Coffee

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Elizabeth


23 de Agosto de 2009

Eu estava na mesma, o que no meu caso era na merda.

Parece que quanto mais o tempo passava, mais entediante minha existência ficava.

Nunca tive ninguém fixo em minha vida, cresci sob os afáveis e responsáveis cuidados da família Hazard, porém com apenas cinco anos descobri que fui adotada, isso um ano depois que meus "pais" morreram como reféns em um assalto a mão armada em um shopping.

Fui jogada em um orfanato qualquer – de novo – e nunca mais fui adotada. Quando finalmente eu era dona do meu próprio nariz, pude sair daquele lugar onde todos me olhavam com pena, o que me causava um sentimento de horror completo. Achei que nunca mais conseguiria pisar ou sequer olhar em direção a qualquer orfanato. Meu purgatório, com toda certeza.

De segunda à sexta, todas as manhãs, eu era garçonete em uma cafeteria chamada "You Are. You eat." E aos meus vinte anos, morava em um apartamento com um amigo.

Estava limpando o balcão com um pano de forma descontraída. Minha mente ia longe... Até que, de repente, o primeiro cliente entrou, sendo anunciado por um sino na porta.

Este me fascinou desde o primeiro instante. Ele entrou, trazendo consigo uma rajada arrepiante de ar frio e todo o encanto que eu podia ter com alguém, não tinha como negar a sua beleza.

Vestia uma roupa social e passava um ar de extrema elegância e superioridade, porém com nenhum traço sequer de arrogância. Seus passos pareciam meticulosamente calculados. E o olhar... Encontrei-me mergulhada naquele mar verde, sentia-me cada vez mais afundando e...

— Senhorita? Está tudo bem?

Não percebi que o pano escorregara de minhas mãos suadas e que eu estava olhando, na verdade, encarando, aquele homem... Este que me fitava com o cenho franzido e um semblante preocupado. Corei violentamente e, socando- me mentalmente, percebi que o cara estava esperando que eu indicasse uma mesa para ele se sentar.

Porém, como minha sorte era extremamente grande, não consegui dar dois passos sem que escorregasse no pano caído no chão.

Droga, droga, droga! Bem minha cara ser estabanada na frente dele. Oh meu Deus, quando eu teria um pouco mais de coordenação motora?

Preparei-me para a queda dolorida, que eu sabia que seria logo, e fechei os olhos esperando pela dor... Que não veio!

Ao contrário do que esperava, mãos fortes seguraram o meu braço. Abri os olhos de súbito e deparei-me com pedrinhas verdes olhando-me fixamente. Se antes eu já estava vermelha, agora devia ter ficado roxa, porque ele arregalou os olhos e passou os dedos longos e macios pela minha bochecha, esperando que a estranha cor sumisse.

— Tem certeza que está bem, senhorita? — Ele perguntou com as sobrancelhas arqueadas.

Apenas acenei positivamente, pois não estava conseguindo processar meus pensamentos direito com aqueles lábios tentadores perto de mim... Se ao menos houvesse...

Tentei afastar esses pensamentos luxuriosos da cabeça e soltei-me – contra minha vontade, tenho que ser sincera.

— Estou ótima. — lancei-lhe um sorriso tímido.

Ele sorriu e sentou-se na mesa que indiquei, ainda meio desastrada deixei o cardápio a sua frente e percebi de esgueira que ele olhava o relógio.

— Obrigado. — Agradeceu com sua voz grossa e gentil.

Afastei-me e fui cuidar das coisas pendentes no caixa da cafeteria.

Céu Noturno (Finalizada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora