Capítulo I - Ligados por Sangue / Parte 9: James Morris

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Fiz o que podia ser feito no cômodo em que tornara-me o carrasco de meu querido John. O cheiro fétido da morte estava encoberto agora por uma fragrância de lavanda, o que não combinava muito com aquele lugar. Tirei minha camiseta frente à cama, deixando minha medalha à mostra. No centro de seu círculo cor de ouro havia a imagem de um lagarto muito bem trabalhado em tom preto , sua calda ascendia até a borda da medalha, misturando-se a ela; era a coisa mais preciosa do mundo pra mim. Passei a mão sobre o adereço, o que sempre fazia-me sentir aéreo.

Uma lágrima correu pelo meu rosto e eu não me importei em afastá-la com a mão. As lágrimas não te deixarão esquecer, dizia sempre a voz. Eu não poderia esquecer; não deixaria a lembrança dela afastar-se. Nunca.

Desci minha calça e joguei-me na cama, decidido a encerrar a noite naquele momento. Com o trabalho que tive para tentar eliminar o asco daquele cômodo, decidi que não mais faria as coisas daquela forma. Havia maneiras mais simples e depois do que havia feito, estava preparado. Cobri-me com o cobertor verde-musgo que estendia-se sobre a cama. Teria fumado outro cigarro antes de dormir, mas o maço estava longe e não me senti inclinado a levantar para buscá-lo. Tateei o lado da cama, apanhando algumas cartelas de comprimidos e peguei alguns - sem muita certeza sobre quais estes eram -, engolindo-os um por um. A sede veio, mas esta podia esperar o outro dia.

Ao encostar a cabeça na almofada que usava de travesseiro, caí em um sono profundo. Involuntariamente, minha mão seguiu para o adorno em meu peito; o toque fez-me sorrir.

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