03

386 39 121
                                    

Noura Pierce

Psicopatia

Uma tela em branco me encara, desafiando-me a apertar o Play. Perco esse desafio e aperto o botão para reproduzir.

A imagem de uma sala de metal enferrujada ganha vida. Um zumbido baixo preenche meus ouvidos. Eu clico no volume mais alto, então paro quando alguém entra.

Um homem alto com uma barriga saliente e um terno cinza desgrenhado. Sua gravata está puxada para longe de seu pescoço, como se ele estivesse puxando. Seu cabelo loiro uma bagunça, como se tivesse sofrido o mesmo tratamento duro que sua gravata. Ele está apressado enquanto procura algo na sala mal iluminada. Suas mãos apalpam as paredes manchadas, procurando incansavelmente conforme uma série de maldições silenciosas caem de sua boca. Cobre cada centímetro da sala, e quando cai de joelhos, agarrando seu cabelo, é quando eu vejo.

Descendo de cima, apenas no canto da tela, estão os cabos. Quatro cabos pretos grossos. No final de cada, uma algema. Um grande arnês repousa entre as algemas pendentes. Uma voz soa pela sala. A voz dele.

— Brandon Harvey. Você tem a chance de se libertar da prisão que criou. Você é culpado por molestar crianças. Embora tenha vencido o sistema e seja um homem livre aos olhos da lei, agora é hora de pagar por seus pecados. Os olhos da justiça não são cegos.

— Vá se foder! — o homem grita.

— Prenda-se no arnês. Em seguida, algeme seus pulsos e tornozelos nas algemas.

Harry sai da sala e, enquanto o homem grita obscenidades, um barulho alto zumbe no sistema de alto-falantes. Um a um, painéis ao longo das paredes se viram. As faces das crianças surgem – crianças pequenas – em um efeito dominó cobrem a sala. Ai, meu Deus. Tropeço para trás, encontrando desajeitadamente meu assento, minhas pernas incapazes de sustentar meu peso.

— Os rostos de suas vítimas serão o seu lembrete, — diz Harry. — Esta é sua única chance de se redimir. Escolha. Redenção ou morte.

Tento imaginar o homem em meu consultório de apenas algumas horas atrás como a pessoa escondida atrás da câmera. O homem que estive examinando não parece abrigar tendências sádicas, mas a prova diante de mim é inegável. Harry é um sádico. Além disso, ele é um expert em trapaças. Antes de me envolver demais, pego meu diário e anoto minhas observações.

Um barulho alto recupera minha atenção e sou forçada a assistir, não consigo desviar o olhar da tela. O homem de terno obedece às instruções, xingando o tempo todo em que se algema nos arreios e nos punhos. Quando está efetivamente contido, os cabos se esticam, levantando-o do chão. O ruído oco que ouvi antes é revelado quando o chão embaixo dele se move para o lado para expor um painel aberto. Um banquinho sobe para dentro da sala. Não é apenas um banquinho... Estreito os olhos enquanto tento discernir o assento em forma de pirâmide, e a compreensão surge. Alguma lembrança distante da aula de história ressurge para me dar o nome do dispositivo de tortura.

— Um berço de Judas. — eu suspiro. Um dispositivo de tortura medieval fora de contexto neste cenário ergue-se abaixo do homem que se debate, com sua ponta pontiaguda apontada diretamente entre suas pernas abertas. Já sei o que está prestes a acontecer, mas mesmo quando percebo isso, não consigo deixar de observar. Conforme os cabos descem, o homem é esticado e abaixado, seus membros puxados em todos os ângulos.

Sua luta é inútil enquanto lentamente cai na pirâmide de metal. Seus gritos se transformam em gritos de dor quando a ponta pontiaguda do dispositivo de tortura faz contato com seu anus.

— Passe neste teste, — diz Harry
— e estará livre para ir. Você terá sofrido a mesma dor excruciante que forçou suas vítimas. Como você, eles foram amarrados contra sua vontade, incapazes de lutar. Tudo que precisa fazer é durar doze horas, uma hora para cada uma de suas vítimas. Aguente e será resgatado.

The Huntsman | H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora