1. Onde Você Está Agora?

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O brilho escasso serpenteando sobre a superfície áspera do papel vermelho era um dos únicos resquícios da luz prepotente insistindo em trespassar a folhagem densa das árvores

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O brilho escasso serpenteando sobre a superfície áspera do papel vermelho era um dos únicos resquícios da luz prepotente insistindo em trespassar a folhagem densa das árvores. Sob a copa delas, uma brisa refrescante se escondia conjuntamente à umidade dos raios solares e temperaturas fervilhantes do verão. A sensação continuaria sendo a mesma até que as próximas nuvens de tempestade se acumulassem e cobrissem por completo a área do acampamento.

Junho não poderia ser cálido e vivido como pregavam os costumes sem o evento anual de escoteiros. Sem os cadáveres das folhas em decomposição amaciando o solo em que pisávamos conforme executávamos as provas. Sem o peso das mochilas, o leve desconforto dos trajes, do elástico mantendo os chapéus presos em nossos queixos... e outro detalhe do qual acabei me esquecendo.

Foi há oito anos, de qualquer modo. Mas as memórias daquele dia residiriam eternamente nisso.

O sexto mês era carregado de uma sensação nostálgica e periódica. Algo como um sonho que pode ser acessado durante o sono repetidas vezes.

Havia um jeito. E eu o formulei.

Bastava depositar a atenção nas informações que o ambiente transmitia ao corpo, por meio dos sentidos. Assim, tudo que um dia fora captado pelos olhos e a mente armazenou retornaria. Se houvessem temporadas firmes de chuvas e de calor, eu poderia viver novamente aquela boa época quando bem entendesse.

Ou quando precisasse me sentir verdadeiramente intimidado pelo par de olhos negros e profundos encarando a real essência de minha alma.

E no exato momento, eu me lembrei de uma frase popular, cuja fonte era incerta.

Se você olhar demais para o abismo, ele te olha de volta.

Porém, o escuro das íris como café forte acolheram-me. Aquela ternura partilhada aparentava ser algo novo mesmo para aquela garotinha.

Era impossível isentar o meu interior da sensação de estar exposto diante dela. Senti-me seguro depois de muito tempo para mostrá-la o que nunca foi compartilhado com ninguém.

A música, as letras e Nova Iorque.

Uma hora eu teria de abandonar as boas lembranças dessa época para dar lugar a novas.

O verão jamais deixaria de existir. Mas com o passar do tempo, as memórias ficariam escassas.

Iria desaparecer.

Tudo iria acabar e desaparecer.

— O que você sorteou? — perguntou ela, trazendo-me de volta ao passado. O chapéu de cor amêndoa tombando para o lado

Guardei o bilhete no bolso. A garota acompanhou o movimento da mão até a bermuda.

— É contra as regras dizer, não é? — Passei minha mão sob seu queixo e ajeitei o elástico. — Está frouxo. A próxima competição será na floresta. Não pode entrar lá desse jeito.

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