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Noura Pierce

O julgamento: Alegações finais

A primeira prisão que vi foi no porão da casa da minha família. Meu pai havia transformado o nosso lar em um inferno, com uma cela onde ele guardava as meninas que havia roubado, onde ele as torturava. Até que elas não tivessem mais utilidade, então elas ficariam naquela masmorra, morrendo de fome no escuro, até que ele acabasse com a vida delas.

Ele as enterrou sob o jardim da minha mãe.

Quando perguntei por que, como ele poderia fazer isso, como poderia fazer isso com minha mãe. Uma mulher morta não se importa e nem nós devemos, foi sua resposta.

A primeira garota encontrei por acidente. O aniversário da morte de minha mãe significou tristeza. Eu queria alegrar suas flores, alimentando sua vida através do jardim. Meu pai ficou indignado quando lhe mostrei o corpo em decomposição... foi assim que eu soube. Não era a resposta racional que uma pessoa, um policial, deveria ter quando descobre um cadáver em seu quintal. E então me lembro do brilho reluzente da chave. Aquela maldita chave que sempre ficava pendurada em seu pescoço.

Foi tudo correndo junto, um choque de elementos ao redor de minha vida que eu nunca observei muito de perto, mas que de repente desmascarou um quadro muito feio e malévolo. O porão.

Minha mente saltou de detalhe em detalhe, juntando conexões, e entendi porque fui banida de seu santuário particular. De repente, soube o que se passava lá embaixo. Durante três meses, eu escutei. No silêncio da noite, rastejei pela casa, plantei meu ouvido na porta, com medo de ouvir o que minha mente não me permitia acreditar. O mais leve grito rasgou a porta e agarrou minha alma. Havia outra garota lá embaixo.

Fecho os olhos agora, só por um momento para me concentrar. O ar está abafado e úmido nesta parte do tribunal enquanto o oficial me conduz às celas, para onde Harry está sendo mantido sob forte guarda e vigilância.

— Por favor, verifique sua bolsa e quaisquer pertences pessoais, — o oficial instrui, colocando um recipiente de plástico próximo. — Então, caminhe até lá.

Descarrego meus itens e, em seguida, passo pelo detector de metais. Fui liberada e instruída a seguir um pequeno corredor até a última cela à direita. Ando por todo o corredor em direção a Harry da mesma maneira que desci aqueles degraus anos atrás. Meu coração apertado. Meu pulso disparando.

Não tenho acesso a ele, só posso falar através das grades. O mesmo ferro frio que encheu o porão de meu pai está nos impedindo agora.

— Você não estava lá hoje. — Enfio as mãos nos bolsos da jaqueta.

— Não. — Isso é uma mentira. Fiquei parada do lado de fora das portas do tribunal, com minhas costas pressionadas contra o tijolo enquanto ouvia o desenrolar do julgamento.

Mas Harry já sabe que sou uma mentirosa. Ele me encara do outro lado da cela, com aqueles olhos vigilantes descobrindo a verdade.

— Meu advogado acha que posso vencer a pena de morte.

Respiro fundo. — Você está realmente com medo de morrer? — O canto de sua boca se levanta.

— Será que todo mundo não tem medo da morte?

— Isso não é uma resposta.

— Não estou mais no seu consultório, doutora.

Fico em silêncio e espero que ele fale. Essa discussão deve ser rápida, pois nosso tempo está se esgotando. Mas há uma estranha calma nos cercando.

The Huntsman | H.SWhere stories live. Discover now