico feliz, mas não precisava me trazer aqui para dizer isso. Poderia me mandar por e-mail. — Olhei novamente o relógio. — Um minuto.

     — Será o seu casamento, Yara. Você está noiva de Erik Romanov.

     Soltei uma gargalhada, mas claramente não era de felicidade. Era uma gargalhada de desespero.

     — Isso só pode ser algum tipo de piada!

     — Não, não é. — Joseph me encarava com certa rigidez agora. — Não torne as coisas mais complicadas...

     — Nenhum desses outros velhos têm filhos para sair doando como noiva? Por que eu?

     — Precisava ser você, um voto de confiança.

     — Pois eu não aceito. — Fiz menção de me levantar, mas senti novamente o empurrão na cadeira. — MAS QUE DROGA!

     — Você deve aceitar, Yara. Deve aceitar ou todos nós sofreremos as consequências de mais um derramamento de sangue.

     Ele estava falando da Grande Guerra, há quase 35 anos. Quando as grandes famílias ainda não dominavam os distritos, uma grande guerra civil eclodiu por todo o país. Eram os criminosos contra criminosos e eles juntos contra a polícia. Foi uma chacina.

     — Não quer que sua irmã sofra as consequências disso, quer?

     — O que disse? — Dessa vez eu me desvencilhei das mãos que me seguravam na cadeira e espalmei na mesa.

     — Se não quer cumprir seu papel para com esse conselho, se não honra o sobrenome que carrega, faça isso pela sua irmã, pelo menos. Caso não aceite, a retaliação será por todos os lados. Lembre-se que a segurança da sua irmã está em jogo.

     Como ele ousava colocar Seline naquela situação? Senti meu estômago revirar e a palma da minha mão ficar fria e úmida. Eu sabia, sempre soube, que um dia teria que encarar esse problema. Poderia simplesmente desafiar meu pai, poderia simplesmente fugir e deixar que toda aquela corja se explodisse, mas não poderia deixar Seline, minha melhor amiga, minha irmãzinha.

     Eu iria me casar com Erik Romanov. 


PRIMEIRO CAPÍTULO DISPONÍVEL EM: 29/06

Espero vocês aqui!

Mafioso MascaradoOnde histórias criam vida. Descubra agora